A Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) empossou, em 14 de setembro, sua nova diretoria e também recebeu seus novos membros eleitos para 2023. Participaram da cerimônia expoentes da ciência paulista, muitos dos quais também são membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). A presidente da ABC e membra da Aciesp, Helena Bonciani Nader, ministrou uma palestra durante o evento, realizado na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O anfitrião e Acadêmico Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, abriu as celebrações destacando o papel importante que São Paulo tem no fomento à pesquisa. “Essa é uma festa da ciência paulista. São Paulo produz 40% da ciência brasileira. Isso é graças ao financiamento contínuo e previsível, numa política de apoio permanente às universidades e à Fapesp. Esse é o modelo que precisamos para o Brasil”, afirmou.

A Acadêmica Vanderlan Bolzani, que encerrava seu ciclo de dois mandatos à frente da Aciesp, fez um balanço dos últimos anos. “Estou muito feliz. Foi um período de grandes aprendizados e desafios, onde tive o privilégio de dialogar com diferentes pesquisadores de todas as áreas do conhecimento. Foi um trabalho árduo, realizado em equipe, da qual Adriano Andricopulo também fez parte”, disse em referência ao seu sucessor.

“Neste momento em que precisamos rumar para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, nossa missão enquanto cientistas é maior do que nossas pesquisas, é também colaborar com o Estado democrático”, finalizou Bolzani.

Vanderlan Bolzani e Adriano Andricopulo

O também Acadêmico Adriano Andricopulo assumiu a presidência da Aciesp para o triênio 2023 – 2026. Em seu discurso de posse, Andricopulo explicitou algumas das prioridades de seu mandato, entre elas a divulgação científica e o engajamento dos jovens na ciência, anunciando que a entidade logo terá sua própria newsletter. “Aciesp quer se especializar como um centro de pensamento sobre São Paulo. A ciência precisa estar a serviço de políticas públicas, alinhada ao interesse da população e à agenda 2030 das Nações Unidas”, afirmou.

Em seguida, tomaram posse os demais membros da nova Diretoria, dentre os quais estão os seguintes membros da ABC: Marie-Anne Van Sluys, vice-presidente; Norberto Peporine Lopes, diretor-financeiro; Carlos Alfredo Joly, diretor de Ciências Biológicas; Maria de Fatima Andrade, diretora de Ciências da Terra; Paulo Artaxo, diretor de Ciências Físicas; Hernan Chaimovich, diretor de Ciências Químicas; e a própria Vanderlan, que passa a compor o Conselho Diretor como ex-presidente, conforme rege o estatuto da Aciesp. Além deles, compõem a nova Diretoria Josué de Moraes, como diretor-executivo e, como diretores de área, Maria Lucia Carneiro Vieira, nas Ciências Agrárias; Isolda Costa, nas Ciências da Engenharia; Maria de Fatima Andrade, nas Ciências da Terra; Renato Janine Ribeiro, nas Ciências Humanas e Sociais; e Flavio Ulhoa Coelho, nas Ciências Matemáticas.

Helena Nader: Brasil – Ciência por que e para quem

A presidente da ABC e membra da Aciesp, Helena B. Nader, foi convidada para fazer uma apresentação durante a cerimônia de posse. De forma contundente, Helena traçou um panorama realista da história da ciência nacional, ressaltando que a área ainda é muito nova em comparação às demais nações. Enquanto na América espanhola as primeiras universidades surgiram no século XVI, o ensino superior só aparece no Brasil após a chegada da monarquia portuguesa em 1822. “Até então o Brasil não tinha universidades, não tinha museus, não tinha ciência. Temos muito pouco tempo de caminhada”, disse.

Nader reforça que, ao não investir em sua juventude, o país está perdendo uma janela de oportunidade histórica. No país, um quinto dos jovens entre 18 e 24 anos não trabalha e nem estuda. “Ou formamos uma nova geração mais especializada e produtiva ou estaremos condenados ao subdesenvolvimento. É nossa última chance, não existe no mundo um país que enriqueceu depois de envelhecer”, alertou.

Para agravar a situação, o Brasil foi o país cuja produção científica mais caiu no mundo em 2022, de acordo com dados da editora científica Elsevier. Enquanto as demais nações sentiram os efeitos represados da pandemia na forma de estagnação ou leve queda, o Brasil viu sua produção de artigos despencar 7,2% no último ano. “E ainda dizem que o país não precisa de mais doutores… vejam que a comparação com os países desenvolvidos mostra o contrário”, disse.

Queda nas publicações científicas brasileiras acompanhou queda nas titulações em pós-graduação (Gráfico de Odir Dellagostin, presidente da Confap, Fonte de dados: GeoCapes e Scival)

Mas os últimos sinais sobre investimento em ciência não são animadores. O projeto de Lei Orçamentária Anual, enviado pelo governo ao Congresso no dia 31 de agosto, foi recebido com insatisfação pela comunidade científica. “Existia um acordo por pelo menos 60% dos investimentos do FNDCT em recursos não-reembolsáveis, mas ele não foi cumprido”, criticou Nader.

“Na economia do conhecimento, não há produtividade sem uma base cientifica e tecnológica forte, sem pessoal qualificado, sem conhecimento especializado e sem pesquisa. Congelar o orçamento da área significa sentenciar à morte as chances de crescimento da economia brasileira”, finalizou.

Paulo Artaxo: saudação aos novos membros da Aciesp

O climatologista e membro titular da ABC Paulo Artaxo, que continua integrando a Diretoria da Aciesp, saudou os novos membros eleitos, destacando a responsabilidade de representar a ciência paulista na luta por mais investimentos e por políticas públicas baseadas em evidências científicas. Ele listou os desafios socioambientais do Brasil, cujo enfrentamento requer muita pesquisa. “Não temos alternativa factível que não seja alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável, mas para isso precisamos juntar o melhor do conhecimento de economistas, filósofos, sociólogos, biólogos, agrônomos e todas as outras áreas”, disse.

Ele também criticou as últimas  decisões do governo federal relacionadas ao orçamento de pesquisa. “Após o desastre dos últimos quatro anos, ouvimos muito que ‘a ciência voltou’. Mas as últimas notícias nos forçam a perguntar: ‘voltou mesmo?’”.

´Nova diretoria e os novos membros da Aciesp são empossados em auditório lotado na sede da Fapesp (Divulgação: Aciesp)

Assista a cerimônia completa: