A atuação das Academias de Ciências na cooperação Sul-Sul na América Latina e Caribe foi o tema da apresentação do diretor da ABC Luiz Davidovich no Fórum Regional de Políticas de C,T&I da Unesco, realizado no fim de setembro em Buenos Aires, na Argentina, entre os dias 23 e 25 de setembro.

Davidovich iniciou a apresentação relatando que, a partir de 1993, algumas Academias de Ciências se organizaram numa rede que hoje conta com 102 participantes e se intitula InterAcademy Panel on International Issues (IAP). A entidade acredita que a ciência, o conhecimento científico e a o progresso científico são partes essenciais da cultura humana e que são vitais para o avanço do bem estar social. O IAP pretende fazer com que a voz da ciência seja ouvida no que diz respeito a itens cruciais para o futuro da humanidade. Para atingir esse objetivo, estimula parcerias entre Academias pertencentes ao Painel, assim como defendem posições e ações coletivas.

A Academia Brasileira de Ciências faz parte do IAP, assim como também é extremamente ativa em entidades similares como InterAcademy Council (IAC), InterAmerican Network of Academies of Sciences (IANAS), InterAcademy Medical Panel (IAMP), International Council for Science (ICSU), G8+5 (que reúne os líderes do reúne os líderes do G8 – grupo dos países mais desenvolvidos [Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos] – mais os do G5 – grupo dos mais fortes países em desenvolvimento – [África do Sul, Brasil, China, Índia e México] e Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS). Atualmente, a ABC abriga os escritórios regionais do ICSU (ICSU-LAC) e TWAS (TWAS-ROLAC). Todo ano, no mês de dezembro, a ABC promove uma reunião regional para discutir o estado da arte das diversas áreas da Ciência na América Latina e Caribe.

Também no âmbito regional, a ABC interage com outros países trocando experiências em formação de professores de ensino básico com o Programa Mão na Massa (com IAP) e atua na formação de recursos humanos no Programa de Manejo de Águas (com IAP e IAC). Apóia o CNPq no Programa Sul-Americano de Apoio às Atividades de Cooperação em Ciência e Tecnologia (Prosul), na Colaboração Interamericana de Materiais (CIAM) e no Programa de Estudante-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG). O país tem ainda um projeto de cooperação em Biotecnologia com a Argentina (CBAB).

As prioridades estabelecidas para as parcerias envolvem ciência básica e aplicada, sendo que nesta última foram definidas áreas estratégicas, relacionadas aos maiores desafios mundiais como recursos hídricos, produção de alimentos, fontes de energia renováveis, materiais de construção sustentáveis, aumento desordenado dos grandes centros urbanos, geração de empregos, mudanças climáticas.

Em relação a estes desafios, a América Latina e Caribe podem dar grandes contribuições por seu grande potencial com relação ao aproveitamento hídrico, uma das maiores biodiversidades da Terra, amplas áreas para aproveitamento agropecuário, solos e climas diversificados, abundância de depósitos minerais e regiões ainda desconhecidas onde novos recursos certamente serão encontrados.

Davidovich destacou ainda algumas recomendações que poderiam incrementar a cooperação Sul-Sul, como a criação de laboratórios para áreas específicas que sirvam ao mesmo tempo como centro de pesquisa e de treinamento de pessoal; a criação de redes e institutos de pesquisa virtuais e continentais, dedicados à pesquisa em questões de interesse regional e mundial, com caráter multilateral; o estabelecimento de fundos de fomento para C,T&I em âmbito regional e mundial; a promoção de políticas integradas de C,T&I para o desenvolvimento social.

O evento contou com a participação de ministros de Ciência e Tecnologia dos diversos países da América Latina e representantes de instituições similares. O ministro de C&T do Brasil, Sergio Machado Rezende, o diretor da Divisão de Políticas Científicas e Desenvolvimento Sustentável da Unesco, Mustafa El Tayeb, a Profª Wrana Panizzi, diretora do CNPq e a diretora do escritório regional do ICSU para América Latina e Caribe, ProfªAlice Abreu, também estiveram presentes.