O Brasil acaba de cumprir, com sucesso, o compromisso que assumiu ao decidir deslocar de hemisfério um dos mais importantes eventos científicos do mundo: realizar um Fórum Mundial de Ciência de fato global, com espaço para o debate de questões básicas de desenvolvimento humano e social.
A sexta edição do evento, que até a quinta acontecia bienalmente em Budapeste, na Hungria, terminou nessa quarta-feira, dia 27, sob uma chuva de aplausos e elogios.
Gretchen Kalonji, diretora geral adjunta de ciências naturais da Unesco, uma das instituições parcerias do Fórum, destacou o caráter catalisador do evento, que mobilizou, por meio de sete encontros preparatórios regionais realizados ao longo do último ano, diferentes atores em diversas partes do Brasil, resultando no documento Ciência para o desenvolvimento sustentável global: contribuição do Brasil. “Fiquei muito impressionada com o nível nacional de dedicação e criatividade na construção desta conferência”, disse Gretchen, na mesa de encerramento do Fórum.
Entre os muitos tópicos abordados durante os quatro dias de evento, a representante da Unesco ressaltou a importância geral dada a assuntos sociais e sobretudo ao problema das desigualdades, que permeou grande parte das discussões, assim como a questão crucial da educação, desde o nível básico. “Acho que isso mostra uma evolução do Fórum como um espaço que comporta uma visão mais holística de ciência na sociedade”, afirmou, elogiando ainda o intenso engajamento dos participantes – mais de 800, no total, de cerca de 120 países.
Glaucius Oliva, Jacob Palis, Gretchen Kalonji e József Pálinkás
József Pálinkás, presidente da Academia Húngara de Ciências, organizadora dos Fóruns Mundiais de Ciência na Hungria, também fez um balanço positivo do evento, agradecendo o desempenho da equipe brasileira em fazê-lo acontecer e a hospitalidade com que todos foram recebidos no Brasil. Ele elogiou especialmente a performance dos conferencistas e a dinâmica das apresentações, que sofreu alterações nesta edição do Fórum. “Tentamos limitar um pouco o número de conferencistas para que os participantes pudessem realmente se engajar mais nas discussões e fiquei impressionado como de fato as pessoas participaram ativamente”.
Essa participação ativa garantiu, segundo Pálinkás, uma representatividade mais ampla dos debates na declaração e nas recomendações oficiais do Fórum, propostas pelo seu comitê diretor e aprovadas por unanimidade durante a cerimônia de encerramento do evento.
A declaração foi lida e comentada pelo presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil (CNPq) e Acadêmico Glaucius Oliva. O documento aborda desde a importância do desenvolvimento global sustentável em todos os seus múltiplos aspectos até a necessidade de se criarem mecanismos sustentáveis de financiamento à ciência. Incluem ainda o papel fundamental da educação para a redução das desigualdades, a premência de maior cooperação entre instituições e entre nações, a relevância da ética na pesquisa e de um diálogo mais profícuo entre cientistas, governos, indústria, mídia e sociedade.
“As recomendações são muito ambiciosas, mas creio firmemente que teremos progressos nos próximos anos”, afirma Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), organizadora do Fórum no Brasil. Ele ressalta que é a primeira vez na história do Fórum que elas reforçam com tanta ênfase o avanço da ciência de forma inclusiva. “Temos que olhar muito para o desenvolvimento global, sem deixar muita gente de fora, senão não será sustentável. Acho que isso veio com muita força aqui.”
Outro ponto importante para Palis é a inclusão nos documentos oficiais do Fórum da educação como fator-chave para reduzir as desigualdades, uma conquista da comunidade brasileira. “Esta foi uma proposta do Brasil, que foi carimbada. Não sei por que isso não era tão salientado antes. Isso é muito importante”, diz.
Para Palis, também é muito importante que as ideias contidas na declaração e as recomendações sejam amplamente disseminadas pelo mundo, para que possam, de fato, ser implementadas.
O próximo Fórum Mundial de Ciência voltará, em 2015, para Budapeste, e, em 2017, viaja para a Jordânia. No que depender da princesa Sumaya bint El Hassan, presidente da Sociedade Real Científica do país e grande defensora da ciência no mundo árabe, o foco nas questões sociais e no combate às desigualdades estará também fortemente presente no encontro da Jordânia.
“É difícil compreender como desigualdades podem continuar a crescer em um mundo que possui as tecnologias, capacidades e habilidades para sustentar todos”, ressaltou Sumaya, que participou da cerimônia de encerramento por meio de videoconferência (foto ao lado). “Desigualdades dentro das sociedades e através das fronteiras é a principal ameaça à sustentabilidade global. Temos de garantir que a ciência e a tecnologia não sejam empregadas para dividir o mundo entre ricos e pobres”, acrescentou.
A princesa da Jordânia se disse muito orgulhosa pela oportunidade de seu país sediar o 8º Fórum Mundial de Ciência e convidou todos a participar.
(Repórter especial Carla Almeida para Notícias da ABC; foto Cristina Lacerda)
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