Membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2007, o pesquisador Rodrigo Reis Soares trabalha com Economia da População. Seu estudo é focado no fenômeno da transição demográfica ocorrida ao longo do último século, uma consequência da redução da mortalidade infantil e do aumento da expectativa de vida em quase todo o mundo.

Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com doutorado na mesma área pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, Soares atua em outros campos de pesquisa que envolvem o funcionamento do governo, as instituições políticas, a violência e criminalidade. “É possível observar fenômenos sociais das mais diversas esferas sob o prisma da Economia”, destaca o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Nascido em 1971, o economista carioca viveu a infância em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. Quando criança, Rodrigo gostava de jogar bola e ouvir música. Ele conta que foi apenas na adolescência que passou a ler muito e a se interessar por aspectos mais intelectuais. O pesquisador relata que foi a convivência com vários cientistas sociais no círculo familiar que lhe despertou o interesse pelo mundo da pesquisa. No ensino médio, por gostar um pouco de todas as áreas, a idéia de cursar Economia atraía muito Soares, uma vez que poderia integrar conhecimentos distintos, como a história e a matemática.

Desde o início da faculdade, Rodrigo Soares se interessava muito em escrever e analisar dados. “Eu adorava esse lado mais abstrato dos aspectos científicos e metodológicos”, complementa. Determinado a seguir a carreira acadêmica, Soares cursou o mestrado em Economia na PUC-Rio que, tradicionalmente, possui uma conexão muito forte com o exterior. “Temos que estar sempre conectados com a comunidade internacional”, ressalta. O economista acredita que em países do primeiro mundo o aluno é exposto a uma variedade de campos que não existe no Brasil. “Por melhor que estejamos hoje, ainda não atingimos o mesmo nível de excelência”, conclui.

O pesquisador explica que um dos seus principais focos de pesquisa – a Demografia Econômica – analisa, entre outros aspectos, de que forma uma mudança na saúde da população afeta outras dimensões do comportamento social. De acordo com Soares, com a redução do tamanho típico das famílias brasileiras, o nível educacional foi ampliado, assim como a urbanização. “Observamos quais foram os determinantes deste processo, de que forma e porque ele aconteceu. A maior parte das pessoas não tem a perspectiva de quão drásticas foram as transformações no último século”, arremata. Para ilustrar, ele informa que na década de 50 no Brasil a esperança de vida era em torno dos 50 anos e, hoje, está próxima dos 75. “Na geração dos nossos pais ou avós, o número de filhos que uma família tinha era de quase sete e, atualmente, esta quantidade passou a ser de apenas duas a três crianças”, exemplifica.

Segundo o professor, quando a mortalidade infantil é muito alta – chegava a quase 40% em alguns países – um casal se sente obrigado a ter mais filhos para garantir a sobrevivência e a reprodução, o que resulta em um elevado custo de criação. “Com a melhora da saúde e da perspectiva de vida essa necessidade biológica diminui. As pessoas passam a ter menos filhos, a serem mais produtivas no trabalho e adquirem mais capital humano. Com mais recursos e menos filhos, os pais investem na educação e saúde das crianças”, destaca.

Soares esclarece que essas mudanças, aos poucos, moldam o perfil etário da população brasileira. “Hoje, nós passamos pela fase do dividendo demográfico que ocorre quando o país tem uma porcentagem muito baixa de cidadãos jovens”, elucida. O estudo aponta que, no futuro, o Brasil terá que enfrentar o desafio de sustentar mais idosos através do sistema de assistência pública. De acordo com o cientista, o dado positivo é que, provavelmente, a população será mais saudável e poderá trabalhar até mais tarde. “Teremos que rever as regras que foram criadas, com o enfoque de aumentar a idade das aposentadorias”, observa.

O economista acrescenta outro aspecto benéfico: os jovens irão gerar mais riquezas, serão profissionais mais capacitados e produtivos. Ele afirma que por existir uma parcela menor de crianças, o país deve aproveitar a oportunidade para investir de forma efetiva na qualidade da educação brasileira. “Há vinte anos atrás, a taxa de matrícula era muito pequena. Hoje, quase 100% dos estudantes com menos de 14 anos estão inseridos no sistema de educação, o primeiro passo para melhorar o ensino”, reflete.

Rodrigo Soares acredita que as políticas macroeconômicas básicas do governo Lula colocaram o país em uma posição melhor frente à crise internacional, que, segundo ele, será dura para todo mundo. “Circunstâncias difíceis acontecem e não há mágica que se possa fazer”. A diminuição da demanda dos bens que o Brasil exporta e o retorno do capital estrangeiro que estava investido no país foram apontados por ele como conseqüências naturais do período econômico. Em sua opinião, esse movimento acontece porque os recursos de fora são utilizados para pagar dívidas ou retirados por pessoas que estão preocupadas com a solidez do sistema e consideram a moeda americana mais estável e segura.

O professor afirma que em curto prazo as políticas de Barack Obama poderão gerar empregos e impedir a falência de determinados bancos, mas, no futuro, o dinheiro gasto pelo governo irá gerar um grande rombo nas contas públicas. “As próximas gerações terão que pagar mais impostos. Nada é de graça”, enfatiza.

Soares acredita que a sua indicação para membro afiliado da Academia será uma boa oportunidade para mostrar que a ciência econômica não é o debate macroeconômico que está no jornal.

“Economia não é adivinhação sobre o que vai acontecer com as taxas de juros ou com a inflação. Existem pesquisas cientificamente sérias e profundas voltadas para a compreensão de fenômenos complexos que serão relevantes para desvendar o que acontece hoje e o que iremos viver no futuro”, garante Soares que, a partir da observação da realidade e do cotidiano, busca traduzir o impacto das mudanças sociais no comportamento humano.