Tornar nossa agricultura mais sustentável é um dos desafios do Brasil para o século XXI, e é para isso que Maurício Cherubin faz pesquisa. Seus trabalhos com saúde do solo e soluções baseadas na natureza fizeram dele um dos cientistas mais influentes do mundo, vencendo o Prêmio Fundação Bunge 2022 – considerado o “Oscar” das ciências agrárias – na categoria até 35 anos. 

A notoriedade vem de suas contribuições para um tema cada vez mais urgente ao planeta: como fazer uma agricultura que seja, ao mesmo tempo, sustentável e produtiva. Em qualquer modelagem sobre a alimentação de um mundo com 10 bilhões de pessoas, o Brasil terá de crescer mais do que a média. Ao mesmo tempo, nossa rica biodiversidade presta serviços naturais indispensáveis para estabilizar o clima do planeta, estando sob constante ameaça do avanço da fronteira agrícola. Conciliar essas duas demandas só é possível com pesquisa e inovação. 

Nascido em uma família de agricultores de Erechim, RS, Cherubin viveu até os 15 anos na pequena propriedade rural dos pais, onde intercalava o tempo entre as plantações e o campo de futebol. Apaixonado pelo Grêmio, Maurício contou que esperava ansioso pelo fim de semana, quando os irmãos mais velhos voltavam para casa e ele tinha companhia para jogar bola. “Meus irmãos são 15 e 8 anos mais velhos do que eu e sempre os tive como um exemplo”, contou. “Ambos se formaram como técnicos em agropecuária, então eu naturalmente segui o exemplo”, disse  

Apesar das boas notas na escola e do incentivo familiar aos estudos, Cherubin não pensava em cursar uma faculdade, preferindo se formar na Escola Agrotécnica Federal de Sertão/RS, para ingressar logo no mercado de trabalho. “Na época, não havia um direcionamento por parte dos professores do ensino médio e técnico de que ‘poderíamos’ fazer uma faculdade”, explicou. Todavia, um colega do curso técnico insistiu para que Maurício prestasse o vestibular em Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), para um campus novo que estava sendo inaugurado na cidade de Frederico Westphalen. E foi assim, no único vestibular que prestou, que Maurício Cherubin ingressou na primeira turma de Agronomia do novo campus, em 2006.  

Sua trajetória é também uma mostra de como as bolsas de graduação e início de carreira são cruciais para formar cientistas de excelência. “Desde muito cedo comecei na pesquisa, e por dois motivos: interesse em ciência e necessidade de bolsa para me manter na universidade”, apontou. Já no segundo semestre conseguiu a primeira bolsa de monitoria e, no terceiro, a primeira bolsa de Iniciação Científica. “Até abril de 2018, quando me tornei professor, nunca mais fiquei sem bolsa. Foram 12 anos ininterruptos onde dependi de bolsas para me manter na carreira”. 

Durante esse período, o novo Acadêmico não perdia oportunidades de complementar sua formação, dentro e fora de sala de aula. Sempre mantendo um desempenho ótimo na grade curricular, ele encontrava tempo para participar de projetos de extensão e grupos de pesquisa, além de atuar no movimento estudantil. Quando estava no terceiro período decidiu aceitou um novo desafio: cursar Administração em um curso à distância da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Além da oportunidade única de estudar na prestigiada UFSC, foi também uma estratégia para otimizar meu tempo, obtendo conhecimento e formação acadêmica na área administrativa, que é extremamente importante, independentemente da profissão que se venha atuar”, conta. 

Mas foi a pesquisa em agronomia que norteou a carreira de Cherubin. Sob orientação do professor Antônio Luis Santi ingressou na temática da agricultura de precisão, área de seu trabalho de conclusão de curso e posteriormente, da dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação (PPG) em Agronomia – Agricultura e Ambiente da UFSM. “Sou muito grato ao professor Santi, que se tornou um amigo pessoal. Ele é um dos maiores pesquisadores e entusiastas da agricultura de precisão no Brasil”. 

