Membro titular da Academia Brasileira de Ciências faleceu aos 96 anos. Confira homenagem escrita por quatro de seus alunos:

Com profunda tristeza, informamos o falecimento do Professor Milton Luiz Laquintinie Formoso ocorrido nesta madrugada, dia 15 de março de 2024. Com pesar e gratidão, prestamos nossa homenagem a uma figura inigualável, cuja partida deixa um vazio imensurável no mundo da ciência e da educação. Nascido em Pelotas, RS, filho de Sylvio Garcia Formoso e Maria Laquintinie Formoso, veio de uma família de educadores (como seu avô e bisavô), inspirado desde cedo pelo legado de seus antecessores.

Desde seus primeiros anos, mostrou-se destinado a uma vida de dedicação ao conhecimento. Seu percurso acadêmico, desde os primeiros anos de estudo no Rio Grande e Pelotas até sua graduação em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi marcado pela vontade de ser um cientista. Ao ingressar na Escola de Engenharia da UFRGS, iniciou sua jornada de pesquisa e descoberta, culminando em seu doutorado no Anortosito Capivarita e também em suas especializações em Geoquímica em renomadas instituições nos Estados Unidos e na França. Foi um dos pioneiros no estudo de argilominerais no Brasil. Incorporou a geoquímica analítica e com isso ampliou as fronteiras do curso de geologia para as gerações de pesquisadores desde então.

Milton Luiz Formoso

Ao longo de sua distinta carreira acadêmica, o Professor Formoso orientou e inspirou inúmeras mentes brilhantes, deixando sua marca indelével não apenas na pesquisa científica, mas também na formação de novas gerações de cientistas. Membro da Academia Brasileira de Ciências (1992), Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998), Comendador (2002) e Grã-Cruz (2005) da Ordem Nacional do Mérito Científico. Doutor Honoris Causa pela Universidade de Poitiers/França (2005). Medalha de Ouro Henri Gorceix, pela formação de Mestres e Doutores em Geologia (2012). Presidente da Sociedade Brasileira de Geoquímica (1993-1995, 1997-1999 e 2000-2002). Coordenou o importante Projeto de cooperação internacional CAPES/COFECUB (1990-1997 e 2000-2004) com 11 orientações de doutorado em co-tutela com as Universidades de Poitiers e Toulouse/França. Desde 1978 é membro da Association Internationale pour l’Etude des Argiles (AIPEA) e único representante da América Latina do Nomenclature Committee e da International Association of Geochemistry and Cosmochemistry.

Sua trajetória demonstra seu compromisso com o avanço da ciência e sua visão de um mundo onde o conhecimento é compartilhado sem fronteiras. Com entusiasmo dizia: “Pergunte ao velho mestre”. Atuava em Geologia e Geoquímica, com ênfase em alteração de rochas, mineralogia de argilas e processos hidrotermais, principalmente nos seguintes temas: bentonitas e caolins, petrologia e geoquímica de rochas. Publicou mais de 105 artigos científicos, dois livros, 9 capítulos de livros. Orientou 18 doutorados e 30 mestrados.

O Professor Formoso se dedicou igualmente para a construção institucional ao longo de sua trajetória na Universidade. Participou da criação e fundação do Instituto de Geociências da UFRGS em 1957 e criou o Centro de Estudos em Petrologia e Geoquímica (CPGq), dos quais também foi Diretor.

O Professor Formoso era torcedor do Sport Clube Internacional e profundo conhecedor de futebol e da história do colorado. Era um amante da música e grande conhecedor da música popular brasileira. Possuía um senso de humor inteligente e único, que marcava as suas interações pessoais.

Querido Professor Formoso, seu legado de sabedoria, generosidade e paixão pelo conhecimento viverá para sempre. Que sua memória continue a inspirar e orientar aqueles que buscam desvendar os mistérios da natureza e contribuir para o avanço da humanidade. Sua luz continuará a brilhar em cada descoberta e em cada coração que ele tocou.