A Parceria InterAcademias (IAP), da qual a Academia Brasileira de Ciências (ABC) faz parte, publicou na última segunda-feira, 11 de outubro, a declaração “Mudanças Climáticas e Biodiversidade: Integração e opções para políticas públicas”.

Mudanças climáticas e perda de biodiversidade são dois grandes desafios da atualidade. O documento reforça a necessidade de medidas que tratem de ambas questões de forma conjunta, dialogando com as conferências das Nações Unidas sobre biodiversidade (COP15) e mudanças climáticas (COP26), a serem realizadas no final deste ano.

A Acadêmica Mercedes Bustamante

A ABC esteve representada na elaboração do documento pela Acadêmica Mercedes Bustamante, que falou sobre a importância da publicação. “A declaração conjunta das Academias destaca as fortes interdependências entre as ações para combater a mudança climática e o declínio da biodiversidade. A ciência tem um papel central na articulação de políticas que promovam essa sinergia e reduzam os riscos contidos em ambos esses desafios”, explicou.

A declaração é dividida em duas seções. A primeira destaca como as mudanças climáticas contribuem para perda de biodiversidade e como esta última pode ser utilizada na mitigação da primeira, com as chamadas Nature-based Solutions (NbS) – ações sustentáveis de uso dos recursos naturais que abordem as problemáticas socio-ambientais.

A segunda seção reforça a necessidade de melhor integrar políticas que enfrentem esses dois desafios, tanto em nível nacional quanto internacional. Algumas das orientações para essas ações são as seguintes:

  • Criar um sistema de produção de alimentos sustentável, reduzindo o estresse sobre ecossistemas natuais, o desperdício de comida e aumentando a equidade na distribuição.
  • Reduzir a taxa de degradação ambiental, protegendo e mesmo expandindo ecossistemas ameaçados e promovendo mais interconectividade entre esses ambientes, o que diminui a perda de biodiversidade.
  • Levar em conta os impactos sobre biodiversidade na expansão das matizes energéticas renováveis.
  • Respeitar e proteger as culturas e modos de vida das populações nativas.

A declaração também alerta para medidas de mitigação das mudanças climáticas que desconsiderem as perdas em biodiversidade. De acordo com Bustamante, “as Academias destacam as sinergias que favorecem as soluções para as duas crises e também gerem redução de desigualdades sociais, mas também apontam os riscos de certas medidas que podem ser antagônicas.”

Essts medidas vão desde reflorestamento com monoculturas ao uso de cultivares energeticamente insustentáveis. Bustamante trouxe um exemplo de práticas que ocorrem no Brasil e devem ser desencorajadas. “Plantar árvores como estratégia de sequestrar carbono em ecossistemas que naturalmente não possuem árvores, como campos naturais, pode impactar a biodiversidade e o funcionamento desses ecossistemas”.

Leia a declaração completa da IAP, em inglês.