Leia trechos de artigo do Acadêmico Virgilio Almeida e Francisco Gaetani, publicado no caderno Valor Econômico em 16 de agosto:

 

A pandemia trouxe várias lições, como a valorização da saúde pública, a importância da criação de redes de proteção social e a inevitabilidade dos ambientes digitais. É hora de incluirmos o interesse público no desenho do futuro digital do Brasil. Interesse público é uma expressão estigmatizada, com múltiplos significados. O que pode ser do interesse de todos? Muitas coisas, como segurança, educação, saúde, cultura, crescimento econômico, meio ambiente, lazer e várias outras dimensões da vida profissional e social. A disputa entre o interesse particular e o interesse público é uma tensão permanente da vida em sociedade. A democracia, com as imperfeições que a caracterizam, é uma forma de equacionar as tensões pelo voto, com a possibilidade de autocorreção com eleições periódicas e livres.

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O Brasil encontra-se na posição 51 do “ranking’’ global de competitividade digital de 2021, enquanto o vizinho Chile está na posição 39 e a Índia, com uma população de mais de 1,3 bilhão de pessoas, encontra-se na posição 46. Talvez seja a hora de se pensar em uma abordagem diferente, por outros pontos de entrada, a partir da busca de dinâmicas desequilibradoras, que permitam ao país irromper em alguns dos novos territórios digitais emergentes. A seguir são expostas seis propostas para transformação digital, que vão na direção do interesse público. O princípio norteador é o da inclusão. São proposições assimétricas, disruptivas e autocontidas. Diferenciam-se da forma como temos tratado estes temas ao longo do tempo. A ideia é buscarmos um jeito novo de desenharmos o futuro digital do país. Incertezas pedem criatividade e ousadia.

A primeira proposta orienta-se para a introdução das variáveis emprego e juventude nas políticas públicas de automação digital. Como tem mostrado Daron Acemoglu, economista do MIT, o avanço dos robôs e máquinas autônomas no chão de fábrica e software de inteligência artificial nos escritórios requer trabalhadores com novas habilidades, cujo desenvolvimento precisa ser apoiado, via crédito, isenções fiscais, incentivos a P&D, etc. A ideia é acoplar à concessão de incentivos governamentais à absorção de jovens e à requalificação de adultos com vistas a seu reaproveitamento no mundo digital. Políticas fiscais adequadas à automação digital poderiam, por exemplo, valorizar tecnologias mais amigáveis ao homem e a introdução de processos inovadores, ao invés de apoiar automações que levam apenas a substituição do elemento humano.

A segunda proposta é direcionar um conjunto de esforços relacionados à transformação digital para avançar na direção de um dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, contemplando um pequeno combo de prioridades como raça e gênero. Trata-se de uma dívida histórica de gerações. A pauta identitária precisa de uma concretude que vai muito além da “advocacy’’. Trata-se de uma dívida histórica de gerações. Sem aceleração a reversão do cenário de discriminação é imperdoavelmente lenta.

A terceira proposta mira o enfrentamento das múltiplas desigualdades embrenhadas nas estruturas do país. Isto inclui desigualdades regionais, sociais e geracionais. Amazônia e o Nordeste precisam de um tratamento diferenciado para estabelecerem uma dinâmica distinta em relação à trajetória atual. Jovens carentes precisam de uma aceleração especializada no âmbito de suas trajetórias de inserção profissional. Não se combate a desigualdade espontaneamente, em especial em um contexto em que foi naturalizada.

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Leia o artigo completo no Valor Econômico.