Fernando Fonseca de Almeida e Val nasceu em Manaus, no estado do Amazonas, no ano de 1985. Dividiu sua infância entre Manaus e Vancouver, no Canadá, onde viveu com o irmão mais novo e os pais, ambos biólogos, fazendo pós-doutorado. Lá permaneceram por dois anos e meio e Fernando tem recordações de uma infância alegre, cercada de brincadeiras e experiências.
Seu interesse pela ciência foi naturalmente despertado pelos pais. Fernando sempre gostou de ciências e depois de biologia na escola e tinha muito interesse em saber como as coisas aconteciam no corpo humano. Sua tendência natural foi seguir para a área da saúde e optou pela fisioterapia, tendo escolhido a Universidade de São Paulo.
Para Fernando, fazer a graduação em um estado diferente de onde foi criado e de onde seus pais moravam foi um processo desafiador. “Foi minha primeira experiência de morar sozinho, bastante enriquecedora do ponto de vista acadêmico e pessoal”, avaliou o Acadêmico.
Entrou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP já decidido a ser cientista. Na graduação, fez quatro anos de iniciação científica. Val graduou-se em 2010 e, a seguir, dedicou um ano à prática clínica e pesquisa na área de reabilitação cardiovascular junto ao Laboratório de Fisiologia do Exercício da Divisão de Cardiologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Ele retornou então à sua cidade natal para o doutoramento. Nesse período, Fernando Val morou com os pais, o que possibilitou dedicação total à obtenção do título de doutor em doenças tropicais e infecciosas pelo Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas, em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em 2017.
Fernando Val avalia que seu processo de doutoramento foi bastante interessante, pois foi em uma área não convencional com relação à sua formação de fisioterapeuta. “A área de doenças infecciosas não me chamava a atenção na graduação; porém, se tornou apaixonante no doutorado. Sigo nessa área até hoje e tento mesclar a fisioterapia com a medicina tropical”, relatou.
Val trabalha como fisioterapeuta (SES-AM) desde 2017, com pacientes acometidos por doenças infectocontagiosas internados na UTI da Unidade Hospitalar da FMT-HVD. É também membro colaborador do Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema (IPCCB) atuando em projetos de pesquisa com cooperação nacional e internacional. Atua como membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical realizado em parceria pela FMT-HVD e a UEA, e também no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua, ainda, como coordenador de ensaios clínicos na área de medicina tropical, no IPCCB, em cooperação com instituições e empresas nacionais e internacionais desde 2012.
O desafio de compreender fatos novos e gerar novas evidências acerca de algum assunto é do que Fernando Val gosta na ciência. Atualmente, ele está focado em entender como é o comportamento das pessoas no período pós-doenças infectocontagiosas, especialmente no contexto amazônico, com seus desafios únicos.
Na área de pesquisa em medicina tropical, Val se dedica especialmente à malária, envenenamento por animais peçonhentos, HIV/AIDS e COVID-19. “Muito do que se pesquisa nestas áreas recaem sobre a fase aguda da doença, mas pouco se pensa no pós-doença – o que é errado. A carga de doença depois da fase aguda é igualmente importante, uma vez que é determinante para o retorno do indivíduo às suas funções sociais. Logo, a interface com a fisioterapia não é óbvia. É quase como criar um campo de atuação”, explicou o cientista.
Quanto ao título de membro afiliado da ABC, Fernando Val avalia que é um reconhecimento aos esforços realizados até o momento na carreira. “Esse reconhecimento ajuda a confirmar que estou no caminho certo. Além disso, é uma honra fazer parte de um grupo seleto de pessoas que admiro bastante”, completou.
Fernando Val é consciente de que sua história é cercada de privilégios. “É muito importante reconhecer o fato de que tudo isso só foi possível pelo ambiente que meus pais me proporcionaram nessa caminhada. Estudei em escolas particulares durante a infância; morei no exterior, o que me deu habilidade com o inglês; não precisei estudar e trabalhar ao mesmo tempo; tanto minha mãe quanto meu pai são cientistas. Tudo isso me trouxe até aqui e contribuiu muito para o que sou hoje. Essa não é uma conquista minha, apenas. É deles também”, ressalta. E destaca que, infelizmente, essa não é a realidade de muitos, principalmente no Brasil. “A ciência vale a pena. Estimular pessoas e garantir condições dignas para que possam escolher esse caminho desde cedo é dever de todos. Só assim conseguiremos alavancar o Brasil novamente no cenário de ciência e tecnologia.”, defende o Acadêmico.