Instituto Angelim — ONG sediada em São Carlos — lança o livro e o documentário Mulheres na Ciência em São Carlos: reflexões, trajetórias e histórias, no dia 11 de fevereiro, data em que é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O lançamento acontecerá no Teatro Municipal Alderico Vieira Perdigão, em São Carlos, a partir das 19 horas. Para participar do evento, que é aberto ao público, basta se inscrever gratuitamente neste link.

“Decidimos iniciar o projeto com o levantamento de todas as pesquisadoras que se encontravam no caráter sênior, pesquisadoras aposentadas, mas que continuavam atuando em suas áreas temáticas e mais do que isso, que tivessem premiações e publicações internacionais e pesquisas relevantes que fazem parte do cotidiano da sociedade. Os bancos de dados do CNPq e CAPES nos levaram a essas mulheres, em áreas diferentes do conhecimento e formação”, explica Mirlene Simões, idealizadora e organizadora do livro e do documentário.

A professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP em São Carlos, Maria Aparecida Soares Ruas, carinhosamente conhecida como Cidinha, é uma das seis cientistas homenageadas no livro e no documentário Mulheres na Ciência em São Carlos: reflexões, trajetórias e histórias.

Professora do ICMC desde 1981, Cidinha nunca teve dúvidas sobre o que queria ser quando crescesse: a matemática sempre foi uma das suas principais motivações para a vida. “Sempre quis ser professora, gosto de ensinar e já dava aula particular de matemática desde os meus 12 anos para alunos do ensino fundamental. A interação com os estudantes é o que mais gosto, sejam eles da graduação, pós-graduação ou até mesmo aqueles que já se formaram e ainda entram em contato. Aprendo com eles todo dia”, revela.

Cidinha chegou ao ICMC em fevereiro de 1971 para fazer o mestrado, logo depois de concluir a Licenciatura em Matemática, em 1970, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), em Araraquara. Sob orientação do professor Gilberto Francisco Loibel, obteve o título de mestre em 1974.

Depois do mestrado, Cidinha concluiu o doutorado em 1983, sob orientação de Luiz Antonio Favaro, que, por sua vez, tinha sido o primeiro aluno de doutorado de Loibel – pioneiro na teoria das singularidades, o professor deu grande contribuição para a consolidação da pesquisa em matemática no Brasil.

Junto do trabalho como pesquisadora e do amor à sala de aula, Cidinha assumiu diversos cargos de direção no Instituto: foi chefe do Departamento de Matemática, presidente da Comissão de Pós-graduação por duas vezes, presidente da Comissão de Pesquisa e da Comissão de Biblioteca, além de vice-diretora na gestão do professor Paulo Masiero.

Estrelas

Esse telescópio vai mostrar as celebridades científicas principalmente para meninas e mulheres que possam se inspirar nessas vidas brilhantes. De acordo com o Instituto Angelim, livro e vídeo têm edição, arte e recursos audiovisuais que transitam pelo universo do estudante do ensino médio. Foram desenvolvidos majoritariamente por mulheres, buscando dar visibilidade às cientistas e estimular a participação e formação da cultura da mulher na ciência. “São Carlos, denominada oficialmente como Capital da Ciência e Tecnologia, pouco reconhece publicamente as mulheres cientistas e pesquisadoras na cidade, pouco tem como memória e produção sobre suas trajetórias e trabalhos. Esse desconhecimento impacta diretamente o significado social dessas mulheres, o incentivo dado às jovens pesquisadoras, em início de carreira, e o desenvolvimento educativo de meninas e adolescentes no âmbito escolar”, afirmam os organizadores.

Além do capítulo dedicado à trajetória da professora Cidinha, intitulado O mundo não teria graça sem as singularidades, são homenageadas outras seis cientistas de São Carlos, em diversas áreas do conhecimento: Cibele Saliba Rizek (ciências sociais); Lúcia Cavalcante de Albuquerque Willians (psicologia); Maria Aparecida de Moraes Silva (ciências sociais); Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (ciências humanas – educação) e Yvonne Primerano Mascarenhas (físico-química).

Um relatório da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, publicado em 2018, sobre “Mulheres na Ciência”, aponta que no Brasil entre 45,1% e 55% dos pesquisadores são mulheres e que entre as publicações científicas brasileiras as mulheres estão em 49% como “primeira autoria”, isso entre 2011 e 2015.

O livro e o videodocumentário exploram os percursos e jornadas de mulheres que foram pioneiras em suas áreas para inspirar muitas gerações. Para tanto, o projeto foi aprovado no Programa de Ação Cultura – ProAC, mecanismo do governo paulista de incentivo fiscal para projetos culturais. Os livros serão distribuídos em escolas da rede pública de São Carlos, acompanhados de rodas de conversas com estudantes. Outra parceria foi com a Fundação Pró Memória de São Carlos, com a impressão de exemplares do livro que serão entregues em escolas e instituições e para personalidades que são agentes multiplicadores em frentes diversas da sociedade.

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Também faz parte do corpo docente da USP a professora Yvonne Primerano Mascarenhas, que foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira no Departamento de Física da Escola de Engenharia da USP de São Carlos em 1956 e uma das fundadoras do Instituto de Química e Física da USP de São Carlos. Grande oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, aos 91 anos ainda é bastante ativa em seus projetos e pesquisas. No mês de dezembro, em entrevista para a Revista Fapesp, Yvonne afirmou que “continuamos educando nossas meninas como se elas fossem ser mães e cuidadoras e com aversão às áreas de exatas, isso tem que mudar”. E complementou: “A mudança até hoje tem sido lenta, mas com uma derivada positiva, o que me dá a esperança de que progredirão e que a igualdade de gênero será alcançada num futuro não muito distante”.