O diretor da ABC Luiz Davidovich, da UFRJ, coordenou o simpósio que contou com palestras sobre diversas áreas da Física contemporânea no Brasil.


Luiz Davidovich, Eduardo Bica, Múcio Continentino e Carlos Escobar

Altas energias dos raios cósmicos

O primeiro palestrante foi o Acadêmico Carlos Ourivio Escobar, graduado pela USP e doutorado pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, atualmente Professor Titular do Instituto de Física da Unicamp. Ele avaliou os desafios da Física de Raios Cósmicos de Altas Energias e fez uma ponte com a área de Altas Energias investigadas em laboratórios terrestres, aproveitando o Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo, localizado na Organização Europeia para Investigação Nuclear. (CERN), entre a França e a Suíça.

Escobar mostrou que há oportunidades de interrelação entre sua área e o que será descoberto com esse acelerador. Procurou mostrar as dificuldades dos estudos de raios cósmicos de altas energias, que lida com energias mil vezes maiores do que vai ser possível com o LHC. “A desvantagem é que é um processo produzido nos astros, sobre o qual o ser humano não tem controle. Quando chegam na Terra esses raios têm baixa intensidade e não sabemos a natureza do feixe, ocorrem poucos eventos, explicou o Acadêmico.

No laboratório terrestre, ao contrário, podem ser controlados a energia e a natureza do feixe, o tempo da colisão e tudo mais. Escobar explicou. “São duas filosofias diferentes. Nem tudo que se pode estudar nos raios cósmicos poderá ser estudado no LHC e vice-versa.”

Escobar mostrou resultados de seu trabalho no Projeto Auger, com o qual esteve envolvido entre 1995 e 2007. “O nome do projeto foi dado em homenagem ao físico francês Pierre Auger, que descobriu esses fenômenos”. Esse projeto foi desenvolvido numa área desértica de 3.000 m2 próxima a Mendoza, na Argentina. O objetivo foi estudar a radiação cósmica de altíssima energia. “Registramos das energias mais altas um evento a cada 15 dias. São poucos eventos, mas que nos deram muita informação, Pudemos determinar a energia, de que direção veio e, portanto, almejar fazer Astronomia, ou seja, determinar onde é que está a fonte dessa energia”, concluiu Escobar.

Bancos de dados científicos interligados por todo o país

O engenheiro civil Eduardo Luiz Damiani Bica cursou doutorado em Física pela Université de Paris VII e atualmente é professor associado no Departamento de Astronomia do Instituto de Física da UFRGS. Trabalha com observação em Astronomia e Astrofísica com bancos experimentais. Sua pesquisa é sobre combinados de estrelas e seu objetivo é divulgar esse tipo de banco de dados virtual público, procurando associar-se especialmente às novas universidades, que estão crescendo e que querem se diferenciar.

Seu interesse em educação passa pela Amazônia. Ele vê o potencial dos bancos de dados virtuais – não só em Astrofísica, mas também em Medicina, Matemática, Estatística , Biologia e todas as outras áreas – que podem levar informação científica de ponta a qualquer rincão do país que esteja conectado a internet. “As novas universidades ainda têm flexibilidade para criar cursos e implantar bancos que sejam de seu interesse, não obrigatoriamente reproduzindo o que ocorre no Sul e no Sudeste”, explicou Bica.

O pesquisador pretende obter o apoio da ABC, da Capes e, quem sabe, do BNDES, no sentido de apoiar a iniciativa de implantação de acesso aos bancos de dados existentes em Ciência e para desenvolver algoritmos que garimpem os dados que interessam aos usuários desses bancos. “Esses bancos já existem e custaram caro”, explica Bica, que acha que a ampliação da informação na Região Norte, por exemplo, traria grande retorno em termos de formação de recursos humanos, dos quais a região é bastante carente. “A informação tem que chegar junto com a Ciência, para que os estudantes e os professores saibam como utilizar os dados acessados.”

Pesquisa básica e Nanofísica

Doutorado em Física pelo Imperial College of Science and Technology da Universidade de Londres, na Inglaterra, o Acadêmico Mucio Amado Continentino atualmente é Professor Titular do Instituto de Física da UFF. Sua palestra versou sobre os desafios da Física da Matéria condensada e os desafios no Brasil. Essa é uma área muito extensa, aborda muitos problemas e materiais, estando muito próxima de aplicações práticas. “Os transistores e os efeitos de magnetoresistência gigante, por exemplo, são frutos de pesquisa nessa área”, esclareceu Continentino.

O cientista ressaltou, porém, que existem problemas muito interessantes relacionados à pesquisa básica na área. “Apesar dos supercondutores terem sido descobertas há 20 anos, por exemplo, até hoje não existe uma teoria que explique como esses materiais conseguem conduzir corrente, sem resistência, em temperaturas tão altas”. Continentino citou também o problema do emaranhamento e dos condensados quânticos. “A área da pesquisa básica é o caldeirão de idéias. Daí é que realmente surgem as revoluções que levam a inovação”. Ele deu como exemplo a spintrônica, que nasceu da pesquisa básica. “Ela se utiliza do spin do elétron para desenvolver uma eletrônica em dimensões reduzidas”. Contou que essa pesquisa contou com a participação de um cientista gaúcho, Mario Baibich, e deu um Prêmio Nobel em 2007 ao físico francês Albert Fert, host de Baibich em seus pós-doutorado.

O Acadêmico comparou a Matéria Condensada com a Física de Partículas, mais reducionista, que pretende descobrir qual é o último constituinte da matéria. Falou também sobre a Nanofísica, área nova em que se fabrica sistemas com camadas de átomos. “É uma área que está começando, mas que certamente vai ter uma importância tecnológica fundamental. O Brasil precisa se aparelhar para não perder o bonde e poder dar contribuições expressivas na área.”