James Heckman, pesquisador na área de educação, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2000 e Membro Correspondente da ABC, acredita que para o sucesso da Rio + 20, que tem como objetivo discutir ações para acabar com a miséria e colocar a economia a favor da sustentabilidade, é necessário, também, um novo modelo de educação mais voltado para a sociedade.

James Heckman, Aloisio Araújo e o presidente Jacob Palis

Durante a palestra “Educação para sustentabilidade” na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no dia 8 de maio, da qual o Acadêmico Aloísio Pessoa de Araújo foi coordenador, Heckman defendeu a criação de uma escola que não pode ser uma instituição que só aplica provas e tem como critério notas, mas, sim, que se preocupa com a formação dos cidadãos.

“As escolas não podem estar separadas da sociedade. Não se pode ensinar somente conhecimento teórico para as crianças e depois obrigá-las a lidar com o mundo social e econômico sem nenhuma preparação. Educação envolve a sociedade, a economia, a saúde, apoio dos pais e investimento – pois uma criança não saudável pode ter mais dificuldade de aprendizagem”, afirmou.

Sobre investir na área da educação, o pesquisador acredita que quanto mais cedo, melhor para a criança. Para ele, esses investimentos podem diminuir os buracos na aprendizagem infantil que acontecem desde os primeiros anos de vida, antes mesmo de entrar nas escolas. “Se analisarmos o nível de escolaridade dos pais no Brasil, isso quase sempre vai refletir no nível de escolaridade dos filhos. Famílias desestruturadas ou que vivem em área de vulnerabilidade social também interferem na aprendizagem de seus filhos”.

Heckman criticou uma forma de investir que nos dias de hoje é bem popular, porém excludente. “Quando surge uma criança que se destaca, as empresas e o governo investem nessa criança. E as outras? E aquelas que não tiveram a chance de sobressair? Quanto podemos mudar a capacidade de aprendizagem das crianças? Qual o papel da economia?”, questionou.

Para ele, o investimento tem que ser feito indiscriminadamente em todas as crianças que desde o nascimento já estão de alguma forma desfavorecidas. “O investimento cedo é produtivo mesmo em crianças com pouca capacidade. Os investimentos tardios em crianças com alta capacidade são menos produtivos, tanto para o investidor quanto para o surgimento de bons resultados”, disse.

O pesquisador acredita que existem casos de exceção. Mesmo sem receber investimentos a criança pode conseguir “dar a volta por cima”. Porém, essa capacidade de resiliência no Brasil ainda é baixa. Em pesquisa feita pela equipe de Heckman, em 2006, 56% dos filhos de pais sem ensino fundamental completo também não concluíam seus estudos. “Estas crianças não estão preparadas para lidar com a realidade em que vivem e não conseguem se engajar socialmente. Sem entender a importância de pensar no social, fica impossível pensar em sustentabilidade e nas próximas gerações”.