Toda criança tem a fase dos “porquês”, e em algumas delas essa fase dura pela vida inteira, então as chamamos de cientistas. A biomédica Juliana Reis Machado e Silva era uma dessas crianças. A razão pela qual as pessoas ficavam doentes sempre a intrigou, e quando ia ao médico perguntava pra mãe “ué, mas como é que o médico sabia o que eu tenho?”. 

Nascida em Uberaba, Minas Gerais, Juliana é primogênita de sua geração na família, então conviveu mais com adultos do que com crianças. Ela aproveitava a companhia dos avós, que estavam sempre por perto, e também criava seus próprios amigos imaginários e fantasminhas. “Isso me tornou uma criança lúdica, mas pela minha maior proximidade com adultos, vivenciei pouco essa parte e acabei amadurecendo cedo demais”, conta. 

Juliana amava ir à escola e era o xodó das professoras desde pequena. Por querer saber o porquê de tudo, acabou despertando cedo para as ciências. “Sempre fui muito curiosa e por isso a ciência me encantava, cada descoberta, cada pergunta sem resposta me deixava inquieta”, lembra. 

Essa paixão pela descoberta era acompanhada pelo incentivo, carinho e admiração da mãe, que a impulsionava ter mais disciplina e estudar mais. Juliana também se inspirava no pai, como exemplo de profissional, autodidata e fascinado pela pesquisa na área da geologia. Mas a afinidade de Juliana era mesmo pelas ciências biológicas e da saúde, quando chegou a hora do vestibular, decidiu cursar biomedicina na Universidade de Uberaba (Uniube). Apesar de ser considerada à época o quarto melhor curso de biomedicina do país, a universidade não era muito voltada para pesquisa, mas a experiência na monitoria fez com que Juliana ganhasse gosto pela docência. “Foi quando percebi que a maioria dos professores que admirava eram também pesquisadores”, explica. 

Ainda na graduação, Juliana estagiou por dois anos na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), estudando os processos de biópsia e autópsia. Nesse período, se aprofundou em patologia, área que viria a seguir na pós-graduação. 

Juliana Reis Machado fez mestrado e doutorado em patologia na UFTM, sob orientação de Denise Bertulucci Rocha Rodrigues e Virmondes Rodrigues Júnior. Suas pesquisas envolvem as vias moleculares pelas quais o Trypanosoma cruzi causa a doença de Chagas. “Meu objetivo é identificar mecanismos de defesa do hospedeiro que influenciem direta ou indiretamente o aparecimento das formas mais graves da doença, bem como novos alvos terapêuticos”, explica. 

Após receber o título de doutora em 2013 em patologia, a Acadêmica iniciou seu estágio pós-doutoral em nefropatologia, sob orientação da professora Marlene Antônia dos Reis, intensificando suas pesquisar em doenças renais, que já desenvolvia paralelamente ao seu projeto de mestrado. “Nessa área, avalio marcadores que diferenciem as doenças que causam síndrome nefrótica, ou seja, edema com perda de proteínas na urina. Essas doenças são complicadas de diferenciar, pois têm características clínicas e morfológicas semelhantes, mas o desfecho e evolução são bem distintos”. 

Juliana faz questão de destacar o papel dos orientadores em sua formação. “Esses três pesquisadores, pelos quais tenho um grande carinho, admiração e gratidão, sempre me incentivaram a seguir o caminho da ciência com ética e dedicação”. 

Atualmente, ela lidera o grupo de pesquisa de Imunopatologia das Doenças Infecciosas e Renais da UFTM e também coordena o Centro de Pesquisa em Rim (CePRim/UFTM), ambiente destinado ao ensino, pesquisa, extensão e diagnóstico em biópsias renais.  

Essa capacidade de ajudar as pessoas em momentos tão delicados é o que encanta a Acadêmica. “Todos os dias são descobertas novas doenças, que precisam ser estudadas profundamente para se chegar a um diagnóstico assertivo e uma condução terapêutica que preserve a qualidade de vida do paciente”, destaca. 

A eleição para a ABC ela define como “a materialização de um sonho” e espera que suas pesquisas possam servir para subsidiar políticas públicas e contribuir para o debate acadêmico. “Em especial, quero incentivar as jovens brasileiras a seguirem seus objetivos para fortalecermos a representatividade das mulheres na ciência”, adiciona. 

Mas nem só de ciência vive a cientista. Nas horas vagas, a Acadêmica é apaixonada por artes, e diz ter um gosto eclético tanto pra música quanto para filmes. Também gosta de estar rodeada por amigos e familiares e manter um estilo de vida saudável. “Não sou uma grande amante de atividade física e esportes”, confessa, “mas pratico exercícios físicos regularmente”.