Kathia Honório foi uma das muitas crianças que se divertiram com o kit O Pequeno Cientista, brinquedo muito conhecido no Brasil desde os anos 60. Quem a presenteou foi seu tio, que não imaginava a influência daquele mini-laboratório na vida da menina. Kathia tinha dez anos e a partir desse dia começou a se interessar por Química.

“No ensino básico sempre me destaquei nas Ciências Exatas e minha escolha na universidade foi Química”, conta. Durante a graduação, interessava-se muito pela indústria, mas também fez estágios em alguns laboratórios de pesquisa na universidade. “Após a graduação, tive a escolha de partir para a área industrial ou continuar na carreira acadêmica e, com um frio na barriga, decidi me inscrever no mestrado”. Ela não se arrepende: “durante o mestrado me apaixonei pela vida de cientista e não consegui largar mais.”

Sua graduação em Química foi em 1997, pela Universidade de São Paulo (USP), onde também obteve o mestrado e o doutorado em Físico-Química, em 2000 e 2004. Em seguida, Kathia realizou estágio de pós-doutoramento em Química Medicinal e Computacional no Instituto de Física de São Carlos (USP-S.Carlos). Atualmente, é professora da USP e membro titular da comissão de coordenação do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza . Ela tem experiência na área de Química, com ênfase em Química Teórica, atuando principalmente em Química medicinal, modelagem molecular, canabinóides, métodos químico-quânticos e quimiométricos, assim como temas relacionados ao ensino de Química.

O projeto vencedor do prêmio propõe o planejamento de substâncias químicas para a inibição da sinalização TGF-beta que poderão ser utilizadas para o tratamento de várias doenças graves, como fibrose, aterosclerose e câncer. “Em células normais, o fator transformador de crescimento beta (TGF-beta) atua como supressor de tumores” explica a professora, “mas em células cancerosas essa capacidade de inibição é seletivamente perdida e, assim, o TGF-beta torna-se um vilão, induzindo efeitos que causam crescimento e metástase das células tumorais”. Vários estudos indicam que a inibição da sinalização TGF-beta, utilizando pequenas moléculas, pode ser um método eficiente para o tratamento das doenças mencionadas anteriormente. “Desta forma, para realização do projeto de pesquisa serão utilizadas ferramentas computacionais empregadas em estudos de Química medicinal, de fundamental importância no processo de descoberta e desenvolvimento de possíveis novos fármacos”, sintetiza.

Quando se inscreveu no Prêmio, queria conseguir financiamento para suas pesquisas, mas não tinha a dimensão do impacto profissional e pessoal que essa vitória lhe traria. “Após saber que eu era uma das premiadas, um filme passou na minha cabeça: tudo que tive que abrir mão, todos os obstáculos ultrapassados, todo trabalho e dedicação durante minha carreira valeram a pena”, revela. “Além disso, é gratificante fazer parte desse grupo de pesquisadoras reconhecido por entidades de tão alto prestígio”. Com os recursos concedidos, Kathia pretende comprar equipamentos para sua pesquisa, assim como participar de congressos científicos e investir em recursos humanos.

A cientista não se lembra de ter sofrido qualquer preconceito por ser mulher. “Meu lema é: com trabalho, dedicação e competência, todas(os) são reconhecidas(os) algum dia. Claro que as mulheres cientistas, como em toda profissão, têm que enfrentar várias jornadas – como profissional competente, esposa, mãe, filha, mulher – e isso torna a balança um pouco desigual”, reconhece.

Enquanto professora, Kathia Maria Honório já aconselhou muitas alunas. “Sempre digo a elas que devemos ter determinação, foco e dedicação em qualquer atividade a que nos propusermos. Temos que ser persistentes e sempre querer melhorar, aproveitando todas as oportunidades que aparecem”, finaliza.