Promovendo o diálogo entre a gestão de recursos para a pesquisa e a sociedade, a Faperj realizou o primeiro encontro científico para apresentação e discussão dos resultados dos projetos aprovados no edital Redes em Nanotecnologia. Lançado pela Fundação em 2019, o edital destinou recursos da ordem de R$ 30 milhões para apoiar a organização de redes interdisciplinares de pesquisa na área de nanotecnologia e novos materiais em território fluminense. Ao todo, foram articuladas sete redes voltadas a esse campo de pesquisa inovador, com potenciais impactos em diversos setores da economia do estado do Rio de Janeiro.
Durante a abertura do evento, realizado no auditório da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o presidente da Faperj [e Acadêmico] Jerson Lima, recordou o momento da criação do programa Redes em Nanotecnologia. “Estávamos no fim de 2018, quando voltei a assumir a Presidência da Faperj, e no momento em que pensei em estabelecer um programa estruturante para a Ciência fluminense me veio à cabeça a implementação de redes em nanotecnologia. Investir nessa área, estratégica para o desenvolvimento estadual, é um diferencial para atrair novas parcerias e, ao ver os resultados apresentados pelas sete redes, fico certo de que foi uma boa decisão”, refletiu.
Representando o Conselho Superior da Faperj, o professor titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ), [o Acadêmico] Wanderley de Souza, que é assessor da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), também integrou a mesa de abertura do encontro. “O Conselho Superior já vem há algum tempo reforçando a necessidade da realização de avaliações dos editais especiais da Faperj, como este de Nanotecnologia e muitos outros, como o Pensa Rio e o Redes em Saúde. É importante avaliar os resultados até para podermos decidir pela continuidade ou não do edital, e pelo estabelecimento de parcerias com outras agências de fomento à pesquisa voltadas a essas iniciativas”, justificou.
Coordenador do encontro e assessor especial da Presidência da Fundação, o químico [e Acadêmico] Vitor Ferreira falou sobre a importância da apresentação dos trabalhos das Redes de Nanotecnologia. “Esse encontro é uma forma das redes contempladas prestarem contas à sociedade dos recursos públicos concedidos pela Fundação, em termos de formação de pessoal, produção e outros critérios de avaliação normalmente usados na academia. É também importante para as pessoas em geral e a comunidade científica conhecerem a relevância das atividades desenvolvidas por essas redes, que envolvem uma quantidade imensa de pesquisadores”, disse. Também participaram da mesa o diretor de Tecnologia da Fundação, Aquilino Senra, e o assessor da Diretoria Científica Luís Cristóvão Porto. A mediação foi da assessora da Diretoria Científica, Luciana Lopes.
A nanotecnologia está presente em muitos materiais, como tecidos especiais, cateteres, implantes, protetores solar, coberturas resistentes e muitos medicamentos. Ela utiliza materiais em escala atômica e molecular e, portanto, abrange várias áreas e diversas aplicações. De tamanhos nanométricos – unidade de medida que corresponde a um milionésimo do metro – esses materiais têm propriedades especiais diferentes dos materiais macroscópicos, representando um desafio para os pesquisadores, que necessitam de métodos e equipamentos de alta precisão para prepararem nanopartículas e elucidarem suas propriedades. Na área de medicamentos, a nanotecnologia permite a redução da toxicidade dos fármacos e da dose efetiva recomendada, e torna o direcionamento mais eficaz dos princípios ativos dentro das células, pois por serem minúsculos, são capazes de atingir alvos específicos no corpo humano.
“Um exemplo concreto das aplicações em nanotecnologia para a Saúde desenvolvidas pela nossa rede é o uso de nanopartículas de ouro, mucopenetrantes, para o tratamento da asma, no Laboratório da Inflamação, do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz”, explicou Marco Aurélio Martins, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que coordena a Rede Rio de Inovação em Nanossistemas para a Saúde/NanoSaúde. O projeto envolve 26 laboratórios, quatro hospitais e pesquisadores de sete áreas (Química, Física, Farmácia, Odontologia, Medicina, Biologia e Engenharias). “Também estudamos sistemas nanoestruturados com o objetivo de desenvolver novas terapias em doenças crônico degenerativas, infecto parasitárias e no câncer”, completou.
Outros exemplos de como a nanotecnologia pode revolucionar o cotidiano das pessoas foram demonstrados durante a apresentação dos produtos desenvolvidos pela Rede 4:Pesquisa Cooperativa em Materiais Nanoestruturados e Engenharia de Dispositivos Funcionais. “Desenvolvemos nanomateriais para aplicação em diversas áreas, como eletroeletrônicos, saúde, construção civil, indústria do óleo e gás, embalagens, robótica e energia verde. Entre eles, estão nanopartículas para a fabricação de revestimentos anticorrosivos e adsorção de metais pesados, como ocorre nos casos de derramamento de óleo no mar”, citou a coordenadora da rede, Bluma Guenther Soares, professora da UFRJ. “Nossa rede envolve 36 pesquisadores de cinco instituições fluminenses, UFRJ, Uerj, PUC-Rio, UFF, UFRRJ e IME. Várias pesquisas de ponta foram desenvolvidas e muitas estão em andamento com esse apoio concedido pela Faperj, fundamental também para o desenvolvimento de recursos humanos”, acrescentou.
As sete redes estabelecidas pelo programa são: Rede 1: Rede Fluminense para a Pesquisa e Desenvolvimento de Nanomateriais Nanobiosistemas, coordenada por Carlos Alberto Achete (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro); Rede 2: Aplicação de nanoprodutos com atividades farmacológicas, odontológicas e nutricionais visando promover e/ou manter a saúde humana, coordenada por Carlos Adam Conte (UFRJ); Rede 3: Dispositivos Nanoestruturados: da modelagem à nanofabricação, coordenada por Fernando Lázaro Freire Junior (PUC-Rio); Rede 4: Pesquisa Cooperativa em Materiais Nanoestruturados e Engenharia de Dispositivos Funcionais, sob a coordenação de Bluma; Rede 5: Consolidação de rede multidisciplinar (NanoSaúde) para o desenvolvimento translacional de nanoprodutos para o diagnóstico, tratamento de tumores, traumas e doenças degenerativas, coordenada por Alexandre Malta Rossi (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas – CBPF); Rede 6: Rede Rio de Inovação em Nanossistemas para a Saúde/NanoSaúde, coordenada por Martins; e Rede 7: Desenvolvimento de Sistemas Poliméricos Nanoestruturados Aplicados a Embalagens Alimentícias Ativas e de Revestimento para Nutracêuticos, sob coordenação de Maria Inês Bruno Tavares (UFRJ).