Carlos Henrique de Brito Cruz

O membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Carlos Henrique de Brito Cruz foi reconduzido para mais dois anos de participação no grupo de dez especialistas que assessoram o Technology Facilitation Mechanism (TFM) das Nações Unidas. A ABC esteve envolvida na indicação do Acadêmico que, para este novo termo, assumirá a função de co-presidente do grupo.

Em 2015, a ONU definiu os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, que devem nortear as iniciativas da comunidade internacional e unir esforços de todos os setores da sociedade. Esses objetivos englobam temas como proteção da biodiversidade, controle das mudanças climáticas, promoção da igualdade racial e de gênero, garantia de educação e saúde, entre outros temas fundamentais contemporâneos.

O TFM tem como função auxiliar para que os ODS sejam cumpridos, através do estímulo à colaboração entre países, sociedade civil, setor privado e academia no mundo todo.

Os últimos dois anos

Além de professor titular do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Henrique de Brito Cruz é vice-presidente de Redes de Pesquisa na Elsevier, uma das principais editoras científicas do mundo, e já foi diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ele conta que essa combinação de experiências na academia, setor privado e órgãos de Estado auxiliam seu trabalho no TFM.

“Nesses dois anos, minha atuação principal foi no sentido de conectar as ODS aos órgãos de fomento científico, sobretudo através do Global Research Council (GRS), que reúne algumas das principais agências do planeta. Trouxemos representantes das financiadoras para nosso fórum anual e também participamos de reuniões do GRS, desenvolvemos projetos em cooperação, sempre tendo como objetivo colocar os ODS no foco do investimento em ciência”, afirmou.

Os ODS de destaque no Brasil

Dentro desse trabalho, Brito conta que algumas agências de fomento brasileiras, como a Capes e o CNPq, se destacam no financiamento de iniciativas voltadas à alguns dos ODS. Essa medição é possível através do banco de dados científicos Scopus, que permite cruzar as financiadoras dos trabalhos científicos com os principais temas abordados.

“O ODS 2, sobre erradicação da fome, e os ODS 14 e 15, que tratam, respectivamente, da conservação de biodiversidade aquática e terrestre, são algum dos temas que nossas grandes financiadoras aparecem com destaque. Também se destaca o ODS 7, sobre energias renováveis, somos o único país grande do mundo em que quase metade da matriz energética é limpa, mas tenho a impressão que não nos damos conta disso. Nossos representantes não destacam isso internacionalmente como deveriam”, avalia o Acadêmico.

Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas

O futuro do Technology Facilitation Mechanism

Para os próximos dois anos, quando será co-presidente do grupo de especialistas do TFM, Brito avalia que o mais importante é consolidar institucionalmente o mecanismo, que completou oito anos de existência. “Precisamos criar e conservar essa memória institucional do grupo, para que seja cada vez mais concreto e, ao mesmo tempo, possamos maximizar a participação de todos os países”, afirma.

O Acadêmico defende também que formas de aferir resultados são essenciais e precisam estar sempre sendo pensadas e aprimoradas. “Não se trata só de uma avaliação de resultados finais, mas de acompanhamento dos trabalhos à medida que eles vão acontecendo, para que possam estar sempre sendo aprimorados e consigamos chegar mais próximo dos objetivos em 2030”.

O futuro da Agenda 2030

Mas esse não é um desafio trivial. Para Brito, o cenário internacional de hoje é pior do que o de 2015, quando os ODS foram estipulados. A pandemia de covid-19, os conflitos internacionais e a intensificação da corrida tecnológica entre o Ocidente e a China aumentaram a resistência à transferência tecnológica e à cooperação científica.

“Nós estamos na metade do caminhos e tivemos eventos com os quais ninguém contava. Eu acho possível que várias das metas não sejam atingidas até 2030, mas, ao mesmo tempo, isso não é razão para se dizer que os ODS foram fracassadas. É por causa das ODS que cada um desses objetivos avançou mais do que avançariam em separado. Elas se tornaram foco de várias universidades e institutos de pesquisa ao redor do mundo, o setor privado também está relativamente atento à elas. O que precisamos é aumentar a intensidade da colaboração entre esses setores e, sobretudo, entre os países. Isso foi o que ficou mais difícil nos últimos anos”, avalia.