Os novos Membros Afiliados ao centro com o presidente regional Oswaldo Luiz Alves e o Acadêmico Fernando Galembeck à esquerda e a Acadêmica Iscia Teresinha Lopes Cendes à direita

Na quinta-feira, 23 de março, “muitos corações passaram a bater mais forte pela ciência” como resumiu o vice-presidente da regional de São Paulo, o Acadêmico Oswaldo Luiz Alves. Mais cinco cientistas passaram a compor o quadro de membros afiliados da Academia Brasileira de Ciências no Simpósio e Diplomação de Novos Membros Afiliados da Regional São Paulo 2016-2020 & 2017-2021, que aconteceu na Unicamp. Os grupos dos dois anos, 2016 e 2017, se reuniram em uma só cerimônia; no entanto os membros eleitos em 2016 já faziam parte do quadro e aguardavam apenas a cerimônia de diplomação e apresentação de seus trabalhos. Ainda assim, apenas nove apresentaram-se no evento, pois um dos novos membros não pôde estar presente e receberá sua titulação no próximo ano.

A cerimônia foi aberta pelo Acadêmico Oswaldo Alves, que lembrou a relevância do encontro de jovens cientistas, que podem iniciar seus contatos e vínculos no universo científico e trocar experiências. Ele ressaltou que a cerimônia de diplomação é um momento para se festejar a ciência, tecnologia e inovação que são simbolizadas pelos novos membros. Foram então convidados a compor a mesa de abertura o vice-reitor da Unicamp e recentemente eleito membro titular da ABC, Álvaro Penteado Crosta (cuja titulação ocorrerá em maio deste ano), a pró-reitora de pesquisa da Unicamp, Glaucia Maria Pastore e o presidente da ABC, Luiz Davidovich.

Crosta comentou a importância do acontecimento no contexto atual: “Neste momento difícil na ciência e política brasileiras, é bom ver jovens entusiasmados com a ciência”. Pastore mencionou em sua fala a importância dos pesquisadores: “Não é fácil colocar a ciência a serviço da sociedade, mas isso se faz cada vez mais necessário”, comentou a pró-reitora.

O Valor da Ciência

Em seguida às falas de abertura, Luiz Davidovich fez sua apresentação sobre o Valor da Ciência. O presidente lembrou que a ciência no Brasil teve um começo tardio em relação a outros países. As primeiras universidades brasileiras foram criadas já no século XX, enquanto que a Universidade de Bologna e Harvard, por exemplo, foram fundadas em 1088 e 1636, respectivamente. E foram essas universidades que formaram pessoal responsável por uma série de avanços científicos e industriais no país. Como exemplo citou a Embraco, maior empresa de compressores do mundo, que nasceu de uma parceria com o Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto de perfuração do solo que levou ao encontro de petróleo no Brasil aconteceu, segundo ele, também graças a cursos de engenharia de faculdades como PUC-RJ (Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro), USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), UFBA (Universidade Federal da Bahia) e outras.

“Há muitos exemplos no país de empresas e inovações que surgiram graças à ciência brasileira. É bom lembrar isso num momento em que o governo faz pouco caso da ciência”, explicou Davidovich. O presidente lembrou ainda da forma como os países desenvolvidos lidam com a ciência em períodos de crise. Mostrou que nos Estados Unidos, 2,8% do PIB são destinados à pesquisa e desenvolvimento (P&D). A União Europeia, por sua vez, tem um acordo para chegar a 2020 com 3% do PIB investido em P&D. A Coreia do Sul e Israel investem mais do que 4% e a Suécia, em 2015, já investia 3%. São países que enxergam uma necessidade de aumento de investimento nessa área exatamente por causa da crise e não de cortes quando a situação se torna crítica, como é feito no Brasil. A ABC, lembrou ele, além de todas as publicações já produzidas, mantém agora o Projeto de Ciência para o Brasil, em mais uma tentativa de mostrar ao governo o que já foi e o que ainda pode ser feito pela ciência.

O presidente ressaltou também a importância da ciência básica, lembrando que ela serve para lembrar quem somos, de onde viemos e como funciona nosso universo. “Na minha área há o exemplo da física quântica. Cientistas homens e mulheres não sabiam para que ela servia no começo, mas estavam apaixonados e curiosos sobre esses estudos e jamais imaginariam que o que estavam fazendo mudaria o mundo. E hoje usamos lasers, chips, relógios atômicos super precisos para GPS, aparelhos de ressonância magnética. A curiosidade desses jovens mudou o mundo”, conta.

Davidovich encerrou sua fala parabenizando os novos Acadêmicos e aconselhando que mantivessem a veia da curiosidade sempre viva. “Persigam essa característica de seus DNAs, que muitas vezes esquecemos por bolsas e editais. Mas o mais importante é manter a paixão e a curiosidade sempre vivas em suas carreiras”, recomendou.

