O Ministério da Saúde organizou em Brasília a 17ª Conferência Nacional de Saúde para debater as prioridades e o futuro do Sistema Único de Saúde (SUS). O encontro também marcou posição em defesa da ministra da Saúde, Nísia Trindade, que vem sofrendo pressão de setores do Congresso. Durante toda a conferência, a ministra, que também é membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), foi ovacionada pelos presentes e recebeu o apoio de parlamentares da base governista.

Em cerimônia nesta quarta-feira, 5 de julho, a Acadêmica Nísia Trindade enfatizou a importância deliberativa da 17ª CNS. “A agenda construída aqui é a agenda central do SUS”, frisou. A ministra também pregou respeito aos poderes Legislativo e Judiciário. Em seguida foi a vez do presidente da República discursar, quando garantiu a permanência da ministra no cargo.

Acadêmica Nísia Trindade discursou, em 5 de julho, no encerramento da 17ª CNS (Foto: Augusto Coelho / CNS)

Os primeiros 180 dias do Ministério da Saúde

Os primeiros seis meses do novo governo foram de muita reconstrução no Ministério da Saúde. O novo mandato começou em meio a uma grave crise sanitária nas Terras Indígenas Yanomami, em Roraima. O descaso da administração pública nos últimos quatro anos permitiu uma invasão em massa de garimpeiros que interferiu gravemente no estilo de vida dos povos tradicionais. No período, 538 crianças até cinco anos morreram em uma população menor de 40 mil habitantes, e a palavra “genocídio” chegou a ser utilizada para definir a situação.

Em uma de suas primeiras iniciativas na pasta, a ministra criou o Centro de Operação Emergencial Yanomami, que mobilizou mais de 700 profissionais para a região e realizou mais de 15 mil atendimentos. Junto com outras ações do Executivo voltadas à expulsão dos invasores, a crise vem sendo enfrentada, mas ainda é motivo de preocupação.

Outra prioridade estipulada pela gestão foi a de retomar os níveis de vacinação brasileiros, que sofreram uma brusca queda após os ataques negacionistas feitos pelo mais alto escalão governamental durante a pandemia. Doenças antes erradicadas, como varíola e poliomielite voltaram a preocupar as autoridades de saúde. Muito mais do que uma campanha, o Movimento Nacional pela Vacinação deverá se estender por mais tempo e envolver toda a sociedade civil para estimular que os brasileiros fiquem em dia com a caderneta de vacinação. Desde que foi lançado em fevereiro, mais de 22 milhões de brasileiros já tomaram a vacina bivalente contra as principais variantes do Sars-Cov-2.

Outro grave problema durante a pandemia foi a falta de aparelhos, medicamentos e ingredientes farmacêuticos ativos que, no caso das vacinas, expôs o país a uma verdadeira corrida por importações. Desde seu discurso inaugural, Nísia frisou que o país deveria almejar produzir 70% dos insumos e remédios utilizados no SUS. Para isso, foi recriado o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Geceis), um esforço interministerial liderado pela ministra, que articula as ações do governo nesse sentido.

Além dessas prioridades, o ministério também trouxe de volta o programa Mais Médicos, anunciou uma política nacional para redução de filas de cirurgias no SUS e o fortalecimento do programa Farmácia Popular. A continuidade de uma gestão altamente técnica e com respaldo unânime entre a comunidade científica é fundamental para reconstruir a saúde brasileira.


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