A laureada Rubiana Mara Mainardes graduou-se em farmácia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e obteve o título de mestre (2004) e doutora (2007) em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora adjunta da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Rubiana atua como pesquisadora na área de Tecnologia Farmacêutica.
Nascida em Curitiba, no Paraná, mas criada na pequena Castro, cidade a 150 km da capital, a pesquisadora conta que seus pais sempre trabalharam fora e não cursaram o ensino superior. Todas as manhãs e nas horas em que não estava estudando, ela ficava com a avó materna. “Minha mãe era funcionária do estado, exercia a função de auxiliar administrativo em unidades básicas de saúde da cidade, e meu pai era funcionário da prefeitura, trabalhava com contabilidade”, conta Rubiana.
Seu irmão, dez anos mais velho, ingressou na universidade praticamente na mesma época que ela, formando-se em Ciências Contábeis. Na infância, Rubiana adorava andar de bicicleta e gostava de biologia, química e matemática. “Tinha uma facilidade maior com essas matérias. Nunca tive um desempenho muito bom em história e geografia”, conta.
Sempre muito curiosa, Rubiana procurava entender o porquê das coisas. “Queria fazer algo que pudesse ajudar as pessoas, portanto a área da saúde sempre foi meu foco, mas não imaginava que seria pesquisadora”, relata, acrescentado que pensava em trabalhar em contato direto com as pessoas, fazendo o possível para contribuir para a melhoria do sistema de saúde. “Eu sempre gostei muito de ler e estudar. Desde pequena, minha mãe dizia: Filha, a única herança que posso te deixar é o estudo, farei tudo o que for possível para que você tenha a oportunidade de estudar. Sempre tivemos muitos livros e enciclopédias. Eu os devorava”.
Na graduação, a pesquisadora não chegou a fazer iniciação científica (IC) “oficialmente”, mas participou voluntariamente de alguns projetos. “Na época, havia poucas vagas para IC no curso de farmácia, e, como eu morava em outra cidade – me deslocava diariamente de Castro para a UEPG -, acabou se tornando inviável”, relata. Ao longo do curso, ela foi percebendo que a área oferecia muitas possibilidades distintas de atuação e se apaixonou pela farmacologia. “Fiquei mais interessada quando vi o quanto era incrível o enlace entre a farmacologia e a tecnologia farmacêutica, ou seja, a possibilidade de utilizar formas farmacêuticas inteligentes para aprimorar fármacos que apresentam limitações, sejam farmacocinéticas ou toxicológicas”.
No último ano do curso, Rubiana começou a procurar um mestrado que tivesse como linha de pesquisa o desenvolvimento de sistemas de liberação controlada de fármacos. “Tive como indicação um grupo da UNESP e, nas férias de julho, fui até lá fazer uma visita, conhecer os laboratórios e conversar com os professores”, diz. “A partir disso, eu nem cogitava a possibilidade de fazer outra coisa após formada, queria ser pesquisadora. Lia na internet tudo sobre nanopartículas e a sua utilização na área química e farmacêutica. O mestrado se tornou a minha meta e fui em busca dele”.
Quando ingressou no curso, Rubiana viu que tinha feito a escolha certa. Para ela, a nanotecnologia é fantástica. “Não achava penoso ter que ir ao laboratório no fim de semana ou à noite. Na verdade, eu achava isso o máximo”. O doutorado, segundo a pesquisadora, foi conseqüência, pois ela permaneceu no mesmo laboratório, trabalhando com nanotecnologia, porém com outro orientador. “Foi um período muito importante na minha vida, amadureci muito”, confessa.
Em seu trabalho, a laureada procura desenvolver um novo medicamento à base de anfotericina B, que é um antifúngico muito utilizado, principalmente em pacientes com AIDS, mas que causa vários efeitos colaterais como, por exemplo, problemas renais. “O recurso usado para desenvolver esse medicamento é a nanotecnologia, uma ciência que consiste na produção de um material que, quando administrado no nosso organismo, apresenta melhor atuação do que os medicamentos convencionais, como comprimidos e cápsulas”, explica. O objetivo da pesquisa é a formulação de nanopartículas de Anfotericina B, que serão testadas em fungos e em animais de laboratório para verificar se os efeitos tóxicos diminuiram.
Com a vida profissional, Rubiana concilia a pessoal, uma tarefa que “não é fácil para qualquer mulher”. “A minha profissão tem um diferencial que talvez a maioria das outras não tenha, que é o fato de sempre trazer trabalho para casa. Isso é um fator complicador”. Após o nascimento da filha, a pesquisadora não encontrava muito tempo para cuidar de si. “Após os meses de licença maternidade, foi muito difícil o retorno às minhas atividades, por que eu queria ficar com minha filha o tempo todo. Hoje ela tem três anos e meio, já passa meio período na escola e posso dizer que voltei completamente à minha rotina profissional”, esclarece.
De noite e nos finais de semana, Rubiana aproveita da melhor maneira seu tempo com a filha, porém também tenta encaixar um horário para conseguir deixar as tarefas do trabalho em dia. “Além das aulas e atividades de pesquisa e orientação, atualmente sou coordenadora do curso de Mestrado em Ciências Farmacêuticas, associação entre a Unicentro e a UEPG. Portanto, meu volume de trabalho aumentou ainda mais”.
Ainda assim, a pesquisadora ama o que faz. “Na minha área, o que mais me fascina é como a organização de moléculas é capaz de produzir materiais que apresentam propriedades tão distintas e complexas e que, no nosso organismo, se comportam de maneira tão espetacular”. Entre as qualidades fundamentais para ser um cientista, Rubiana destaca a curiosidade intelectual, a satisfação em estudar, a determinação, a persistência e, principalmente, a paixão.
“Sei que muitos jovens almejam trilhar o caminho que segui. A eles perguntaria, primeiramente, se na realização de um trabalho eles apresentam características como determinação e dedicação. Se a resposta for positiva, diria que são bons candidatos para a área”, observa a laureada. Para ela, a vida de um cientista é repleta de desafios e de perguntas a serem respondidas, o que fazem dessa profissão fascinante e única.
Por fim, Rubiana acentua a importância de ter recebido o Prêmio Loreal-ABC-Unesco, que, a seu ver, representa um reconhecimento do que fez até agora, dos passos que tem dado desde o término do doutorado e uma reafirmação de que ela se encontra na trajetória certa. “É um incentivo para realizar novos projetos. A visibilidade do trabalho aumenta, portanto considero essa iniciativa louvável, não só por ressaltar a mulher no contexto da ciência, mas porque a ajuda financeira é importante para o crescimen
to do laboratório e para a aquisição de materiais de pesquisa”, diz. “Certamente, se tivéssemos mais iniciativas como esta no Brasil, estaríamos em uma situação melhor”.