Recentemente, o caso de uma mulher com esquizofrenia severa que acordou de um estado catatônico após 20 anos, nos Estados Unidos, repercutiu e chamou atenção para uma possível causa por trás de uma parte, ainda que pequena, dos casos da doença: um componente autoimune. April Burrell recuperou a consciência aos 47 anos após pesquisadores terem identificado um quadro específico de lúpus na paciente, e terem começado a tratar a condição com imunoterapias.

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Os anticorpos produzidos pela forma do lúpus de April causavam danos apenas ao seu cérebro, o que levou os cientistas a suspeitarem da relação com a psicose. Agora, os pesquisadores mapearam 200 pacientes do Sistema de Saúde Mental do Estado de Nova York com perfis semelhantes e que também poderão se beneficiar do tratamento. É uma perspectiva inédita para uma parcela de casos graves do distúrbio.

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Ainda que abra uma nova porta, Daniel Martins-de-Souza, professor de Bioquímica da Unicamp e coordenador do Laboratório de Neuroproteômica da universidade – que busca desvendar os mecanismos moleculares associados a distúrbios psiquiátricos – reforça que o mecanismo não vai justificar a maioria dos casos de esquizofrenia.

— Sabe-se que existe um papel do sistema imune, mas um desafio na esquizofrenia é que nem todos os pacientes têm o mesmo tipo de disfunção que leva à doença. Podem existir pacientes com um quadro mediado pela disfunção do sistema imune, mas pode existir também que sejam ligados a sistemas metabólicos. Mas estudos como esse de Oxford são bem aceitos porque pode se pensar em tratar no mínimo uma parcela de pacientes — diz.

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Martins-de-Souza, da Unicamp, defende que, para melhorar os tratamentos de forma significativa, é preciso avançar nas outras causas que estão por trás do distúrbio e desenvolver novos medicamentos – já que os antipsicóticos têm a mesma base desde 1950.

— Aqui no laboratório estudamos as células do cérebro que não são neurônios, chamadas células da glia. Inicialmente imaginava-se que elas serviam apenas para grudar os tecidos, mas de um tempo para cá foi se descobrindo mais e mais do papel delas na função cerebral. Nós defendemos uma hipótese de que os neurônios não conversam direito na esquizofrenia porque essas células não estão funcionando direito — explica o pesquisador, que recebeu um prêmio da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia (SIRS) neste ano pelo trabalho.

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