Um dos grandes temas da ciência brasileira atual, sobretudo na Região Norte, a bioeconomia se tornou quase um mantra para o desenvolvimento sustentável. Trata-se de utilizar a natureza em nosso favor, gerando novos produtos que possam mover a economia no lugar de velhas práticas predatórias. A pesquisa da engenheira Verônica Scarpini, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências, tem tudo a ver com isso!

Ela trabalha com engenharia de materiais, em duas áreas: utilização de fibras derivadas da flora amazônica para aplicação na construção civil e até em coletes à prova de bala; e o desenvolvimento de biocerâmicas com aplicação médica na reconstrução de tecidos do nosso corpo. Seu trabalho mescla as áreas da biologia e engenharia, assim como sua carreira.

Nascida na zona rural de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, Verônica morou numa fazenda até os quatro anos e suas primeiras memórias envolvem a mangueira que tinha ao lado de casa. Após esse período, mudou-se com os pais, João e Terezinha, para a cidade. Apesar de não terem tido a oportunidade de entrar na universidade, os dois sempre incentivaram as filhas, Verônica e Débora, a seguirem esse caminho. Verônica carregava sempre um livro debaixo do braço e brincava de escolinha com as bonecas e amigas de rua. “Desde muito pequena eu dizia que queria ser professora e cientista e, acredito que por isso, sempre fui muito curiosa e perguntava sobre tudo”, conta.

Na escola, era uma das que mais questionava, característica de uma boa cientista. A natureza a fascinava e sempre queria entender como funcionavam as chuvas, as plantas e o corpo humano. Ela agradece aos professores que teve ao longo da vida por terem servido de inspiração, um deles em especial. “Meu tio, Luís Henrique Scarpini, era um excelente professor de matemática e foi minha grande inspiração e modelo de caráter, pessoa e profissional ético, seguro e exemplar. Sempre quis seguir seu exemplo e dar muito orgulho a ele. Acho que ele deve se orgulhar um pouco de mim, onde quer que ele esteja”, lembra com carinho.

O gosto pela natureza fez da Biologia uma escolha natural e em 2006 Verônica saiu de casa para estudar na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em Campos dos Goytacazes. Lá ela começou a iniciação científica logo no primeiro semestre, trabalhando com fitoplâncton do rio Paraíba do Sul, primeiro com a professora Silvia Mattos Nascimento e depois com a professora Marina Satika Suzuki.

Desde que entrou na faculdade, a ideia de trabalhar com materiais naturais a acompanhava. Dessa forma, assim que se formou, um amigo a convenceu de que, para seguir esse caminho deveria procurar uma pós-graduação em Engenharia de Materiais, e assim ela fez. Em 2010 Verônica começou mestrado na área, também na UENF, e se apaixonou. “Descobri que eu era uma bióloga engenheira e que era possível desenvolver pesquisa multidisciplinar associando áreas tão distintas e ao mesmo tempo tão próximas”, explica.

No mestrado, foi orientada pelo professor Carlos Maurício Fontes Vieira. Ao completar, logo emendou um doutorado no Instituto Militar de Engenharia (IME), sob orientação do professor Sérgio Neves Monteiro, a quem considera um “orientador de vida”. “Foram os 2 anos e meio de maior aprendizado da minha vida. O professor Sérgio me ensinou a ser professora, pesquisadora, orientadora e, acima de tudo, a ser um ser humano melhor. Sua orientação me transformou e ultrapassou os muros dos laboratórios”, conta.

Em 2016, Verônica ingressaria como professora na UFPA, onde trabalha desde então com aquilo que a encanta na ciência, a descoberta do que há de novo e o ensino do que já se sabe. “O que me encanta na minha área é a possibilidade de desenvolver novos materiais que podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população e contribuir também para a preservação ambiental”.

Agora na ABC, Verônica considera que o reconhecimento dá razão a uma frase de Charles Chaplin que ela carrega como lema para a vida: “A persistência é o caminho do êxito”. Apaixonada por cinema e literatura, ela conta que adora se perder em histórias clássicas ou desconhecidas. Também adora cozinhar, principalmente comida italiana, tanto que até colocou o nome de seu cachorro de Gengibre, seu companheiro fiel há seis anos.

“Trilhar os caminhos da Ciência é uma experiência indescritível e singular e sou grata a todos que contribuíram e contribuem para minha jornada. Desejo que muitos alunos e alunas possam experimentar o sabor do descobrimento científico”, finaliza a cientista.