O químico Fábio Rodrigo Piovezani Rocha conta que o interesse pela ciência surgiu na infância: fazia experiências misturando produtos de uso doméstico. No entanto, foi a primeira aula no laboratório de Química que chamou sua atenção para esta área. “Tinha vontade de chegar em casa e estudar até o que não tinha sido abordado em sala de aula”, recorda.

O pequeno alquimista da cidade de Assis, interior de São Paulo, prestou vestibular para Engenharia Química e Química, pois tinhas dúvidas sobre que carreira seguir, devido ao desconhecimento sobre ambas. Rocha graduou-se então pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde realizou o mestrado, doutorado (parte experimental realizada no Centro de Energia Nuclear na Agricultura-USP) e pós-doutorado na área de Química Analítica. Em seguida, realizou estágio como professor visitante na Universidade de Valencia, na Espanha. Atualmente é Professor Associado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).

Ao contrário da maioria de seus colegas, Fábio Rocha não começou a iniciação cientifica no início do curso, pois não tinha predileção por nenhuma sub-área da Química. A convite de uma professora, integrou um grupo de pesquisa voltado para a Química Ambiental. “Logo percebi que gostava mesmo era da parte analítica que, nesta época, envolvia espectrometria de absorção atômica”, declara.

Sua pesquisa atual está focada no desenvolvimento de metodologias analíticas com aplicação em diversas áreas. “Trabalho no momento com automação em Química Analítica, particularmente com análises em fluxo. É uma área de interface que também utiliza eletrônica e programação de computadores, visando desenvolver equipamentos e metodologias para substituir, refinar ou aprimorar atividades rotineiras dos analistas, explica. “Em um sistema de análises em fluxo, as etapas de processamento das amostras são efetuadas durante o transporte por um fluído em direção ao sistema de detecção”, esclarece o Acadêmico.

O enfoque de sua pesquisa é o desenvolvimento de procedimentos analíticos com melhor desempenho em dois aspectos. O primeiro consiste na diminuição do tempo de análise e aumento de sensibilidade analítica, visando a aplicação à determinação de espécies em baixas concentrações. O outro objetivo é o desenvolvimento de procedimentos analíticos limpos, reduzindo de forma significativa o consumo de reagentes e a quantidade de resíduos gerados.

“O grande desafio é o desenvolvimento de procedimentos que sejam tão eficazes quanto os existentes, mas que não gerem resíduos ou minimizem as quantidades geradas”, destaca. Este desenvolvimento deve ser baseado em problemas analíticos reais, sendo o objetivo final a aplicação em análises químicas de rotina.

Entretanto, no Brasil, ainda é incipiente o desenvolvimento de equipamentos analíticos com fins comerciais que, necessariamente, devem ter associados os protocolos analíticos otimizados e validados, embora acredite que a perspectiva seja de crescimento. Rocha cita como exemplos deste cenário os projetos de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a criação do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (MCT-CNPq/FAPESP), que tem como um dos principais objetivos o desenvolvimento de instrumentos e procedimentos analíticos visando atender às demandas da sociedade e indústria brasileira. “Este Instituto conta com pesquisadores de diferentes regiões do país, especialistas em diversas áreas da Química Analítica”, destaca.

A indicação para membro afiliado da Academia em 2008 foi uma surpresa e uma honra para Fábio Rocha, que destaca a possibilidade de ampliar a interação com pesquisadores que admira e que são referências na ciência brasileira. “É também um diferencial para a carreira do cientista e o reconhecimento do potencial de jovens pesquisadores”, observa o Acadêmico.

Fabio Rocha concluiu sua entrevista com um agradecimento. “Sinto-me honrado pela indicação ter sido feita pelo Acadêmico Elias Zagatto, um dos principais químicos analíticos brasileiros, internacionalmente reconhecido pelo pioneirismo e significativas contribuições para o desenvolvimento das Análises em Fluxo”.