Confira a entrevista da vice-presidente da ABC para a região Minas Gerais & Centro-Oeste, Mercedes Bustamante para o jornal Poder 360, publicada em 18/8/22. Na reportagem, a Acadêmica fala sobre as mudanças necessárias para alavancar o poder da bioeconomia do país.

A biodiversidade brasileira é um dos maiores patrimônios do país, e integrar essa riqueza natural ao processo de desenvolvimento, promovendo a conservação e a utilização sustentável, representa um grande desafio. Com 15% a 20% da diversidade biológica do planeta, segundo dados do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o Brasil está no topo da lista das nações megadiversas –aquelas que abrigam a maior parte das espécies de seres vivos do mundo. O tema é o 4º da série de reportagens “Estratégia da indústria para uma economia de baixo carbono”. 

Tanto potencial desponta como uma oportunidade de negócios e pode ajudar a acelerar o desenvolvimento principalmente por meio do manejo sustentável das florestas e da bioeconomia, que estuda os recursos biológicos aliados à utilização de novas tecnologias com propósito de criar produtos e serviços inovadores. Esses caminhos podem ajudar o país a estancar o processo de desindustrialização pelo qual vem passando, alavancando o setor industrial. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que 9.600 empresas fecharam as portas em 10 anos.

A professora titular de Ecologia da UnB (Universidade de Brasília) e membro da ABC (Academia Brasileira de Ciências), Mercedes Bustamante, afirma que a biodiversidade pode ser uma fonte de sustentação da economia, com ampliação da carteira de produtos de base biológica, como bioquímicos, cosméticos, fibras, bioplásticos, bioinsumos agrícolas, entre outros. Para ela, esse poderia ser, realmente, o ponto de virada da indústria.

“Temos uma enormidade de espécies que tem potencial de uso nas indústrias alimentar, química, farmacêutica, cosmecêutica etc. O país tem uma enorme oportunidade para redesenhar sua economia com base nessa grande diversidade de produtos e trazer a indústria junto para superar o processo de desindustrialização que estamos vivendo”, disse.

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Além da base de políticas públicas, a professora Mercedes Bustamante avalia ser necessária uma alteração de entendimento do valor florestal. “É muito importante que tenhamos uma mudança, uma virada de chave de entender o que está acima, porque hoje usamos da floresta basicamente o solo. Estamos perdendo todo o recurso que está contido na biodiversidade, é um uso muito pobre do potencial todo que temos.”

O poder da bioeconomia

Para a conservação florestal e melhor aproveitamento dos recursos biológicos, é primordial estimular a bioeconomia no país. Entre os principais pilares desse campo está a biotecnologia, que pode acrescentar à economia brasileira US$ 53 bilhões por ano em 2 décadas, segundo o estudo “A contribuição da biotecnologia industrial ao desenvolvimento brasileiro”, da ABBI (Associação Brasileira de Bioinovação), de 2016. Nesse processo, seriam criados 217 mil novos postos de trabalho qualificados ao longo da cadeia e a arrecadação anual de impostos chegaria a US$ 9,5 bilhões.

A biotecnologia se refere a qualquer atividade tecnológica que use sistemas biológicos para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica, como o processamento de biomassa para o desenvolvimento de substâncias de alto valor agregado.

Tudo, no entanto, só seria possível a partir de um investimento de US$ 132 bilhões na indústria nesses 20 anos, como destaca a publicação da ABBI. Mercedes Bustamante salienta que, com uma vasta proporção de território cultivável e uma enorme fonte de obtenção de matérias-primas para a indústria, é preciso que o país avance no empreendimento em inovação e na ciência para que esse potencial seja revertido em tecnologia vendável para além dos insumos.

“Ficamos reféns de um conjunto muito limitado de produtos que são exportados sem a agregação de valor. É necessário ter uma economia cuja base seja o conhecimento e não apenas uma exploração de commodities agrícolas, produtos primários. Esse investimento na ‘economia do conhecimento’ permitirá que o Brasil crie soluções industriais, principalmente para uma boa parte do mundo que ainda está em desenvolvimento. É um mercado que vai se abrir ao longo do tempo e que o país pode vir a liderar se tiver uma perspectiva de criar os seus próprios modelos”, disse.

A professora também aponta que falta fortalecer a ponte entre a academia e o setor produtivo. “Outro passo que precisamos dar é a criação de mecanismos que facilitem a interação entre as empresas e as universidades. Hoje, boa parte das pesquisas é financiada pelo poder público, mas precisamos de caminhos que facilitem essa relação entre as empresas e as universidades para fazer acontecer, para avançar na bioeconomia”, afirmou.

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