Está em andamento em João Pessoa uma das mais importantes reuniões de físicos do Nordeste brasileiro. É a 5ª Edição da conferência “Tendências modernas em Teoria de Campo para 2024”. Cerca de 40 cientistas que integram o Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (PRONEX) e convidados de universidades brasileiras, europeias e japonesas apresentam as abordagens mais atualizadas que estão nos desktops dos laboratórios de pesquisa.

Este é o mais antigo grupo de Física em Teoria de Campos no Nordeste, que tem como exponenciais os cientistas Dionísio Bazeia (UFPB) e Francisco de Assis de Brito (UFCG) e também do qual o secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Rubens Freire, foi um dos fundadores e o secretário da Secties-PB, Claudio Furtado, já integrou. O coordenador do evento, o físico Dionísio Bazeia, informa que “o objetivo da conferência é reunir membros da comunidade internacional que atuam em Teoria de Campo e áreas afins”. Este Núcleo de Excelência recebe financiamento por meio do CNPq e contrapartida do governo da Paraíba, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq). Encerra nesta quinta, no Hotel Slavieiro, em Manaíra.

Segundo Bazeia, a Teoria de Campos “foi uma abordagem que foi ganhando novas explicações ao longo do tempo; é o ferramental mais importante para você descrever a natureza íntima da matéria, que são os elétrons, os prótons, os quarks, as partículas elementares: como é que elas funcionam, como é que elas existem? Como é que elas constroem os núcleos, os átomos a organização de galáxias… Tudo isso é a Teoria de Campos que, como a ciência em geral, vai ganhando novos paradigmas”. Estes são os temas abordados pelos cientistas.

Mas na prática, esses estudos resultam em técnicas aplicadas a equipamentos de tomografia computadorizada, por exemplo. O contraste injetado no paciente constrói um campo magnético no corpo o qual é mapeado pelo aparelho. Ou, ainda, o eletromagnetismo que acende as luzes também é descrito dentro dessa teoria. “É uma teoria quase perfeita, já testada em uma parte em 10 bilhões. Uma precisão quase impossível de se chegar, do ponto de vista do dia a dia. É uma descrição que descreve a evolução do universo, as partículas elementares, os grandes aceleradores, com uma definição bastante acurada”, declara o físico e professor da USP, Élcio Adballa.

De acordo com a física, tais campos permeiam todo o espaço, inclusive no cosmos. O professor Élcio Abdalla, coordenador geral do projeto para a construção do radiotelescópio Bingo, dirige as investigações para o campo da energia e da matéria escura. “Quando se olha para o universo, olhamos para a sua constituição de matéria, percebe-se que falta alguma coisa como 95% do universo, é algo que a gente chama de escuro, porque não interage com os nossos objetos, não podemos tocar, não tem como tatear.”

“Então, a pergunta é: como é que a gente descreve hoje essa matéria? Descrevemos de uma maneira que chamamos de fenomenológica, nas equações constitutivas, de uma maneira bastante simplória, digamos assim. Então, eu teria que olhar para a matéria escura como um campo da energia escura. Possivelmente como um outro Campo. Isso é possível? A gente pensa que é isto é provável, eu acho que sim. Se não for assim, teremos mais novidades do que pensávamos, e novas perguntas!”, explica Abdalla, considerando que a partir de informações coletadas pelo radiotelescópio Bingo será possível obter tais respostas.

Como esta edição da conferência da Teoria de Campo tem um escopo geral para aplicações de estudos, viabiliza a participação de pesquisadores de outras linhas como Nicholas Manton, professor emérito de Cambridge, no Reino Unido. Manton é matemático e físico, estudou na faculdade onde Isaac Newton foi professor e hoje dá aulas na maior faculdade de Cambridge, a St. John’s. Seus artigos, cerca de 400, em 40 anos de estudos, são tomados como base para o grupo de estudos do Nordeste.

“Estou interessado em um tipo diferente de pequena física, a nucleofísica, que são os centros dos átomos. É a teoria de campos aplicada aos núcleos, que é um pouco original, mas incomum. É uma ideia quântica, que vem do início do século 20, há cerca de cem anos, e logo percebeu-se que a teoria de campo precisa ser combinada com a teoria quântica para se compreender as partículas elementares, como o elétron. Então um dos primeiros sucessos foi entender o elétron e ele se combina”, explica Manton.

Manton segue afirmando que usar esse tipo de equações é bastante complicado. Ao chegar aqui no Brasil, conhecer e juntar essas ideias com as pessoas aqui estão trabalhando em coisas muito parecidas comprova que essas ideias não estão em um só lugar. “Elas são conhecidas mundialmente e há pesquisadores no Brasil que gostariam de falar e contar suas pesquisas para pessoas da Europa; e nós na Europa, Espanha, Grã-Bretanha, Polônia temos trabalhado juntos. Colaboro com o professor da Polônia, que está aqui, e queremos contar nossas ideias para os brasileiros, mas a maioria aqui é brasileira e estamos aprendendo com eles”, ressalta o professor emérito de Cambridge.