Novo secretário-geral da 4a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (4a CNCTI), o diretor da ABC Luiz Davidovich reuniu-se, no dia 26 de janeiro, com o secretário-executivo do MCT, Luiz Antonio Elias, na sede da ABC. O encontro contou com a presença do presidente da ABC, Jacob Palis, do representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, e de destacados Acadêmicos do Rio de Janeiro, com o objetivo de discutirem o encaminhamento do evento e fazerem sugestões.

Participaram da reunião os Acadêmicos Bertha Becker (UFRJ), Débora Foguel (UFRJ), Diogenes de Almeida Campos (DNPM), Eloi de Souza Garcia (Fiocruz), Jean Pierre von der Weid (PUC-Rio), Jerson Lima Silva (Faperj/UFRJ), João Alziro Herz da Jornada (Inmetro), José Roberto Boisson de Marca (PUC-Rio), Luiz Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ), Marcelo Viana (IMPA), Moysés Nussenzveig (Copea/UFRJ), Pedro Leite da Silva Dias (LNCC), Ricardo Gattass (FINEP), Vivaldo Moura Neto (UFRJ) e Wanderley de Souza (Inmetro/UFRJ).


Jacob Palis, Luiz Antonio Elias, Luiz Davidovich, Jerson Lima Silva

Política de C,T&I precisa ter continuidade garantida

Para Davidovich, o fato de ter “pegado o bonde no meio do caminho” tem vantagens – ele encontrou o caminho “parcialmente pavimentado”, com o trabalho prévio do Acadêmico Carlos Alberto Aragão – que deixou o encargo da CNCTI para assumir a presidência do CNPq – e as equipes do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). “Por outro lado, estamos bem próximos da data da Conferência e há muito trabalho a fazer”. E a responsabilidade é grande. Segundo Davidovich, esse é um ano importante, de transição eleitoral. “É fundamental afirmar a CT&I como política de Estado, que não deve sofrer interrupções devido à sucessão de governos.”

Para estruturar a Conferência, Davidovich está conversando com vários interlocutores de setores diversos da economia. “Já tive reuniões com os Secretários Regionais de C&T, terei ainda com a Associação Nacional de Ensino Superior (Andifes) e com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), por exemplo, além de outras entidades envolvidas nas Conferências Regionais. É muito importante que todos dêem sua contribuição para o evento.”

Vôo sustentável

O físico identifica claramente o momento de protagonismo do Brasil no cenário internacional. Para que essa posição se consolide, porém, são necessárias ações que promovam o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil para um novo patamar e que, nas palavras de Davidovich, ajudem a confirmar as previsões de que esse bloco que está sendo chamado de BASIC – Brasil, África do Sul, Índia e China – tenha o Brasil como componente atuante através de sua ciência, suas empresas, suas universidades. “Estamos trabalhando para que o Brasil se fortaleça nesse bloco nos próximos anos e, para tanto, temos que criar as bases que possibilitem esse crescimento de forma sustentável.”

O secretário-geral da 4ª CNCTI referiu-se à recente capa da revista The Economist com o Cristo Redentor decolando como um foguete. “Temos que fazer desse vôo um vôo sustentável. Pelo tamanho do território, da população, dos investimentos que já foram feitos no país, temos todas as condições de dar esse salto. Mas existem muitos desafios a serem enfrentados, e o objetivo da 4ª CNCTI é exatamente identificar esses desafios e fazer propostas para superá-los”.

Alavancas estratégicas para o desenvolvimento

O objetivo da reunião na ABC, assim como nas outras citadas, foi levantar propostas para a 4ª CNCTI. “Devemos focalizar uma lista mais reduzida de temas para que tenham impacto no futuro”, informou o diretor da ABC. Foi enfatizada a necessidade de institucionalização do sistema, de forma a tornar a estrutura de C,T&I mais estável, independente de mudanças de Governo. Foi destacada também a necessidade de alavancas visíveis, como foi num determinado momento da história do país o forte movimento nacional formado em torno do petróleo e a consequente criação da Petrobras, com grande investimento em pesquisa nessa área.

A Embrapa é outro grande caso de sucesso, assim como a Embraer. “São políticas de longo prazo, que exigem tempo para serem consolidadas, que requerem um planejamento estratégico, tanto para se formar recursos humanos como para incentivar o aparecimento de empresas”. No caso da Embraer, por exemplo, Davidovich lembra que foi necessária a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutico (ITA) para formar pessoal. “Essas foram iniciativas que alavancaram as políticas de C&T como políticas de Estado para o desenvolvimento do país. Precisamos agora de compromissos claros nessa nova etapa que estamos vivendo”, reforçou Davidovich.

Temas fundamentais: Amazônia, Educação e mercado de trabalho

Na reunião com os Acadêmicos foram destacados dois temas fundamentais – a Amazônia e a Educação, tanto a básica quanto especificamente em Ciência. A Amazônia é um grande desafio e o Brasil, evidentemente, está numa posição privilegiada para dar conta deste desafio. E os problemas que temos na Educação são um grande obstáculo ao desenvolvimento científico e tecnológico do país.

Foi levantada também a questão do mercado de trabalho. “Como fazer as empresas contratarem pessoal qualificado para pesquisa e desenvolvimento, qual o incentivo que deve ser dado a elas”? De acordo com Davidovich, os movimentos realizados nesse sentido ainda são recentes e raros. A Lei de Inovação é de 2004 e a adesão das empresas ainda é pequena, muito em função dos marcos legais. “Para a inovação decolar, é preciso focar os marcos legais, que não favorecem o desenvolvimento tecnológico do país. Temos o caso evidente das universidades, por exemplo, que têm dificuldades enormes para administrarem a si próprias, em virtude do não reconhecimento, por parte dos marcos legais, das peculiaridades do sistema de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico e da inovação.”

Na avaliação de Davidovich, o encontro na ABC produziu uma discussão extremamente rica, com contribuições de eminentes cientistas, acostumados em lidar com essas questões, que têm experiência em vários temas relevantes para a Conferência. “Ouvi ótimas idéias que certamente serão aproveitadas”, concluiu o cientista. Nossos cumprimentos e votos de boa sorte.