Um dos maiores desafios da sociedade moderna – e da ciência moderna – é navegar por um mar cada vez mais profundo de dados. Seja qual for a área, ter capacidade computacional para lidar com esse volume gigante de informação é crucial, e cientistas com essa expertise são fundamentais. O bioinformata Anderson Fernandes de Brito une as áreas de informática e biologia em pesquisas de ponta voltada ao sistema de saúde brasileiro. 

A biologia ele conheceu ainda criança. Anderson cresceu em Brasília, Distrito Federal, em uma região próxima do Cerrado. Junto com as outras crianças ele brincava de acampar e podia observar de perto os pequenos animais e plantas do bioma. “Minha mãe, apesar de não ter feito biologia, cresceu no meio rural, então me ensinava muito sobre ecologia, botânica e zoologia. Ela foi uma das grandes influenciadoras do meu interesse por ciência”, conta. 

Enquanto crescia, o interesse pelas ciências naturais dividia espaço com uma habilidade natural para a computação, e Anderson chegou a dar aulas de informática por dois anos antes de entrar na universidade. A interação entre essas duas áreas o acompanharia durante toda a carreira, como viria ainda a descobrir.  

Ao ingressar no curso de ciências biológicas da Universidade de Brasília (UnB), em 2007, Anderson descobriu o gosto pela pesquisa. Logo no segundo período já ingressou na iniciação científica, atuando numa parceria entre a UnB e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Seu início como pesquisador foi de experimentação, passando por áreas como ecologia, fitopatologia, biologia molecular, antes de se estabelecer na virologia. 

“Minha iniciação científica na Embrapa foi fundamental para minha decisão em cursar mestrado em microbiologia na Universidade de São Paulo onde me aprofundei em virologia e genômica”, conta. 

A genômica é uma área da genética que olha para o DNA completo dos organismos, e não apenas para genes. O genoma completo do ser humano, por exemplo, tem cerca de 3 bilhões de pares de bases, e analisar esse volume imenso de informação não é nada trivial. “Por esse motivo, senti necessidade de aprofundar minhas habilidades em programação. Para tal, tive o privilégio de cursar meu doutorado em biologia computacional no Imperial College de Londres, financiado pelo programa Ciência sem Fronteiras. Ali consolidei meus conhecimentos em bioinformática”, explica o Acadêmico. 

Atualmente é pesquisador do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) e antes esteve na Universidade Yale, EUA, onde fez pós-doutorado pesquisando aspectos de emergência, transmissão e evolução de epidemias virais.  

Anderson destaca o caráter multidisciplinar de sua trajetória, tendo estudado temas como ecologia, evolução, biologia molecular e genética, e aplicando o que ia aprendendo em pesquisas voltadas à saúde pública. “Entender como patógenos evoluem é essencial para a tomada de decisões em saúde pública. Os dados que analiso dizem respeito à epidemiologia de doenças causadas por vírus e bactérias. O objetivo das pesquisas é prover informações em tempo oportuno para a detecção, prevenção e controle de surtos e epidemias”. 

Durante a pandemia, o Acadêmico se viu tendo que aplicar todos os conhecimentos acumulados no mais terrível dos cenários. O vírus da covid-19 evoluía aos olhos do mundo, e a cada semana o cenário epidemiológico se agravava. Outro fenômeno cuja rapidez o espantava era o da desinformação. “Me impressiona o quanto as mentiras se disseminavam com rapidez, impondo um enorme desafio à comunidade científica. Precisamos fazer nossa voz ecoar, para combater a pseudociência e as informações falsas, na mesma velocidade e volume com que elas surgem”, alerta. 

Para isso, o cientista passou a focar também em comunicação durante a crise, aceitando os convites que surgiam por parte da mídia para tentar levar informações corretas à sociedade. Hoje, ele guarda essas inserções em seu blog pessoal, como uma forma de não deixar esquecer. Anderson também é muito ativo no Twitter, em seu perfil @andersonfbrito_, mostrando a importância de pesquisadores se inserirem no debate público. 

Mas nem só de ciência – e de divulgação de ciência – deve viver o cientista. Nas horas vagas, Anderson é um entusiasta de danças latino-americanas, performando em estilos como salsa, bachata, zouk, além de paixões nacionais como o forró e o samba de gafieira. Agora na ABC, ele destaca a oportunidade de troca e promete marcar presença no debate e na defesa da ciência nacional.