A revista médica britânica The Lancet, uma das mais prestigiosas da área, considerada hoje uma referência em diagnósticos e pareceres da área médica em todo mundo, publicou no dia 9 de maio uma série de artigos que tratam com detalhes de diversos setores da saúde pública do Brasil. A série, intitulada “A Saúde dos Brasileiros”, faz uma ampla revisão de documentos existentes sobre a saúde e a assistência médica da população e foi publicada em português e em inglês.

Produzido por uma equipe de 29 especialistas brasileiros em saúde pública, o conjunto de artigos descreve a história da assistência médica no Brasil, buscando dar ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS), implantado em 1988. De acordo com o documento, melhoras significativas ocorreram desde então. “O principal sucesso é o fato de que toda a população pode ter acesso à saúde pública, o que não é comum em países como o Brasil”, afirmou o Acadêmico Cesar Victora, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os outros Acadêmicos que coordenaram a publicação foram o médico epidemiologista e sanitarista da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Mauricio Lima Barreto, a médica epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Inês Schmidt e o médico especialista em Medicina Preventiva, Saúde Pública e Nutrição Humana da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Augusto Monteiro.

O documento apresentou alguns dados positivos para o país, entre eles a redução significativa da mortalidade causada pela doença de Chagas, esquistossomose, diarreia infantil, cólera e pela Aids. Avalia, porém, que a estratégia de redução de mortalidade ainda precisa ser aprimorada, sobretudo em municípios de pequeno e médio porte. As campanhas de vacinação têm sido muito bem sucedidas, sendo o país um exemplo nesse aspecto. O estudo também mostrou que o Brasil tem melhorado o controle das doenças infecciosas em geral.

No entanto, dados negativos também foram ressaltados, como a dengue e a leishmaniose, doenças consideradas fora de controle. Segundo o documento, “o cenário para o controle da dengue não é estimulante”. Outras constatações preocupantes foi o alto número de abortos ilegais e a hipermedicalização dos partos, que comprometem a saúde das mães. Também foi mencionado o avanço da obesidade e das doenças que se relacionam a ela, bem como o alto número de mortes violentas, por crimes ou acidentes.

De acordo com a publicação, ainda é necessário que o governo amplie gastos na área da Saúde, melhore a infraestrutura para reduzir a dependência de serviços privados e aumente o controle de propagandas de alimentos infantis, tabaco, açúcar e outros produtos prejudiciais. O texto sugere a promoção de ações em conjunto com os trabalhadores de saúde, universidades, instituições de pesquisa e formação, setor privado e sociedade civil. Com a participação ativa desta, torna-se possível buscar “o direito à saúde para toda a população brasileira”.

Veja o documento na íntegra acessando o arquivo abaixo.