Leia matéria do Correio Braziliense, publicada em 25/7, com a Acadêmica Mercedes Bustamante:

A agonia do Cerrado tem causa e efeito. Mas, para além das altas taxas de desmatamento e dos grandes passivos ambientais, há também um certo desconhecimento em relação a esse bioma importantíssimo. O Correio perguntou a uma das maiores autoridades em ecologia de ecossistemas do país, a professora da UnB Mercedes Bustamante, por que a conservação do Cerrado, que está mais desmatado do que a Amazônia em relação a sua área original, não ganha relevância.

A razão está no desconhecimento. “O Cerrado está em 11 estados brasileiros e contribui com recursos hídricos para outros biomas e regiões. Ainda assim, não é devidamente conhecido e reconhecido. É preciso divulgar sua relevância e a urgência das ações para sua conservação”, avalia Mercedes.

Para a professora do departamento de Ecologia da UnB, que este ano foi eleita para a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, as pesquisas indicam que os brasileiros se preocupam com o meio ambiente, e é necessário indicar claramente como podemos atuar para implementar ações sustentáveis e demandar do setor privado e do poder público ações responsáveis.

Nesta entrevista, a professora desmistifica a falsa ideia de que é impossível conjugar o avanço na economia com a proteção ao meio ambiente. Segundo ela, relatórios importantes e documentos elaborados por especialistas apontam claramente que o colapso da biodiversidade e dos ecossistemas traz grandes perdas econômicas, sobretudo para os países menos desenvolvidos e em desenvolvimento. Ou seja, as economias não funcionam sem os benefícios da natureza. E os grandes eventos climáticos estão aí para provar o quanto a falta de preservação impacta os negócios e a riqueza dos países. “É falsa a dicotomia entre economia e ecologia. As economias mais importantes do mundo, sobretudo nos processos de retomada pós-covid-19, têm incorporado a conservação em seus planos de desenvolvimento”, explica Mercedes.

Uma das pesquisadoras mais citadas no mundo, segundo o site Web of Science, sendo referenciada em trabalhos de 6.389 cientistas de mais de 60 países, a professora entende que as autoridades do governo federal seguem na ignorância, negam a ciência e, ainda por cima, deixarão um legado de atraso. “O desmonte conduzido pela atual gestão federal gera impactos sobre os sistemas naturais que poderão demorar décadas para serem mitigados. Alguns são irreversíveis”, avalia Mercedes.

E isso é péssimo para a imagem do Brasil lá fora. “O mundo, hoje, olha o Brasil com grande preocupação em função dos retrocessos na agenda ambiental e como eles minam o combate às mudanças ambientais globais”, destaca.

A solução passa pelas urnas. Mercedes acredita que as eleições de 2022 serão um momento importante de reflexão dos eleitores brasileiros sobre o impacto que as escolhas do presente terão sobre o nosso futuro. “Os eleitores devem estar atentos ao que andam votando nossos representantes no Congresso e avaliar quem realmente está preocupado em proteger o nosso patrimônio natural e os povos indígenas e comunidades tradicionais que são guardiões dos biomas brasileiros”, sugere.

Leia a entrevista na íntegra, aberta, no Correio Braziliense.