Encerrou-se em 30/10 o 2° Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência. Sob o tema central “Desafios para o desenvolvimento científico e tecnológico nos trópicos”, o encontro teve por objetivo abordar assuntos relacionados ao Fórum Mundial de Ciência, que será realizado em 2013 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Esta será a primeira edição do Fórum que acontecerá fora da Europa.
A mesa de encerramento do debate trouxe para o contexto acadêmico o tema “Ética e Ciência”, uma relação indispensável à construção da sociedade do futuro. O evento reuniu autoridades reconhecidas no meio científico para lançar holofotes sobre a necessidade de uma constante observância da prática científica embasada em valores éticos. O enfoque dos atuais desafios enfrentados nesse campo foi estabelecido a partir de duas diferentes linhas temáticas: “Parâmetros éticos na geração do conhecimento” e “Bioética e direitos humanos”, compondo uma problemática atual e de grande importância para a sociedade científica contemporânea.
A ética pode ser compreendida como uma reflexão quanto à influência da moralidade e dos critérios sociais sobre o desenvolvimento da humanidade como um todo, fundamentado em critérios que estabeleça uma padrão de vida digno a todos os integrantes de um sociedade. A ética estabelece os critérios dos direitos humanos e deve zelar para que estes sejam preservados. Considerando este preceito, a professora Maria Auxiliadora Roque de Carvalho da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) permeou entre as ideias de especialistas e pensadores de diversos períodos da história para corroborar a afirmativa de que “mais do que aplicada, a ética de estar inserida no ramo da ciência”. Com base nessa afirmação, ela defendeu que a geração do conhecimento deve, já em seu planejamento, estabelecer diretrizes que se enfoquem em atender toda a sociedade de forma irrestrita e sustentada por um sentimento de igualdade, “operando como uma ferramenta de desenvolvimento em nível global e acessível a todas as camadas sociais”.
O professor Volnei Garrafa, professor da Universidade Federal de Brasília (UnB) e membro da UNESCO, deu prosseguimento à palestra destacando os obstáculos enfrentados atualmente no âmbito da bioética. Ele salientou que a ciência deve ser compreendida como a busca pelo conhecimento, ao passo que a tecnologia representa a aplicação prática do conhecimento adquirido. Dessa forma ele levanta que um dos grandes problemas enfrentados neste campo é a mercantilizacão da produção tecnológica e exemplificou com a questão da fabricação de fármacos. “Observa-se hoje uma demanda muito grande do mercado por produção, somadas a uma necessidade de conseguir retorno financeiro por parte dos fabricantes. Isso resulta em um confronto com a ética quando o caráter comercial se torna prioridade”.
De acordo com o professor, é necessário que a sociedade compreenda a importância da consolidação dos estudos científicos para só então transformar esse conhecimento em produto. “Enfrentamos atualmente diversos problemas, como medicamentos sendo comercializados sem serem testados adequadamente”, argumentou.
Outro tópico abordado pelo pesquisador é a necessidade da avaliação consciente no uso das ferramentas conquistadas por meio dos avanços tecnológicos. “O potencial da ciência no século XXI permite que possamos realizar praticamente tudo. Assuntos como o projeto genoma, clonagem, aplicação de células-tronco, são plenamente possíveis. Hoje, a limitação não é mais técnica, mas sim ética. Devemos avaliar a relevância de certos estudos”, disse.
Ao final de seu discurso, o professor apresentou uma estratégia de consolidação global dos avanços científicos de modo a respeitar e difundir a bioética. Para ele, países que possuem as mesmas linhas de pesquisas devem operar em conjunto, potencializando resultados e promovendo a inclusão de todos. “A relação entre países de autonomia econômica e subdesenvolvidos deve se basear na solidariedade com cooperação. Deve haver o repasse de conhecimento a estes povos, e não a exploração de seus recursos”, finalizou.