Integrando o evento “Promovendo Igualdade de Gênero na Ciência“, uma iniciativa da Academia Brasileira de Ciências em parceria com a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) e a Representação da Academia Mundial de Ciências para América Latina e Caribe (TWAS-Lacrep), a sessão “Promovendo a Equidade de Gênero na Ciência: Experiências Brasileiras” apresentou ao público dez projetos. Vamos conhecer, de início, três deles.
Contando Nossa História
Abrindo a sessão, a física Katemari Rosa apresentou seu projeto “Contando Nossa História”, de história oral. “Nesse projeto, os participantes coletam histórias de cientistas negros e cientistas negras do Brasil”, explicou a doutora em Educação Científica pela Universidade de Columbia, nos EUA, e colaboradora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
Além disso, o projeto tenta reproduzir materiais que possam ser utilizados em sala de aula e ten divulgação científica. O projeto possui um portal online, onde essas ações citadas estão integradas no portal e em redes sociais.
O projeto tem duas inspirações. A primeira delas é o Instituto Americano de Física, que possui um enorme arquivo de história oral e coleta histórias de cientistas do mundo inteiro, algo que não existe no Brasil. A segunda inspiração é o Instituto de Física do Reino Unido que também possui material sobre grupos que são subrepresentados nessa área. A ideia principal do projeto é construir novas narrativas da ciência brasileira e mostrar a pluralidade da ciência. E, a partir desse material coletado, produzir material de licença livre para divulgação científica.
Katemari destaca que o projeto é relevante pois permite que pessoas negras se enxerguem nessa posição, de cientistas. Mas também que as pessoas brancas enxerguem a mesma coisa: existem negros e negras fazendo ciência. Além disso, indiferente à raça, é comum que se pense na produção científica relevante como algo externo ao Brasil. Por essa razão, o projeto também é importante pois mostra que ciência é algo feito também aqui e não apenas nos Estados Unidos ou na Europa.
A palestrante comentou que apenas em 2013 o país começou a coletar dados relacionando raça e produção científica. Logo, os dados que estão disponíveis sobre o tema são pouco e bastante recentes. Apesar disso, o portal conta entrevistas, biografias, materiais de divulgação e propostas didáticas. Como exemplo, ela mostrou a proposta sobre Sônia Guimarães, a primeira física negra do Brasil. Na proposta, os estudantes aprendem sobre a história de Sônia e também sobre sua pesquisa com semicondutores.
Katemari comentou, porém, que o primeiro grande trabalho que eles têm é identificar nomes que possam figurar no portal. Segundo ela, isso acontece porque há um “apagamento” da negritude também na ciência, visto que o meio científico não é descolado do resto da sociedade. Outras limitações que o projeto encontra são relacionadas aos custos e à formação da equipe. Por exemplo, para as entrevistas, que são feitas dentro da metodologia de história oral, é necessário uma pessoa capacitada para tal, juntamente com as outras funções que envolvem as gravações.
Por fim, Katemari ressaltou a importância de pensar nas intersecções de raça, sexualidade, geografia e situação socioeconômica ao se pensar na ideia de mulher. Ou seja, é importante pensar nessa pluralidade de corpos. Ainda afirmou que, na sociedade em que vivemos, não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista, isto é, promover ações que combatam o racismo.
Engenheiras da Borborema
Doutoranda em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a cientista Milena Marinho Arruda apresentou o Projeto Engenheiras da Borborema, do qual é a atual coordenadora. A iniciativa é organizada pelo grupo Mulheres na Engenharia do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos da UFCG.
Visando inspirar, motivar e inspirar meninas e mulheres a seguirem carreiras nas áreas de exatas, o projeto promove oficinas e debates em escolas da rede pública abordando temas como eletrônica, informática, energias renováveis e programação. As atividades, conduzidas apenas por mulheres, incluem também rodadas de palestras sobre mulheres nas ciências, cine debate, visitas técnicas e capacitação de professores/as sobre novas didáticas para as exatas.
Tem Menina no Circuito
A professora de física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tatiana Rappoport, participou do evento apresentando o projeto “Tem Menina no Circuito”. A ideia surgiu do incômodo de um grupo de professoras do Instituto de Física da UFRJ ao refletirem sobre a presença tão pequena de mulheres na física.
Iniciado em 2014, o projeto é realizado no Colégio Estadual Alfredo Neves, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro e tem por objetivo fortalecer o contato entre as meninas e as ciências exatas. Durante as oficinas de eletrônica têxtil e papel, as alunas criam desde circuitos elétricos simples a sistemas mais complexos, como conjuntos de LEDs e motores que respondam a estímulos sonoros.
Confira outros projetos apresentados na sessão “Promovendo a Equidade de Gênero na Ciência: Experiências Brasileiras“:
“Meninas na Ciência”, “Energéticas” e “ProgrAmazonas”
“Meninas no Museu”, “Parent in Science”, “Ciências da Terra – ON” e “NIN A”
Saiba mais sobre o evento “Promovendo Equidade de Gênero na Ciência”:
ABC recebe jovens cientistas das Américas para conferência em sua sede
ABC realiza Simpósio “Meninas na Ciência”
Meninas na Ciência: Uma Aventura no Museu
Mulheres cientistas reunidas em evento no Rio de Janeiro
Promovendo a Equidade de Gênero na Ciência: A Visão das Jovens Cientistas
Meninas e Mulheres presentes na Ciência