Na última semana, a Fundação Maurício Grabois realizou um debate sobre o papel da Ciência, Tecnologia e Inovação no desenvolvimento nacional ao longo do governo Lula (PT). O encontro abordou as estratégias para impulsionar o crescimento do país e contou com a presença da ministra de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) Luciana Santos.
O encontro faz parte do ciclo de debates “O Nacional Desenvolvimentismo, o Programa de Reconstrução Nacional e o Governo Lula”, promovido pela Cátedra Cláudio Campos, que busca discutir as alternativas para o Brasil no próximo período. Também participaram do debate, o secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes, do membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, e do professor da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Ramos. A mediação foi feita por Jorge Venâncio, assessor da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
A ministra Luciana Santos realizou a abertura do evento e destacou que é preciso garantir o desenvolvimento da ciência e tecnologia do país, e de lutar pela geração de renda para a garantia da soberania do povo brasileiro.
“É preciso pensar em novas bases tecnológicas para o país, que tem a ver com a perspectiva que nós achamos a mais estruturante forma da retomada da atividade econômica e responder aos anseios do povo. É preciso a retomada de políticas públicas que já foram vitoriosas e que foram exitosas para sanar as necessidades da população brasileira. É preciso avançar nas conquistas, lutar por salário igual para o trabalho igual e garantir a soberania do nosso povo, garantir mais renda, o combate à fome e emprego para o povo brasileiro”, disse.
Luciana também falou sobre o papel da transição energética e da bioeconomia para o desenvolvimento do país. Ainda sobre a importância da questão ambiental, Luciana lembrou que o Brasil irá sediar a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP 30), evento que será realizado em Belém em novembro de 2025.
O ex-presidente da ABC Luiz Davidovich (2016-2022), que é membro estrangeiro da Academia de Ciências dos Estados Unidos, da Academia de Ciências da China e da Academia Europeia de Ciências apontou os principais desafios para que o Brasil experimente uma nova industrialização, em outras bases. Para tanto, analisou alguns “casos” econômicos com sua visão de futuro. Ele mostrou que a pecuária é um ativo fundamental para economia brasileira, e a contrapôs aos imensos investimentos que a China está fazendo na indústria de carne feita em laboratórios, a partir de células animais obtidas dos animais vivos. “No futuro, parece que não vamos mais precisar matar tantos animais para nos alimentar, é uma área que tende a declinar”, apontou.
Outro exemplo que Davidovich deu foi o da soja. A metade da soja que o Brasil vende vai para a China. É o nosso principal comprador. Por isso, o palestrante alertou: é bom atentar para o fato de que a China fez acordos com a Rússia para plantarem soja e, mais recentemente, outro acordo com a Tanzânia, também para plantar soja em suas terras. “O frete fica muito mais barato, é um bom negócio, melhor do que continuar comprando do Brasil, que é longe”, diz Davidovich.
Pensando sempre no futuro do país, Luiz Davidovich listou alguns pontos principais das estratégias a serem implementadas para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Em sua visão, tem que haver uma coordenação, mas sem centralização. “É preciso elencar grandes temas a serem priorizados, como Amazônia e os outros biomas, o incremento do complexo industrial da saúde, as energias renováveis. Há que haver apoio consistente e contínuo aos projetos inovadores, como os institutos nacionais de ciência e tecnologia (INCTs). A modernização das instituições de ensino superior é urgente, a educação deve tender ao interdisciplinar”, destacou.
As políticas econômicas, a seu ver, devem ser compatíveis com as escolhas na ciência, têm que estar afinadas: opção pela economia verde, incentivos à colaboração entre academia e indústria, combate ao rentismo e valorização da produção.
E qual a receita de bolo para se conseguir isso? Davidovich foi rápido e certeiro: a resposta já foi dada na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, que coordenou, em 2010. “Gerou o Livro Azul”, disse ele, ressaltando que o documento está disponível on-line para todos, gratuitamente. Assim como esse livro, ele indicou outro, gratuito também: o Projeto de Ciência para o Brasil, livro produzido pela Academia Brasileira de Ciências em linguagem jornalística, que seria, segundo Davidovich, “excelente para ser distribuído para jovens de ensino médio”. Antevendo o futuro, Davidovich apontou a Amazônia, de cuja biodiversidade só conhecemos 5%, e a Amazônia azul, que são os oceanos costeiros, dos quais conhecemos muito pouco, como grandes temas a serem estudados, entre outros.
“Enfim, é fundamental a atuação conjunta de vários setores do governo, para que haja, efetivamente, uma política nacional para enfrentar a desigualdade e conseguir alcançar um desenvolvimento sustentável. É preciso rever conceitos, abrir a mente, ousar!”
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