O diretor de desenvolvimento científico e tecnológico da Finep, Roberto Vermulm, fechou o primeiro dia do Simpósio Academia-Empresa, em 29 de junho, com uma palestra sobre a integração entre os dois setores em questão e a importância da inovação. O economista explicou que inovação é a introdução de um novo produto ou processo produtivo na realidade econômico-social, e que é a empresa que introduz essa novidade na sociedade.

Segundo Vermulm, a empresa deve inovar por dois motivos: na perspectiva da própria companhia, a inovação é fonte do lucro empresarial, pois é assim que ela se diferencia dos seus concorrentes. Pelo ponto de vista da nação, a inovação é a fonte do desenvolvimento econômico e social: gera renda, empregos, tributos, oportunidades e transforma a realidade nacional. “Em geral, o mercado dá as informações, gera sinais para a empresa sobre a necessidade e as possibilidades de inovação”, comentou.

O palestrante disse, ainda, que a ciência também cria oportunidades tecnológicas para as empresas, promovendo a geração de conhecimento científico. Para ele, a relação entre ciência, tecnologia e mercado não é simples: “Não é uma integração unidirecional, mecânica e determinista; é complexa”, afirmou. “Ela envolve atores que se legitimam e se reproduzem de formas distintas, além de graus distintos de organização. O mercado também mostra oportunidades para o desenvolvimento de C&T”.

Vermulm comparou a academia e a empresa, afirmando que, na universidade, o pesquisador se legitima pelas publicações, enquanto que na empresa o profissional deve se preocupar em gerar lucro. “Na academia, existe o rigor do método científico. No mundo dos negócios, o conhecimento utilizado é menos organizado, não é tão complexo quanto nas universidades. A tentativa e o erro valem”.

De acordo com o economista, o processo de inovação está mais próximo da fronteira do conhecimento técnico e científico, atualmente. “Ele envolve muitos riscos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), muitos recursos e investimentos, são processos muitos custosos”, comentou. “Existe cada vez mais a necessidade de cooperação, inclusive entre empresas concorrentes. Elas precisam brigar com outros que também estão cooperando do outro lado. A concorrência está acirrada no mundo inteiro”.

Vermulm informou que as empresas brasileiras inovam pouco, de modo que a taxa de inovação no setor industrial foi de 38,1% entre 2006 e 2008. Na Alemanha, esse índice é maior que 60%. Para inovar, as companhias devem praticar uma série de ações, como: realização de P&D interna e externa à empresa, treinamento de mão-de-obra e aquisição de conhecimentos externos, máquinas, equipamentos e softwares. “Nas empresas brasileiras, é mais comum a modernização do que propriamente a inovação”, declarou.

O palestrante mostrou uma série de dados e concluiu, a partir deles, que é necessário estimular nas empresas, além da prática de inovar, a cultura da cooperação. “Não cooperamos com ninguém, menos ainda com as universidades e institutos de ciência e tecnologia (ICTs)”.

Roberto Vermulm explicou como a Finep age e pensa em contribuir para melhorar a relação entre academia e empresa. “Atuamos com instituições sem fins lucrativos, concedendo financiamento não-reembolsável para os ICTs em geral e para os projetos cooperativos entre eles e as empresas”. O economista disse que a Finep também concede crédito reembolsável com juros reduzidos para instituições com fins lucrativos, além de subvenção econômica e capital de risco. Assim, é dado um subsídio para que as empresas invistam em P&D e é estimulado o surgimento de novos empreendimentos, em especial os de base tecnológica.

“Queremos trabalhar no sentido de maior integração entre os instrumentos de apoio, combinando financiamento reembolsável com alternativas não reembolsáveis”, enfatizou Vermulm. A instituição também busca elaborar programas estruturantes em áreas estratégicas, como petróleo e gás, defesa, fármacos, energia e outros. “A expectativa é de que a gente consiga definir programas mais parrudos, que possam ter maior impacto no Brasil, mas sem acabar com algumas ações institucionais que já são tradicionais”.

No entanto, Vermulm enfatizou que ainda é necessário melhorar bastante a eficiência da Finep, além de reduzir os custos e buscar a informatização e modernização do órgão. “Temos que mudar os sistemas. Isso tende a contribuir para melhorar a atuação da Finep”, afirmou. O diretor da instituição afirmou que também é preciso reduzir a pulverização que existe: “temos um monte de projetinhos atualmente. Se concentrarmos esforços, conseguimos gerar projetos com maior impacto para o Brasil. O importante não é o número de operações, e sim a produtividade delas”.