O gosto pela ciência não precisa de muito para despertar, já que o prazer da descoberta é natural nas crianças. A história de Bruno Janegitz reflete bem isso: o menino humilde, que ajudava os pais no comércio e adorava as aulas de ciência, foi cultivando interesse por natureza e tecnologia através de passatempos curiosos, como ler bulas de remédio.
Nascido no pacato bairro de Vila Nova em Paraguaçu Paulista, quase na divisa com o Paraná, o novo Acadêmico teve a infância tradicional de cidades pequenas. Brincava de esconde-esconde e pega-pega com os amigos e a irmã mais nova, jogava bola e é até hoje fanático pelo Corinthians. O pai era funcionário público do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a mãe dona-de-casa vendia bolos e salgados para complementar a renda.
E foi assim, indo de porta em porta ajudar a mãe nas vendas, que Bruno teve a primeira experiência com o comércio. Quando era adolescente os pais compraram uma padaria e o filho passou a ajudá-los no balcão. “Foram cinco anos de muito trabalho, onde aprendi a valorizar todas as pessoas em meu convívio. Naquele balcão tive o prazer de fazer muitas amizades e aprendi como melhor comprar e vender”, recorda.
Mas a curiosidade nunca o abandonou e foi cada vez mais se interessando em saber como as coisas ao seu redor eram feitas. Durante o terceiro ano do ensino médio e cursinho chegou à conclusão de que queria ser químico, prestando vestibular para faculdades em São Paulo e no Paraná. Após ser aprovado em todos, optou pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a 340 quilômetros de casa.
A mudança para uma nova cidade com 19 anos fez com que Bruno mergulhasse de cabeça no ambiente universitário. Ele descreve a cultura no campus da UFSCar como fortemente científica e isso foi o empurrão que faltava para que ele seguisse a carreira. Incentivado pelo programa de de educação tutorial a procurar um estágio, o Acadêmico conheceu logo no segundo ano de graduação o professor Orlando Fatibello-Filho, de quem seria orientando pelos próximos nove anos.
Na iniciação científica, em que recebia bolsa da Fapesp, Bruno pesquisava e desenvolvia sensores eletroquímicos para detecção de metais tóxicos na água. Em seu trabalho de conclusão de curso, apresentou um método de tratamento para a poluição de afluentes utilizando a quitosana, composto totalmente natural encontrado na carapaça de crustáceos, que não agride o meio ambiente.
Janegitz seguiu na UFSCar na pós-graduação. No mestrado, se aprofundou nos processos de síntese e caracterização de materiais e em química analítica. Já no doutorado, começou a lidar também com biossensores, diversificando suas aplicações também para questões da saúde humana. Nessa época, teve a oportunidade de realizar parte de sua formação na Universidade Complutense de Madri, Espanha, sob orientação do professor José Manuel Pingarrón. “Descobri que a bioanalítica é fascinante e passei a desenvolver sensores e nanomateriais com diferentes aplicações, desde o uso de anticorpos até o sequências de DNA”, relatou.
Atualmente Bruno Janegitz é professor da UFSCar e líder do Laboratório de Sensores, Nanomedicina e Materiais Nanoestruturados (LSNAno) da universidade. A possibilidade de sua ciência ajudar no tratamento de doenças encanta o novo Acadêmico, mas as aplicações não se restringem a medicina. “Hoje desenvolvemos em nosso laboratório tintas condutoras para diversas aplicações, novos filamentos condutores para impressão 3D e sistemas de detecção de doenças diversas como Parkinson, diabetes e covid-19”, contou.
Nas horas vagas, Bruno tem várias maneiras de aproveitar o tempo. Dono de um gosto musical eclético que vai desde o forró até o rock clássico, Bruno gosta também de jogos de videogame com uma boa história. Também adora viajar e acompanhar os jogos do Corinthians. Ele conta que recebeu com surpresa a indicação para a ABC, a qual aceitou com muito prazer. “Espero poder atuar pelo fortalecimento e soberania da ciência nacional, ajudando na divulgação científica e fazendo com que cada vez mais jovens queiram seguir essa carreira tão linda”.