No doutorado, decidiu experimentar novos ares e foi para a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba, SP. Cherubin ingressou no PPG em Solos e Nutrição de Plantas, sob orientação do Acadêmico Carlos Clemente Cerri, falecido em 2017, e coorientação de Carlos Eduardo Cerri, hoje seu colega de Esalq. “Foi uma das melhores escolhas de minha vida”, contou. “Tive a oportunidade de conhecer e interagir com pesquisadores do mais alto nível, aprender novas técnicas e análise de dados e crescer muito cientificamente”.  

O foco de seu doutorado foi entender como mudanças no uso da terra para expansão da cana-de-açúcar afetavam a saúde do solo. Para se aprofundar na área, Cherubin conseguiu uma parceria com o pesquisador do Laboratório Nacional de Agricultura e Meio Ambiente do USDA, Douglas Karlen, referência mundial em qualidade de solos. “Acompanhado de minha esposa, Tamires, fui morar por cerca de 1 ano em Ames (Iowa, EUA). Foi um período absolutamente fantástico, pessoal e profissionalmente”, contou. 

Ao retornar ao Brasil, Maurício Cherubin fez pós-doutorado por dois anos até ser aprovado em concurso para professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, em 2018. Desde então, vem se especializando cada vez mais em saúde dos solos, conceito que define como “a capacidade continuada do solo, como um ecossistema vivo, de desempenhar suas múltiplas funções, tais como suporte à produção de alimentos, fibras e biocombustíveis; ciclagem de nutrientes; estocagem de carbono; habitat para a biodiversidade; regulação do fluxo de água; fornecimento de matéria-prima à indústria farmacêutica, cosmética e construção civil; patrimônio e herança cultural.” 

A saúde do solo, de acordo com Cherubin, é a base da agricultura sustentável e regenerativa, bem como deve ser o alicerce para atingir a segurança alimentar e combater as mudanças climáticas. “Então, o alimento do nosso dia a dia, a água potável, o ar que respiramos, a paisagem que observamos e até os antibióticos que temos que usar têm uma conexão direta com o solo”, explicou. “Solo saudável é fundamental para levarmos uma vida saudável”. 

O destaque conquistado recentemente ele faz questão de dividir com seus colegas de departamento e com os estudantes do Grupo de Pesquisa em Saúde e Manejo do Solo (Sohma, da sigla em inglês) da Esalq/USP, que lidera. Como membro afiliado da ABC, Cherubin planeja atuar pela disseminação científica na sociedade, sobretudo nos temas relacionados às ciências agrárias. 

“A educação e a ciência são instrumentos de transformação social. A minha vida foi transformada pela ciência e, por consequência, a vida da minha família e das futuras gerações. Tanto eu como minha esposa somos da primeira geração de nossas famílias a ingressar numa universidade. Agora, temos o privilégio de desfrutar, com nossa filha Agatha, de 1 ano e 3 meses, das belezas do campus da Esalq nos finais de semana. Perceba a mudança de perspectiva sobre educação e ciência que estamos proporcionando à geração de nossa filha e para todas as próximas”, contou, com orgulho. 

Mas nem só de ciência vive o cientista. O trabalho em São Paulo o mantém longe de suas origens gaúchas, mas nas horas vagas sempre encontra um jeito de escapar para os pampas, seja acompanhando o seu querido Grêmio, seja fazendo um tradicional churrasco ou tomando um chimarrão. Na música, prefere o rock ou o pop-rock, guardando os domingos para ouvir músicas tradicionais do Rio Grande do Sul. Curioso sobre história, Cherubin prefere filmes e documentários baseados em fatos reais e, sempre que o trabalho permite, viaja para lugares novos com a família. “Faço coleção de canecas dos lugares por onde passei. Escolher aquela que melhor representa o local visitado é uma tarefa que levo muito a sério!”.