Leia artigo de opinião do Acadêmico Claudio Landim, coordenador adjunto no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), publicado em O Globo, em 21/1, que foi à China e observou o valor dado à formação universitária, que se reflete também no ótimo desempenho acadêmico dos alunos chineses. Ele é o coordenador geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).

Passei, recentemente, um mês na Universidade de Pequim, conhecida como Beida. Cheguei com conhecimentos rudimentares da cultura chinesa e voltei encantado com a hospitalidade e a extroversão do povo e com o nível acadêmico dos alunos.

Concursos públicos para selecionar os funcionários do Império foram criados há mais de 2 mil anos, durante a dinastia Han (206 a.C. a 200 d.C.) para associar à administração estudiosos bem formados. De modo que a ascensão social por mérito existe na China há 2 mil anos e se reflete atualmente na importância dada à formação acadêmica em todos os estratos da população. Por isso a Universidade de Pequim se vê invadida, nos fins de semana, por famílias procurando despertar nos filhos o desejo de estudar lá.

O valor dado à formação universitária se reflete também no ótimo desempenho acadêmico dos alunos chineses. A China ocupa sistematicamente o primeiro lugar na Olimpíada Internacional de Matemática. Sempre imaginei que a equipe fosse treinada intensivamente ao longo do ano, como ocorre em vários países. Mas a razão do sucesso é outra. A Universidade de Pequim admite, sem outra exigência, os 60 primeiros colocados da Olimpíada Chinesa de Matemática.

Para garantir um bom resultado nos processos seletivos, vários colégios contratam especialistas para treinar seus alunos. De modo que o desempenho do país na Olimpíada Internacional de Matemática decorre de um esforço descentralizado que não tem a competição por objetivo.

Essa produção de excelentes alunos tem tido vários outros efeitos. Durante meu doutorado na França, no fim dos anos 1980, sempre encontrava o departamento às moscas no fim de semana. Mais tarde, em Nova York, ao deixar meu escritório no sábado ou domingo à noite, passava pelos laboratórios de informática repletos de alunos chineses. E, se há 20 anos quase não se encontravam sobrenomes chineses nos artigos de matemática publicados nas principais revistas da área, hoje eles já respondem por uma importante fração.

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As boas universidades chinesas passaram a pagar salários similares aos das melhores americanas. Se no passado bons alunos chineses formados nos Estados Unidos não retornavam ao país, nos últimos anos o fluxo se inverteu. Pelas mesmas razões, professores chineses de boas universidades americanas e europeias têm aceitado ofertas no país natal. De modo que, se hoje a produção em matemática da China ainda não se compara à do mundo ocidental, não tenho dúvida de que em 20 anos estará à frente.

Leia o artigo na íntegra em O Globo