Foi com os pais que o Membro Afiliado da ABC Dario Simões Zamboni aprendeu a importância da educação formal para o desenvolvimento do país. Atualmente aposentados, eles eram pesquisadores e professores da Universidade de Brasília (UnB) na área de Ciências Humanas durante a infância do cientista, vivida no Lago Norte de Brasília com as três irmãs mais novas. “Observando meus pais, aprendi cedo que é possível conciliar dedicação à família com o desenvolvimento de carreiras profissionais brilhantes”, conta o professor doutor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Mesmo gostando de jogar bola com os amigos na rua, as brincadeiras preferidas de Zamboni incluíam buscar pequenos animais e insetos no jardim e no lago Paranoá e procurar ninhos de passarinho pelo cerrado do seu bairro. Ele não era muito fã dos estudos durante o ensino básico mas, ao aprender sobre Darwin e a teoria da seleção natural na sexta série do primeiro grau, encantou-se com a biologia. “O estudo da evolução me conquistou naquela época e me fascina até hoje”, relembra. O cientista afirma que foi na faculdade que ele entendeu por que não gostava do colégio: “Aulas expositivas em geral têm um ritmo muito lento e eu acabava perdendo o interesse. Meu rendimento sempre é melhor quando estudo sozinho”.

No entanto, sua paixão pelas ciências naturais era bem anterior a isso. “Meu pai conta que ficou surpreso quando, com cerca de cinco anos, eu soltava uma barata dágua em uma pequena bacia e vinha perguntar a ele por que motivo, das dez vezes que a soltara, ela tinha ido oito vezes para o lado esquerdo e somente duas para o lado oposto.” Por causa do fascínio por pequenos animais, seu avô Dario o presenteou com um microscópio aos nove anos e, a partir daí, o menino passou a se maravilhar com a microbiologia e a procurar bactérias, protozoários e vermes em água parada. “Lembro nitidamente do meu deslumbramento ao partir uma planária ao meio e verificar que as duas metades sobreviviam e passavam a se mover de forma independente”, diverte-se o jovem pesquisador.

Em 1991, Zamboni cursava o primeiro ano do segundo grau quando uma amiga de seus pais contou ao Acadêmico Isaac Roitman (na época, docente e pesquisador do Laboratório de Microbiologia da UnB) sobre o seu interesse por biologia. “Um dos maiores idealistas acerca da educação brasileira, Isaac sempre acreditou que a formação de grandes cientistas deve ocorrer o mais cedo possível”, diz. Assim, Roitman convidou o futuro cientista para um programa “artesanal” de iniciação científica com alunos do segundo grau que estava desenvolvendo. “Aos sábados, realizávamos uma reunião chamada de news and comments, na qual cada membro do grupo apresentava uma novidade da ciência, que poderia ser encontrada em revistas de divulgação científica como Ciência Hoje, New Scientist e outras”, recorda Zamboni. Logo, o Afiliado está envolvido com investigação científica desde os 15 anos, quando realizou sua primeira pesquisa no grupo – sobre a bioquímica e diferenciação celular de tripanossomatídeos não-patogênicos.

Em 1994, Zamboni começou a graduação em Ciências Biológicas na UnB, prosseguindo como aluno de iniciação científica junto ao grupo de Isaac Roitman. Em 1998, seguiu direto para o doutorado em Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), orientado pelo professor Michel Rabinovitch. “Ele e Isaac Roitman foram extremamente importantes para a minha formação e amadurecimento como cientista.” Em 2003, o biólogo ingressou em um pós-doutorado na Yale University, nos Estados Unidos, sendo bolsista do Pew Latin American Program in Biomedical Sciences.

Atualmente, sua pesquisa visa compreender como as células do sistema imune reconhecem bactérias e protozoários que podem causar infecção e doenças. “Estamos descobrindo que as células do sistema imune inato – as primeiras que entram em contato com os micróbios patogênicos – são munidas de receptores específicos capazes de reconhecer diferencialmente e discriminar micróbios patogênicos (aqueles que podem causar doenças) dos micróbios ambientais que não causam infecções e/ou que fazem parte da microbiota normal.” Zamboni explica que o conhecimento desses processos é muito importante, tanto para compreender as bases moleculares responsáveis pela resistência às infecções quanto para ser possível preparar formulações que funcionem com futuras vacinas contra esses micróbios patogênicos.

Para o novo Membro Afiliado da ABC, o que há de mais encantador na ciência é a “possibilidade de desvendar e compreender os magníficos fenômenos que observamos no dia a dia”. Ele afirma ser fascinante entender os mecanismos moleculares que explicam por que os determinados fenômenos biológicos acontecem daquela maneira. “Especificamente na minha área, vivemos um momento mágico: estamos conseguindo prover explicação mecanística para fenômenos observados e reportados ao longo dos últimos 100 anos.” Em 2011, três pesquisadores da área de Imunidade Inata foram contemplados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, o que ilustra o momento importante pelo qual essa área vem passando .

Zamboni considera muito simples descrever as características fundamentais em um cientista: “Curiosidade, curiosidade e curiosidade”. Ele diz que, depois, para o pesquisador ser bem sucedido, é necessário ter uma boa formação teórica, muita força de vontade e perseverança. Além disso, para se tornar um bom chefe de grupo, o cientista precisa saber motivar e lidar com pessoas, gerenciar tempo e recursos. “Um jovem que pensa em se tornar cientista deve procurar conhecer mais sobre a profissão, descobrir o que faz um pesquisador nos dias atuais, contatar outros cientistas, visitar laboratórios… Tudo isso é muito importante”, declara.

Para o biólogo, o título de Membro Afiliado da ABC é muito significante, pois representa o reconhecimento do mérito por parte da comunidade científica. “Ainda assim, eu prefiro não ver essa indicação como uma oportunidade de impulsionar minha carreira individual, mas como uma oportunidade de melhorar o desenvolvimento da ciência no nosso país.” Ele diz que é por isso que decidiu voltar ao Brasil e dar continuidade à sua carreira aqui. “A ciência brasileira precisa de sangue novo, de mais divulgação junto à sociedade e dos melhores cérebros do país. É importante que a ABC trabalhe para divulgar a carreira de cientista junto aos alunos de ensino médio, pois esse ponto é fundamental para o futuro promissor que o Brasil tem pela frente. Essa deve ser nossa bandeira”, defende o entusiasmado membro da Academia.