A Academia Chinesa de Ciências (CAS, sigla em inglês) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) estão organizando um workshop conjunto sobre Mudanças Climáticas e Sustentabilidade Global em Pequim, entre os dias 1 e 3 de abril, na sede da CAS.
De acordo com o líder brasileiro, o Acadêmico Paulo Artaxo (USP), o Brasil e a China são atores-chave na sustentabilidade global. “Os dois países são parceiros estratégicos e devem trabalhar juntos para benefício mútuo e aprendizado e troca comum”, apontou. Em particular, foi estabelecido entre ambas as nações um diálogo e um mecanismo de cooperação sobre mudanças climáticas e transição verde para aprofundar a cooperação científica em proteção climática, governança ambiental, adaptação ao novo clima e conservação da biodiversidade. “Ambos os países têm comunidades científicas sólidas nessas áreas, e melhorar a cooperação nessas áreas críticas é importante. O workshop preparará uma agenda científica comum nessas áreas e estruturará parcerias sólidas para futuros projetos de pesquisa”, afirmou Artaxo.
Com esse objetivo, o workshop tem foco em cinco áreas temáticas:
1 – Florestas como ferramentas de mitigação para mudanças climáticas
A mudança no uso da terra é uma questão crítica em termos de políticas climáticas para o Brasil e a China. O Brasil se comprometeu a atingir desmatamento zero até 2030. Brasil e China estão fortemente empenhados em restaurar os ecossistemas florestais. Na NDC brasileira, o reflorestamento de 12 milhões de hectares é parte central dos compromissos. A China também está investindo esforços significativos em reflorestamento. Questões-chave incluem: Como as florestas afetam o clima e como podemos melhor usar esse recurso na mitigação de emissões e no amortecimento contra as mudanças climáticas?
2 – Centros urbanos, poluição do ar e mudanças climáticas
No Brasil, 87% da população vive em áreas urbanas, e qualquer estratégia para se adaptar e mitigar as mudanças climáticas envolve nossos assentamentos urbanos. A China está urbanizando rapidamente, com problemas comuns que poderiam ajudar ambos os países a lidar melhor com a urbanização e as mudanças climáticas, fornecendo soluções para nossas populações. Poluição do ar, disponibilidade de água, energia, estratégias de transporte urbano e muitas outras questões não resolvidas em grandes áreas urbanas precisam de soluções baseadas em ciência.
3 – Degradação da terra e desertificação
Grandes áreas do Brasil e da China sofrem processos rápidos de desertificação devido ao aumento das temperaturas e à diminuição da precipitação. Como lidamos com estratégias socioeconômicas viáveis com os milhões de pessoas envolvidas? Como nos adaptamos a essas terras já secas em paisagens semiáridas que estão se tornando áridas? A degradação ambiental também está ocorrendo na Amazônia, com o aumento das temperaturas e a diminuição da precipitação tornando a floresta uma fonte de carbono para a atmosfera global. Ferramentas de diagnóstico para lidar com esse potencial feedback sobre o clima precisam ser desenvolvidas.
4 – Desenvolvimento e aplicações de modelos do sistema terrestre (global e regional)
Aprimorar nossos modelos do sistema terrestre é necessário para desenvolver estratégias para lidar com as mudanças climáticas. Muitos processos importantes ainda não estão incluídos nos modelos globais e regionais. Isso inclui o papel das florestas na mudança do ciclo hidrológico, uma melhor compreensão dos impulsionadores por trás da degradação das florestas tropicais, e assim por diante. Brasil e China têm Modelos do Sistema Terrestre, e este componente estabelecerá um quadro de cooperação nesta área.
5 – Saúde Planetária, Evolução da Terra e Habitabilidade
A Saúde Planetária é uma questão crescente que integra muitos dos tópicos anteriores e abrange a intrincada relação entre o bem-estar da Terra e a saúde de seus diversos ecossistemas, incluindo as inúmeras espécies que os habitam. O conceito enfatiza a importância de preservar e melhorar a saúde de nosso planeta para garantir a sustentabilidade de longo prazo da vida. Envolve a evolução da Terra e como a pesquisa paleoclimática e a emergência climática que enfrentamos hoje podem moldar o futuro de nosso planeta.
Os pesquisadores brasileiros envolvidos são o Acadêmico Paulo Artaxo (IF-USP, temas 1 e 2); André Oliveira Sawakuchi (Geociências USP, tema 5); Júlia Cohen (UFPA, temas 1 e 4); Luiz Augusto Toledo Machado (INPE, tema 1 e 4); Marcos Heil Costa (UFV, temas 1 e 4); Mariana Moncassin Vale (UFRJ, tema 5); Moacyr Araujo (UFPe, tema 5); Ricardo Ivan Ferreira Trindade (IAG-USP, tema 5); Sandra de Souza Hacon (Fiocruz, tema 5); Suzana Maria Gico de Lima Montenegro (UFPE, tema 3); e Tomas Ferreira Domingues (USP-Ribeirão Preto, tema 1).
Conheça aqui os participantes brasileiros.
Os pesquisadores chineses que participarão são Xiaodong Zeng (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 1); Jianchu Xu (Instituto de Botânica de Kunming, CAS, tema 1); Fang Li (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 1); Zifa Wang (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 2); Xichen Li (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 2); Hang Su (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 2); Xin Wang, (Instituto de Física Atmosférica, CAS, tema 2); Qingcun Zeng (Instituto de Física Atmosférica, CAS, temas 3 e 4); Jiang Zhu, Instituto de Física Atmosférica, CAS, temas 3 e 4); He Zhang, Instituto de Física Atmosférica, CAS, temas 3 e 4); Peng Peng (Instituto de Geologia e Geofísica, CAS, tema 5); Zhao Xixi, Universidade do Sul da Ciência e Tecnologia, tema 5); Kuang Hongwei (Instituto de Geologia, Academia Chinesa de Ciências Geológicas, tema 5); e ZhaoTaiping, Instituto de Geoquímica de Guangzhou, CAS, tema 5).