Membros Titulares de Campinas prestigiam o evento

Após a fala do presidente, cada um dos novos membros apresentou seus projetos de pesquisa e os Acadêmicos Fernando Galembeck, do Departamento de Química da Unicamp, e a Acadêmica Iscia Teresinha Lopes Cendes, da Faculdade de Ciências Médicas da universidade, que estiveram presentes para prestigiar o evento, também se apresentaram.

Galembeck tratou em sua apresentação – intitulada “A ignorância debaixo do tapete” – de questões científicas que ainda não foram respondidas e que são deixadas de lado. Como exemplo, citou o atrito, que é responsável pela perda de 1/3 da energia produzida no mundo, e a eletrostática, que tem a capacidade de transformar materiais a princípio simples e seguros como a farinha e o açúcar, em explosivos poderosos. Essas e outras questões científicas, afirmou ele, ainda necessitam de estudo e aprimoramento, mas muitas vezes são tratadas como já resolvidas.

Iscia Cendes falou de sua linha de pesquisa em medicina personalizada e a variabilidade genética da população brasileira. Segundo a Acadêmica, entender a riqueza de genomas que compõem o Brasil é essencial para que se possa fazer uma medicina aplicada às reais necessidades dos brasileiros. “Existem mutações genéticas específicas do Brasil e outras que não acontecem aqui, logo nossos tratamentos e pesquisas devem ser focados”, explica.

Ao fim das apresentações, os Acadêmicos presentes formaram a mesa para a entrega dos diplomas para os novos afiliados. Oswaldo Alves comandou a diplomação e encerrou o evento agradecendo a todos os presentes e aos organizadores. “Ficamos muito contentes de ter esse pessoal jovem, com garra. As dificuldades que estamos
passando são temporárias, nós sabemos que fazer ciência num país como o nosso é uma empreitada de vida. É impossível fazer ciência no Brasil sem crença e o papel da ABC é muito importante nisso, porque nós queremos exatamente que as gerações sêniores tenham contato com as jovens,trocando conhecimentos. O que está em jogo não são carreiras individuais e sim o desenvolvimento do nosso país”, declarou o vice-presidente regional, fechando a cerimônia.

Conheça os novos Membros Afiliados da ABC da Regional São Paulo 2016-2020 e 2017-2021:

Buscando entender a história profunda da vida no planeta
Professor de biologia da USP, Daniel José Galafasse Lahr pesquisa a evolução da linhagem dos organismos eucariontes, especialmente os unicelulares, e busca descobrir todo o histórico evolutivo destas criaturas na Terra.

Desvendando as proteínas cerebrais de pacientes psiquiátricos
O biólogo da Unicamp Daniel Martins de Sousa analisa as proteínas de tecidos cerebrais provindos de indivíduos com distúrbios psiquiátricos, como esquizofrenia e depressão.

Relacionando os microorganismos do solo com sustentabilidade
Fernando Andreote é engenheiro agrônomo da USP e sua pesquisa busca entender os organismos presentes no solo que têm influência direta nos ecossistemas naturais, visando o desenvolvimento de técnicas de agricultura sustentável.

Usando métodos computacionais na descoberta e design de novos materiais
Gustavo Dalpian é físico e trabalha na UFABC, onde busca o entendimento das propriedades de materiais e nanoestruturas do ponto de vista teórico-computacional.

Desenvolvendo vacinas mais eficazes e seguras

Apaixonado pela natureza em geral desde a infância, o biólogo Helder Takashi Imoto Nakaya fez doutorado em bioquímica e biologia molecular, e está estudando atualmente os mecanismos celulares que influenciam as respostas imunológicas às vacinas.

Ciência em benefício da visão e da sociedade
Professor e médico da Unifesp, Luiz Henrique Soares Gonçalves de Lima pesquisa degeneração macular e novas formas de liberação intraocular de fármacos, utilizando autofluorescência e tomografia.

Usando moléculas orgânicas como catalisadores

O professor e pesquisador da UFSCar Marcio Weber Paixão desenvolve novas tecnologias sustentáveis para a síntese de esqueletos químicos com potencial aplicação biológica, utilizando metodologias diversas.

Em busca de novos fármacos e intervenções terapêuticas
O novo membro afiliado da ABC Marco Aurélio Ramirez Vinolo conta que se tornou farmacêutico para reunir duas paixões, a química e a biologia, e hoje busca entender a participação de produtos do metabolismo bacteriano nas ações de microorganismos comensais ou patogênicos sobre o nosso organismo.

Mudando o mundo por meio da ciência
O químico da USP Pedro Henrique Cury Camargo pesquisa o desenvolvimento de estratégias para a obtenção de nanopartículas e nanomateriais com características controladas como tamanho, forma e composição.

Na luta por mais mulheres na ciência
Graduada em ciência da computação e engenharia elétrica, Vanessa Testoni estuda o processamento de sinais e telecomunicações, com foco em codificação de imagens e vídeo. E ainda defende a entrada de pesquisadores na indústria e o aumento do número de mulheres na engenharia e ciência em geral.