Oito de março é conhecido mundialmente como uma data de celebração e valorização feminina. No entanto, a origem do Dia Internacional da Mulher – definido em uma conferência na Dinamarca no ano de 1910 – é, infelizmente, uma história para se lamentar. A data foi escolhida em homenagem a operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque que, nesse mesmo dia no ano de 1857, fizeram uma grande greve para reivindicar melhores condições de trabalho.

As manifestantes ocuparam a fábrica e pediram, entre outras mudanças, redução na carga diária de trabalho para dez horas (os empregadores exigiam até 16 horas de trabalho por dia), salários iguais aos dos homens (as mulheres recebiam até um terço do salário de um homem, para exercer o mesmo tipo de trabalho) e um tratamento digno. A polícia reprimiu o movimento e trancou as operárias na fábrica, que foi incendiada. Cerca de 130 mulheres morreram carbonizadas.

Desde a instituição da data, busca-se, mais do que uma comemoração, a discussão sobre o papel da mulher na sociedade através de conferências, debates e reuniões em todo o mundo. No entanto, mesmo no século XXI, as mulheres ainda sofrem com a desvalorização e a desigualdade em relação aos homens. As conquistas femininas são bastante recentes. Embora em 1879 as mulheres brasileiras tenham obtido autorização do governo para estudar em instituições de ensino superior, as que optavam por este caminho eram mal vistas pela sociedade.

Em 1887, formou-se a primeira médica no Brasil: Rita Lobato Velho. Porém, as mulheres estreantes na profissão encontravam muitas dificuldades em se afirmar profissionalmente e muitas eram até mesmo ridicularizadas. Os anos foram se passando e a constante luta feminina foi conquistando mais e mais vitórias. Hoje, as mulheres não sofrem mais preconceito por entrarem na graduação. Ainda assim, existem profissões em que o índice de mulheres continua sendo muito baixo. As carreiras científicas são a maior expressão disso e, dentro dessa categoria, destacam-se as engenharias, física e matemática. Além disso, embora haja um número expressivo de mulheres em cursos de pós-graduação, são poucas as que conseguem posições de destaque na ciência, tecnologia ou gestão da ciência.

O estímulo à inserção das mulheres na ciência é visto como uma prioridade pela Academia Brasileira de Ciências. Hoje o Brasil é a sexta economia mundial, o 13º país no ranking internacional da produção científica e um dos paises que mais crescem no mundo. Não há dúvidas de que muitas mulheres tiveram um papel crucial nesse processo. Devido a essa preocupação, a ABC vem gradativamente aumentando o número de mulheres entre seus membros. Enquanto que, em 2006, o percentual de Membros Titulares do sexo feminino era de 8,95%, em 2012 esse índice é de 12,45%. Entre os Membros Afiliados, elas correspondem a 25,93%. Na Academia de Ciências dos Estados Unidos, o índice é de 11%, na da Argentina é de 9,09% e na da Inglaterra, apenas 5%.

A primeira mulher a se tornar membro da ABC foi ninguém menos que Marie Sklodowska Curie, eleita Membro Correspondente em 1926. A cientista polonesa foi a primeira pessoa a receber duas vezes o Prêmio Nobel por áreas da ciência diferentes – a primeira foi em 1903, em que recebeu, juntamente com seu marido, Pierre Curie, e com o cientista Becquerel, o Nobel de Física, e a segunda foi em 1911, em que ganhou o Nobel de Química pela descoberta dos elementos tório, rádio e polônio. Ela também foi a primeira mulher na história a ser laureada com o prêmio.

Marie Curie (1867-1934) ficou mundialmente conhecida por suas pesquisas no campo da radioatividade – palavra que não existia na época do seu doutorado sobre a radiação emitida pelos compostos de urânio, e que foi inventada pela própria cientista em 1898. Foi a radioatividade que lhe garantiu o Nobel de Física. O de Química lhe foi atribuído no mesmo ano em que a Academia de Ciências da França a rejeitou como membro, de modo que a vaga foi entregue a Edouard Branly. Em 1922, no entanto, tornou-se Membro Associado da Academia de Medicina.

E hoje, onde estão as outras Maries Curies? Conforme afirmou o Acadêmico Eloi de Souza Garcia no artigo “Por uma ciência mais feminina“, elas dedicam três vezes mais tempo que os homens nas tarefas domésticas e nos cuidados com os filhos. Mas, como é possível ver na matéria do Jornal O Globo “Um feudo masculino“, elaborada a partir de uma pesquisa com os Membros Afiliados da ABC, precisamos mais delas na ciência brasileira.

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a ABC publica em duas matérias o perfil de uma de suas representantes muito especiais: a cientista Yvonne Mascarenhas. Leia “O cristal de Pederneiras” e “Da cristalografia à educação básica“.