“Todas as coisas nesse universo são baseadas na matéria, então decidi saber mais sobre ela”. É assim que o professor de química orgânica da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) Jamal Rafique Khan responde quando seus alunos lhe perguntam o porquê de ter decidido estudar química. O novo afiliado da ABC é um entusiasta das questões fundamentais da ciência, mas não perde de vistas suas aplicações. Afinal, a contribuição prática da química na síntese de medicamentos tem um valor muito pessoal para ele. 

Jamal Khan nasceu em Mardan, no Paquistão, filho de Begum Asia Rafique e Muhammad Rafique Khan. O pai, Muhammad, é a sua grande inspiração desde criança, e ele busca viver a vida tendo-o sempre como norte. “Viva para ser feliz, sem machucar ou prejudicar ninguém, é o que ele sempre me dizia”, conta. 

Quando Jamal tinha oito anos, o pai foi diagnosticado com diabetes, o que fez a cabeça do filho se inquietar com uma questão sem resposta. “Por que não conhecemos a cura para uma doença tão comum?”, ele indagava. O que Jamal ainda não sabia é que essa pergunta serviria para o guiar para sua área de atuação, a química orgânica. “Se uma cura não existe na natureza, podemos tentar sintetizá-la”, acredita. 

O Acadêmico graduou-se em química e biologia no campus de Mardan da Universidade de Peshawar. Logo no segundo ano de faculdade ele começou a pesquisar na área de química orgânica, na linha de pesquisa que seguiria durante o mestrado na Universidade de Malakand, também vizinha a Mardan. Nessa época, estudava fitoquímica em espécies de caqui-selvagem. Ele iniciou seus estudos de mestrado em 2006, mesmo ano em que perdeu o pai. Apesar do luto, ele continuou trilhando seu caminho na academia, concluindo uma segunda graduação, dessa vez em educação, na Universidade de Peshawar.  

A vida de Jamal se encontraria com o Brasil no doutorado, em 2011, quando ele veio estudar na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob orientação do professor Antonio Luiz Braga. Nesse período, pesquisou um tipo específico de compostos orgânicos contendo organocalcógenos (S, Se, Te), os heterociclos, que possuem grande variedade de aplicações na indústria, na saúde e na sustentabilidade. “Tenho uma gratidão enorme ao professor Braga, a quem devo muito mais do que conhecimento científico. Ele me mostrou como ser uma pessoa melhor, estava sempre ajudando os outros independente de raça, nacionalidade, religião ou estilo de vida”, conta. 

Após titular-se doutor em 2014, o Acadêmico seguiu na UFSC no pós-doutorado. Em 2018 mudou-se para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, após ser contratado como professor visitante estrangeiro no Instituto de Química da UFMS. 

“Hoje, meu foco de pesquisa é a síntese de compostos orgânicos contendo calcogênios – enxofre, selênio, telúrio – com aplicações farmacêutica e tecnológicas. Por exemplo, meu grupo de pesquisa está envolvido na busca por novos medicamentos para o tratamento de câncer e doenças neurodegenerativas. Além disso, também estamos trabalhando na síntese de novos materiais, que podem ter potencial de uso em novas tecnologias, por exemplo, LEDs. Mantendo o fator ambiental sempre em mente, a preparação desses compostos segue rotas ambientalmente sustentáveis”, explica. 

Jamal Rafique Khan recebeu a eleição para a ABC como uma conquista pessoal e coletiva. “É também um reconhecimento à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul pela qualidade do corpo docente e pela formação de recursos humanos diferenciados. É a universidade pública cumprindo seu papel na sociedade”, salienta. 

Nas horas vagas, o Acadêmico se dedica a conhecer novas culturas, seja por viagens, pelo audiovisual ou pela culinária. Outra de suas paixões é a ficção cientifica. “A ciência está nos ajudando a entender mais sobre os mistérios do passado e a sobreviver aos desafios do futuro. O conhecimento atual é limitante ao nosso entendimento. Mas nossa busca por expandi-lo não é limitada a nada”, finaliza.