A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) recebeu na sexta-feira, 4 de agosto, os cinco novos membros afiliados da Vice-Presidência Regional Sul da ABC, que passaram a compor o quadro de membros por cinco anos. Na data, os novos componentes da Academia foram diplomados e apresentaram suas pesquisas.

Foram convidados a compor a mesa da diplomação o vice-presidente da ABC, João Fernando Gomes de Oliveira ; o vice-presidente da regional Sul, João Batista Calixto ; o reitor da UFSC, Luis Carlos Cancellier e o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV Cesar Zucco Junior.

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Para Cancellier, reitor da UFSC, a cerimônia de diplomação para seus membros afiliados que é realizada pela ABC significa um rito de passagem e uma perspectiva de carreira consolidada para esses cientistas. Ele mencionou a grave crise política e financeira do país ao dizer que o quadro é de incertezas, mas que elas não podem abalar completamente o andamento da ciência. “A incerteza faz parte da ciência, mas não pode ser um estado constante. Temos que pleitear, reclamar, mas não abandonar totalmente nossas funções, e por isso essa é uma data tão importante”, ressaltou.

O cientista político César Zucco também reforçou a necessidade de luta pelo entendimento da importância da ciência, tecnologia e inovação (CT&I) na sociedade em tempos de crise, e ressaltou o papel de jovens cientistas nesse momento: “Nós precisaremos muito desse pessoal jovem. Não percam as esperanças porque essa crise, apesar de longa, passará, e serão vocês que influenciarão as pesquisas no futuro”, disse Zucco, dirigindo-se aos afiliados.

Inovação e ciência
joao_fernando.jpgJoão Fernando Gomes de Oliveira afirmou que a ciência não pode ser vista como algo apenas utilitário, que visa apenas obtenção de lucro. “A cultura científica cria valores culturais e sociais que faz com que cidadãos tenham uma qualidade de vida diferenciada”, defendeu ele. Reforçou, no entanto, a necessidade de se mostrar também o impacto social da pesquisa, os resultados para a população, principalmente em uma fase de crise, na qual a função da ciência tem sido posta em cheque em diferentes instâncias de gestão e no mundo todo.

Oliveira criticou a manutenção apenas do modelo linear de se fazer ciência, no qual, a partir de um novo conhecimento, é possível criar-se uma oportunidade de aplicação, e defendeu que haja também estímulo ao modelo circular, conhecido como Quadrante de Pasteur, no qual há uma articulação entre ciência e demanda e, a partir de uma necessidade de aplicação, descobrem-se os desafios e criam-se competências orientadas ao impacto. “No modelo atual, eu também produzo conhecimento relevante, mas como o processo é bastante desarticulado, a aplicação dos conhecimentos fica mais distante. Portanto é urgente promover essa articulação”, defendeu o Acadêmico.

Em relação à articulações, o pesquisador salientou a necessidade de integração tanto entre áreas do conhecimento quanto em esferas de gestão. Para Oliveira, um centro de pesquisa integrado funciona sob o sistema de cooperação, no qual diferentes grupos de pesquisadores com diferentes competências reúnem-se em torno de um mesmo problema, emprestando suas capacidades para resolvê-los sob perspectivas diversas. Essa vantagem na cooperação se estende ainda para a relação pesquisa-governos, na qual, para ele, deve haver maior espaço para que a comunidade científica possa sugerir as pautas da nação que podem receber contribuição da ciência.

O Acadêmico observou ainda que a as universidades e centros de pesquisa tem pouco diálogo com o setor empresarial e que esse descolamento não é positivo para o desenvolvimento científico. “As empresas são uma parte da sociedade e se a universidade deve criar benefícios para esta sociedade, a empresa é um dos caminhos para isso”, defendeu.

Como exemplo, Oliveira citou a Embrapii, que configura uma organização social e atua integrando centros de pesquisa e empresas, dissolvendo entraves burocráticos e agilizando os contratos e negociações, fator que é muito necessário para o desenvolvimento da inovação. Os grupos se apresentam à Embrapii com um plano de ação contendo histórico de cooperação com a indústria, visão de futuro dos projetos em termos de arrecadação de receita, valores pré-definidos, equipe técnica e outros detalhes. Uma vez aprovados, eles seguem com os projetos sem que haja a necessidade de solicitar aprovações a cada etapa da pesquisa e a Embrapii avalia os resultados, mantendo ou retirando os grupos, de acordo com o retorno obtido. “A Embrapii permite que não seja necessário pedir autorizações a toda hora, porque o objetivo é impacto rápido e, caso não haja cumprimento do planejamento, a unidade é descredenciada”, explicou.

Conheça os novos membros afiliados da ABC/Regional Sul:

Selênio na resposta cardiovascular
A bioquímica da UFSC Andreza de Bem pesquisa compostos orgânicos sintéticos que contém selênio e suas aplicações.

No mundo dos vírus
Caroline Rigotto é formada em biologia pela UFSC e é professora adjunta da Universidade Feevale. A nova afiliada estuda diagnósticos em virologia.

E de repente, a química
Novo membro afiliado da regional Sul da ABC, Diego Alves é pesquisador da UFPel e desenvolve pesquisa sobre a síntese de moléculas orgânicas com selênio, enxofre e telúrio.

Paixão pela físico-química
Giovani Caramori foi diplomado membro afiliado da ABC para a regional Sul do período de 2017 a 2021 e estuda, na UFSC, ligações de hidrogênio intramoleculares em derivados substituídos do malonaldeído.

Números para entender a natureza
Formada na primeira turma de física da UFSM e pesquisadora da universidade, Solange Fagan se dedica ao estudo da nanociência e nanotecnologia.