O engenheiro mecânico Jaime Andrés Lozano Cadena, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca-se como especialista em tecnologias inovadoras de refrigeração. Entre suas contribuições científicas e tecnológicas estão o desenvolvimento do primeiro protótipo de refrigerador magnético do hemisfério Sul e o primeiro protótipo TRL-6 no mundo em climatizar um ambiente usando refrigerantes sólidos.

Talvez as gerações mais jovens não tenham vivenciado a questão do buraco na camada de ozônio, um dos temas ambientais mais significativos das últimas décadas. Essa camada, composta principalmente por gás ozônio (O₃), desempenha um papel vital como um escudo protetor da atmosfera contra os raios ultravioleta emitidos pelo Sol, sendo um elemento crucial no equilíbrio climático terrestre.

O problema é que essa proteção esteve ameaçada. Desde os anos 80, cientistas do mundo todo começaram a alertar sobre um buraco em expansão na camada de ozônio, consequência da destruição causada, principalmente, pelos gases clorofluorcarbonos (CFCs), muito utilizados em equipamentos de refrigeração.

Em um exemplo prático da interação entre a ciência e a política, autoridades globais reagiram com medidas rigorosas para restringir o uso de CFCs, enquanto a comunidade científica continuou a gerar inovações que possibilitaram a substituição dessas substâncias por tecnologias menos prejudiciais ao meio ambiente. O resultado dessa colaboração notável foi que a camada de ozônio deixou de ser uma preocupação iminente, e estima-se que ela se recupere completamente até 2040.

Uma dessas tecnologias inovadoras é a refrigeração magnética, que tem sido objeto de estudo do membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Jaime Lozano. Essa abordagem inovadora utiliza refrigerantes sólidos, cuja temperatura varia devido à aplicação de campos magnéticos. Dessa forma, consegue-se o mesmo efeito de refrigeração, com uma potencial redução no consumo de energia e sem o uso de gases CFCs.

Durante seu doutorado, Jaime Lozano conquistou destaque ao desenvolver o primeiro protótipo de refrigeração magnética do hemisfério Sul. Esse feito notável lhe rendeu o Prêmio Capes de melhor tese de doutorado defendida em 2015 no Brasil, na área de Engenharias III.

Colombiano, natural da capital, Bogotá, Jaime queria ser cientista desde criança. Aos nove anos teve a oportunidade de visitar a Nasa, numa viagem com a família, e decidiu que queria ser “um astrônomo que faz naves espaciais”. Ele ainda não percebia que essas duas áreas são bem diferentes e que sua paixão por tecnologias inovadoras se encaixava melhor na engenharia mecânica.

Mas a mecânica não foi sua primeira opção. No ensino médio, graças à influência de um bom professor, Jaime se encantou pela química, através dos vários experimentos práticos com que teve contato em sala de aula. A partir daí, o Acadêmico decidiu que queria ser químico, mas como o curso de química pura não existia na Universidade dos Andes, onde se inscreveu, optou pela engenharia química. “Gosto bastante dessa área e, apesar de ter me tornado engenheiro mecânico, meus trabalhos sempre se relacionaram com a química, especialmente através das ciências e engenharia dos materiais”, refletiu. 

Ao longo da faculdade, Jaime percebeu que poderia conciliar os cursos de engenharia química e engenharia mecânica, mas a última acabou virando seu foco. “Percebi que a mecânica tinha mais o meu perfil, especialmente pela minha paixão pelas máquinas e por ver as coisas funcionando”, contou.

A prática laboratorial era bastante presente no currículo da universidade e isso o fascinava. Ao fim do curso, o caminho de Jaime se entrelaçou com o Brasil, quando teve a oportunidade de fazer seu trabalho de conclusão na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob orientação do professor Paulo Wendhausen. O estudo sobre a produção de ligas magnéticas moles de ferro e cobalto (Fe-Co) introduziu o cientista na área de campos magnéticos, o que se desdobrou até suas pesquisas atuais.

A parceria com o professor Wendhausen continuou no mestrado, quando também foi coorientado pelo engenheiro, pesquisador e professor Alvaro Toubes Prata, atualmente diretor da ABC. Nessa etapa, Jaime estudou a síntese e a caracterização dos materiais refrigerantes sólidos e teve a oportunidade de passar um período na Universidade Técnica de Delft (TUDelft), nos Países Baixos, acompanhando um dos grupos que trabalham na fronteira do conhecimento desse campo. Ao retornar ao Brasil, Jaime estava obstinado em demonstrar a aplicação prática de seus estudos e embarcou no que seria o grande divisor de águas de sua carreira, o doutorado.

De volta à UFSC, agora sob orientação do professor Jader Riso Barbosa Junior, ele topou o desafio de desenvolver o primeiro protótipo de refrigeração magnética do hemisfério Sul. Graças à infraestrutura do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Refrigeração e Termofísica (INCT RT-Polo) do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, e a um período na Universidade Técnica da Dinamarca (DTU), ele conseguiu tirar do papel seu projeto inovador.

Desde então, Jaime Lozano segue trabalhando para desenvolver inovações nacionais. Entre elas, destaca a criação de uma adega de vinhos e de um ar-condicionado com a tecnologia de refrigeração magnética, cujo processo de funcionamento é explicado em ótimos vídeos de divulgação científica no canal do YouTube do INCT RT-Polo. Em março de 2023, o Acadêmico ingressou como professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na área de ciências térmicas.

Atualmente, ele vem trabalhando em outras frentes de pesquisa, especialmente voltadas para as tecnologias de hidrogênio, liderando um projeto de gerenciamento térmico em células de combustível e desenvolvendo trabalhos sobre liquefação do hidrogênio. “Eu gosto de ver as coisas funcionando, tenho paixão pela experimentação e pelos desafios tecnológicos”, relatou. “Também gosto de interagir com pessoas e sempre tive facilidade em coordenar pessoas, recursos e projetos. Gosto dos desafios e me encantam as discussões técnicas, científicas e filosóficas”.

Agora na ABC, o Acadêmico se diz honrado e toma para si a responsabilidade de lutar pela ciência brasileira. “Espero contribuir para a revitalização da ciência nacional, expondo os desenvolvimentos científicos e tecnológicos que temos realizado no INCT RT-Polo da UFSC. Estou sempre buscando caminhos para impulsionar a ciência no nosso país”, afirmou.

Além do fascínio por ciência e tecnologia, Jaime Lozano é também um apaixonado por futebol, o que o ajudou a se adaptar rápido ao Brasil. É sempre um dos líderes na hora de organizar peladas com os amigos e adora atividades físicas como trilhas e ciclismo. Em casa, é um apaixonado por cultura, estando sempre rodeado por livros, músicas, filmes e poesias. “Assim como Maria Bethânia, eu também já não posso viver mais sem o Fernando Pessoa e a Clarice Lispector”, afirmou.