Para 908 jovens empresas de tecnologia, as próximas semanas definirão o futuro. É esse o número de companhias inscritas na primeira rodada do Start-Up Brasil, cujo resultado será anunciado em meados de julho. Apenas 50 delas serão escolhidas nesta etapa do programa, que investirá em cada uma até R$ 200 mil, abrindo-lhes as portas das principais aceleradoras do país. A concorrência é grande: dados inéditos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) mostram que a seleção atraiu os sonhos de empreendedores de 21 estados brasileiros e de 37 países, dos Estados Unidos ao Chipre.

Inspirado na experiência chilena, o Start-Up Brasil foi anunciado no fim do ano passado como parte do programa TI Maior. Com orçamento de R$ 40 milhões, seu objetivo é acelerar, até 2014, 150 firmas das áreas de software e serviços digitais criadas há menos de três anos. Nove aceleradoras participam. Um quarto das start-ups pode ser de estrangeiras. As inscrições para a primeira rodada, que vai escolher as 50 primeiras empresas, terminaram em 31 de maio. Outras 50 serão selecionadas em novembro.

A origem das inscrições reflete a localização dos melhores cursos universitários de computação e engenharia do país, comentou o secretário de Política de Informática do MCTI, Virgílio Almeida. Quase dois terços (61%) das 672 start-ups brasileiras inscritas concentram-se no Sudeste, sendo que São Paulo sedia metade dessa fatia (210, ou 31,3%). Foram 93 start-ups mineiras (13,8%) e 88 cariocas (13,1%). A região Norte, por sua vez, teve apenas nove inscrições, e o Centro-Oeste, 47 (7%). Nenhuma empresa de Maranhão, Roraima, Rondônia, Acre e Amapá está participando. Do Nordeste vieram 87 projetos (13%); do Sul, 117 (17%).

Governo planeja programa exclusivo para região amazônica

Por causa das disparidades, o governo quer lançar um programa de start-up exclusivo para estados da região amazônica, com previsão de investir R$ 2,3 milhões em até três anos. O anúncio deve ser feito daqui a três meses.

– Como houve concentração na região Sudeste, é importante tomar iniciativas para criar condições para que a cultura da inovação seja difundida pelo Brasil. Isso acontece nos EUA: Nova York recebe tanto capital de risco quanto San Francisco – explicou Almeida.

Os setores contemplados pelas start-ups brasileiras inscritas são diversos, indo de recursos humanos à engenharia de automação. Cerca de 15 empresas da área de saúde estão participando, entre elas a pernambucana Fisiohub. Ela usa jogos em tablets para ajudar na reabilitação de pacientes com limitação cognitiva ou motora. Criada há quatro meses, a empresa negocia a introdução de projeto-piloto em clínicas de Recife, mas sonha com mercados maiores.

– O Start-Up Brasil é a chance de escalonar o produto para todo o Brasil, sobretudo São Paulo, com sua enorme rede de hospitais – contou Yuri Zaidan, de apenas 20 anos, um dos que fundaram a Fisiohub no Porto Digital, na capital pernambucana.

A start-up pediu R$ 192 mil em investimento para aumentar sua equipe (hoje com quatro integrantes) e expandir o portfólio de jogos do seu aplicativo para seis (apenas um está pronto).

Empresas com estrutura ainda mais enxuta estão na disputa. Aluno do 3º período de sistemas de informação na Universidade Federal Fluminense (UFF) e morador de São Gonçalo, William Gomes, 23 anos, dedica desde novembro as horas vagas à Yesgon, ferramenta on-line de enquetes e pesquisas de opinião.

– A gente preparava o piloto quando surgiu o programa federal. Resolvemos, então, tentar o programa antes de buscar financiamento no mercado – disse Gomes, que tem um sócio na empreitada e pediu R$ 198 mil em bolsa para dois pesquisadores.

Estrangeiras focam em projetos de petróleo e Smart Grid

Enquanto a maioria das brasileiras apresentou projetos ligados à internet, grande parte das 236 estrangeiras inscritas busca o mercado corporativo com produtos de alta tecnologia, analisou Rafael Moreira, coordenador de software e serviços do MCTI. Muitas são especializadas em sistemas robóticos para exploração de petróleo, redes de energia inteligente (Smart Grid) e computação na nuvem.

A participação dos países mostra a influência da crise financeira internacional, indicou Moreira, com empresas de mercados mais afetados buscando consumidores brasileiros. Quase um terço das start-ups vêm dos EUA (31%) e 11%, da Argentina. Portugal e Espanha representam fatia de 3,8% cada um. Há uma empresa do Chipre, um dos que mais sofreram com a crise da dívida europeia. Houve também demanda de outros países com cena start-up desenvolvida, como Chile (8%) e Índia (6,5%).

– Elas querem uma oportunidade para entrar no mercado brasileiro e fazer contatos. Muitas também atraídas pela facilitação do visto – explicou Luisa Ribeiro, diretora executiva da carioca Papaya Ventures, uma das nove aceleradoras envolvidas.

Os estrangeiros selecionados no programa poderão obter visto de pesquisador válido por um ano. O trâmite é mais simples que o do visto de trabalho.

Entrar no mercado brasileiro é tudo o que deseja a espanhola Fitboo. Inscrita no programa, ela permite a atletas bissextos agendar aulas avulsas em academias de ginástica, evitando mensalidades.

– O Brasil é o segundo maior mercado de academias do mundo. Mas, enquanto 58 milhões de americanos vão a academias, apenas 5 milhões de brasileiros as frequentam. As academias não estão cheias por aí, e isso é uma oportunidade – argumentou o fundador Miguel Cruz.

Além do investimento do governo, as start-ups receberão aportes das aceleradoras. A Papaya planeja pôr R$ 20 mil em cada uma das até oito que pretende acelerar. A gigante Microsoft aposta ainda mais alto:

– Queremos colocar até R$ 1 milhão nas cerca de 30 empresas que planejamos desenvolver em Rio, Porto Alegre e Natal, onde abriremos aceleradoras no mês que vem – disse Franklin Luzes, diretor de operações da Microsoft Participações.