Assim como os genes são passados através das gerações, o interesse e o talento pela pesquisa científica parecem que também podem ser passados de pai para filha. A nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências Adriana Bastos Carvalho sempre teve no pai um modelo de cientista dentro de casa. Antonio Carlos Campos de Carvalho é Acadêmico, pesquisador e professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho. Mesmo assim, a escolha pela carreira científica nem sempre esteve clara para Adriana.
Quando entrou no concorrido curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), em 2002, a nova Acadêmica esperava trilhar o caminho da clínica, planejando fazer residência médica assim que formada. “Dizia que não queria ser médica de rato”, contou, brincando. Mas no quinto ano de faculdade decidiu entrar no programa de doutorado em pesquisa médica concomitante com a graduação e defendeu sua tese sobre o uso de células tronco mesenquimais para tratamento de lesões no fígado.
Embora já fizesse iniciação científica desde o início da faculdade, Adriana relatou que só consolidou a ideia de ser pesquisadora quando foi aprovada no concurso para professora no Instituto de Biofísica da UFRJ. Antes disso, ela já havia feito pós-doutorado na UFRJ, bem como na universidade de Harvard, mas ainda considerava seguir a clínica médica. “A carreira científica não foi algo muito planejado. Foi acontecendo”, contou a Acadêmica.
A biofísica é uma área altamente interdisciplinar, que se utiliza das teorias e métodos da física para responder a questões biológicas. Um exemplo clássico é o bombeamento de sangue feito pelo coração. “Acho o coração um órgão fascinante, cuja fisiologia envolve diversos princípios físicos. A genômica, com aplicação clínica cada vez maior, permite uma ponte muito interessante entre a área básica e a área clínica”, explica a nova afiliada.
Atualmente, Adriana Carvalho é professora associada da UFRJ e coordena a Rede Nacional de Genômica Cardiovascular, um projeto que quer entender como funcionam as doenças cardíacas hereditárias e levar os testes genéticos em cardiologia para o Sistema Único de Saúde (SUS). Além de oferecer de forma gratuita o sequenciamento de DNA para pacientes com problemas cardíacos, a rede também divulga suas principais descobertas e divulga ciência no Instagram pela página @renomica.brasil.
Essa mescla entre o prazer da descoberta e a produção de conhecimento aplicado para necessidades urgentes é, aliás, uma das belezas da pesquisa médica. “O que mais me encanta é que todos os dias temos novas ideias, projetos e desafios, nenhum dia é igual ao outro. É um ambiente muito estimulante e dinâmico”.
Nas horas vagas, Adriana curte a família e dedica-se a cuidar dos dois filhos pequenos. Adora atividades ao ar livre, como passear no parque ou pegar uma piscina, mas também arranja muitas outras formas de aproveitar o tempo em casa, lendo histórias e aguçando a imaginação das crianças. “Somos bem caseiros”, comentou.
Agora na ABC, ela destaca a honra que é ser eleita afiliada: “Quero estar aqui para fortalecer a ciência brasileira!”.