Decidir uma carreira não é fácil. A diferença entre os resultados de uma escolha feita por um caminho ou por outro na adolescência chega a ser assustadora. A história do engenheiro florestal Sérgio Henrique Godinho Silva mostra que a descoberta da vocação científica pode vir só no fim da faculdade, estimulada por políticas públicas que a incentive.
Sérgio nasceu em Lavras, MG, em família de comerciantes, tanto pelo lado da mãe como do pai. Apaixonado por futebol desde criança, sempre que podia estava jogando bola com os amigos. No intervalo da escola ou depois das aulas, os jogos foram ficando cada vez mais competitivos e ele chegou a participar de campeonatos interescolares e regionais. Outra paixão que cultivou foi a música – e chegou a ter uma banda pra tocar guitarra nos bares da cidade durante a juventude.
Esses múltiplos interesses apareceram também na hora de escolher uma faculdade. Na dúvida entre odontologia e engenharia, o Acadêmico acabou ingressando em engenharia florestal na Universidade Federal de Lavras (UFLA), ainda com a esperança de ser aprovado em engenharia civil no ano seguinte. Mas essa opção seria logo descartada. “Acabei gostando do curso, dos colegas e do início dos trabalhos em ciência do solo e, assim, segui o curso até o fim”, lembra.
A ciência do solo, ou pedologia, procura entender o solo a partir da complexa interação entre fatores físicos, químicos, biológicos e geológicos que o formaram. Assim como o solo serve de base para a biota e para os ciclos geofísicos, a pedologia dá o suporte necessário para outras ciências, como a agronomia e a climatologia, buscando um retrato mais fiel e completo dos ambientes naturais.
Sérgio foi apresentado à área no seu primeiro semestre de UFLA e logo se interessou. Por sugestão de amigos, procurou iniciação científica no Departamento de Ciência do Solo. Foi quando conheceu seu orientador, o professor Nilton Curi, que logo colocou o jovem para auxiliar nos projetos de mestrandos e doutorandos. “Me interessei tanto pelas pesquisas que assistia a algumas aulas ansioso para voltar logo ao laboratório”.
Ao fim da graduação, Sérgio teve uma oportunidade rara. Através do programa Ciência sem Fronteiras, o Acadêmico foi selecionado para um intercâmbio de seis meses na Universidade de Purdue, nos EUA. A essa altura o Acadêmico já desenvolvia seu próprio projeto, um mapeamento digital da espessura de solos de uma bacia hidrográfica próxima de Lavras. “A experiência me ajudou a definir que realmente queria fazer pesquisa. Até então tinha vontade de me formar e ir para o mercado no setor florestal”, recorda.
A partir daí, tudo aconteceu muito rápido. Godinho seguiu a linha de pesquisa na pós-graduação e, três anos após se formar na UFLA, concluiu seu doutorado e ingressou como professor na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, campus Unaí. Pouco depois, foi aprovado para professor na Universidade Federal de Lavras. Durante esse período, ele se aprofundou em mapeamento de solos, expandindo para outras regiões de Minas Gerais e do Brasil. Além de Nilton Curi, Sérgio foi orientado também por Phillip Owens e Michele Duarte de Menezes, professores que admira e com quem mantêm colaborações até hoje.
“Hoje atuo na caracterização de solos, mapeando classes e atributos que permitem conhecer melhor suas capacidades e limitações, por exemplo, para a agricultura e silvicultura. Através de testes envolvendo dados de campo, sensores e inteligência artificial temos conseguido acelerar e aumentar a quantidade de dados para a caracterização, proporcionando maior embasamento para sua utilização sustentável”, explica.
A quantidade de áreas e técnicas que interagem no estudo dos solos faz com que Godinho esteja sempre em contato com assuntos de outras áreas. Essa interdisciplinaridade é uma tendência da ciência moderna e uma das características que mais atraem o pesquisador. “Há muita novidade surgindo a cada dia, sejam novos dados, novos sensores ou novas técnicas de inteligência artificial. Isso nos motiva a estar em constante atualização”.
Agora na ABC, Sérgio Godinho se diz orgulhoso de trazer o campo da pedologia e a UFLA consigo, destacando a importância de popularizar a ciência entre os mais jovens, visando a formar mais cientistas brasileiros. “Agradeço a todos que contribuíram para que eu tivesse essa oportunidade. Por isso, espero que eu também contribua para que mais pesquisadores tenham oportunidades no futuro”, finaliza.