No segundo dia da VII Conferência e Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), na segunda-feira, dia 25 de fevereiro, no Rio de Janeiro, presidentes das academias e cientistas debateram o papel da ciência nos grandes desafios enfrentados pela humanidade. Outros grupos se reuniram para discutir e elaborar propostas sobre diferentes questões. Nos laboratórios de desafios, os participantes discutiram como melhorar a alfabetização científica; promover a segurança alimentar mundial; melhorar a saúde global; o acesso à água potável e ao saneamento; além de buscar respostas de como lidar com a mudança climática e o rumo a um futuro de energia sustentável.
Em outro auditório, jornalistas e cientistas se encontraram para os Diálogos para o Desenvolvimento, entrevistas coletivas temáticas, com dois especialistas em cada tema mediadas por jornalistas especializados de diferentes meios de comunicação. Em pauta: as Mudanças Climáticas e Desastres Ambientais, com a jornalista Ana Lucia Azevedo, jornalista do O Globo. Os entrevistados eram os Acadêmicos Carlos Nobre (MCT/INPE) e Luiz Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ).
Luiz Pinguelli-Rosa, o presidente da ABC Jacob Palis,
Ana Lúcia Azevedo e Carlos Nobre
O debate foi aberto com uma pergunta sobre o sistema de negociações para o clima adotado pela ONU. Para Carlos Nobre há uma crítica razoável sobre o sistema ONU de negociações desde a Rio 92 na área ambiental. “Convenções que tratam da interface ambiente e desenvolvimento não estão avançando muito, não só a do clima. Mas o clima me preocupa mais, porque é mais complicado: estudos indicam que existe risco muito grande, se não houver uma redução das emissões de gases e um equilíbrio da temperatura, estaremos brincando com o sistema do planeta e isso é grave. Adaptação já é uma necessidade, temos que agir agora, pois esperar que no futuro a situação vá melhorar não é uma atitude responsável”, respondeu.
Luiz Pinguelli Rosa alertou sobre o excesso de otimismo. “A convenção da Rio 92 foi um avanço,
pois diferenciou as responsabilidades entre os países ricos e os não ricos, o que foi bastante polêmico. Já em 97, no Protocolo de Kioto, o Brasil levou um modelo matemático computacional e influiu muito na discussões. Depois disso, ocorreu um grande vazio de reuniões até 2009, quando se realizou o encontro em Copenhagen, valorizado pela presença de chefes de estado como Obama e o presidente Lula. Na ocasião o Brasil assumiu uma meta de redução do desmatamento, mas aumentamos nosso consumo de gasolina e o etanol retrocedeu, além das termoelétricas estarem todas ligadas, queimando combustíveis poluentes. Agora está um marasmo, nacional e internacional”, disse.
Na segunda parte da coletiva os cientistas comentaram sobre o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) – em inglês Intergovernmental Panel on Climate Change. É um órgão científico intergovernamental criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Dele fazem parte todos os governos membros daquelas duas organizações, mais de 180 países, cientistas e outros cidadãos (representantes de ONGs, etc.)
De acordo com Nobre, o IPCC teve impacto muito grande nas questões relacionadas ao clima. “Ele orienta a velocidade com que ações dos países teriam que ser tomadas e também consegue através da mídia comunicar as preocupações dos cientistas sobre a mudança climática. O clima está mudando a uma velocidade que a Terra não vê há milhões de anos: 50 a 100 vezes mais rápida que a saída da última glaciação, entre 20 e 11 mil anos. Nunca tivemos uma mudança tão alta. Mas somos nós mesmos que estamos fazendo isso? A explicação dominante – 99% dos cientistas – é quanto a emissão dos gases de efeito estufa, que nos mesmos estamos introduzindo na atmosfera. A questão é para onde nós vamos e que riscos estamos deixando implícitos. Os sistemas são complexos, e mesmo se zerássemos as emissões amanhã, só voltaríamos ao estado anterior em mil anos”, alertou.
Para Pinguelli a ciência não é domínio da verdade absoluta. “Sempre há margem de dúvida, trabalhamos com isso. Toda teoria científica pode ser contestada. O IPCC vive se aperfeiçoando e está procurando trabalhar com modelos mais atuais, com mais cuidado para a melhoria do método”, ponderou.