A bióloga da UFRJ Suzana Herculano Houzel, doutorada em Neurociências pela Université de Paris VI e pós-doutorada pela Max Planck Institut Für Hirnforschung, trabalha atualmente também como roteirista e consultora da Rede Globo de Televisão, colunista da Folha de S. Paulo e possui um site intitulado O cérebro nosso de cada dia. A pesquisadora destacou a diferente abordagem da ciência em diferentes mídias, como jornal, internet e televisão.

A primeira grande diferença é o fato de que os meios onde um cientista pode publicar não têm a pressão da notícia. “Eu não tenho o menor compromisso em falar daquilo que acabou de ser publicado. Várias vezes eu posso dizer que posso me dar ao luxo de não falar de alguma coisa que têm um impacto muito grande porque as editorias especializadas já cobrem o assunto exaustivamente, então eu gosto de usar aquele espaço para outros assuntos”.

Mas que assuntos? Suzana conta que quando começou a trabalhar com divulgação científica, há dez anos atrás, uma das primeiras coisas que fez foi uma pesquisa com o público e, para sua grande surpresa, tudo que dizia respeito à clínica médica e outras áreas correlatas da ciência despertava mais interesse se estivesse relacionado ao cotidiano. “Isso é muito interessante para nós que somos cientistas e que atuamos em divulgação, temos a liberdade de poder tratar dos assuntos interessantes mesmo que não sejam importantes.”

Em sua coluna, Suzana diz que gosta de brincar com temas diferentes, usar critérios variados de escolha dos assuntos desenvolvidos e descobrir o que suscita mais interesse dos leitores, a ponto de faze-los parar o que estão fazendo para lhe escrever um e-mail comentando o texto. “É muito legal ver que temas que não têm nenhuma relação médica despertam um interesse enorme pelo ponto de vista científico relacionado ao cotidiano, como uma coluna que escrevi sobre preferência sexual e outra sobre o que é saudade. Mas a grande líder de comentários foi uma matéria sobre quebra-cabeças.É muito importante para nós, cientistas, sabermos que existe esse interesse do público mesmo quando a nossa pesquisa não tem uma aplicação prática direta.”

No entanto, os critérios que utiliza no site são os habituais. “Embora sem precisar ter a preocupação com a notícia, de correr com a matéria, nos baseamos em artigos publicados porque já passaram pelo crivo de revisão por pares, o que elimina uma série de problemas”. Ocasionalmente, porém, Suzana comenta trabalhos apresentados em congressos – aqueles que saem direto do laboratório para o poster e que muitas vezes ainda não foi avaliado por ninguém. “Isso tem os seus problemas.”

Como apresentadora e consultora do Fantástico, Suzana tem acesso às matérias produzidas com antecedência e avalia se vale a pena apresentar. Muitas vezes sua opinião é bastante útil, pois separa o joio do trigo. “Acho que essa interação cientista-jornalista é possível e muito gratificante. Existe espaço para essa troca de idéias”. Ela destaca a importância de o cientista desenvolver a capacidade de falar sobre ciência, falar com clareza sobre o seu assunto. “Eu considero um investimento conversar com os jornalistas. Essa interação é um aprendizado para os dois lados, tanto para o jornalista que precisa se preparar e aprender um pouco sobre o assunto, quanto para o cientista que precisa aprender a entender o que eles querem, como podemos ajudar.”

O que mais a mobiliza, no fim das contas, é o impacto que falar sobre ciência tem no público. “É ver o interesse que a ciência pode despertar nas pessoas, tanto que elas são capazes de te dar retorno na forma de comentários, perguntas, curiosidades, críticas”. E aí Suzana aposta numa ferramenta nova, extremamente interessante em seu ponto de vista, que é o blog. “É um espaço aberto, onde se pode trocar idéias, modificar o conteúdo à vontade e aí o público descobre que tem um interesse muito maior do que suspeitava por aqueles assuntos – principalmente porque tem essa possibilidade de interagir diretamente com o cientista, dizer o que pensa e esperar uma resposta sua. Isso é muito bacana e eu recomendo fortemente”, concluiu Suzana Houzel.