Adriana Neumann de Oliveira nasceu em 1980, na cidade de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul. Teve uma infância calma, da qual tem boas recordações. Conta que sempre morou na mesma casa e que a família foi muito presente na sua infância. “Eu gostava muito de ler, desenhar, brincar com jogos de raciocínio lógico, andar de bicicleta e inventar brincadeiras. Para cada uma dessas atividades eu tenho a recordação da participação da minha mãe, do meu pai, dos meus avós ou da minha tia.”
Sua mãe era dona de casa e o pai era caminhoneiro. Tiveram mais dois filhos depois de Adriana, ambos meninos. Os avós maternos sempre a incentivaram muito para os estudos, o que refletiu em seu interesse nos projetos e atividades extraclasse em que tinha oportunidade de participar no Colégio Sinodal Alfredo Simon, um espaço muito acolhedor, segundo Adriana. Mas é claro que ela tinha as matérias preferidas, que eram matemática, ciências e artes, sendo que a matemática era a que fluía de modo mais natural para ela.
Durante um período, ainda na infância, Adriana sonhava em ser cientista. Inspirada pelos filmes que assistia, improvisou um “laboratório” em casa e passava horas brincando de ser cientista. Mas quando passou para o ensino médio, numa escola que tinha ensino técnico, percebeu que não gostaria de trabalhar num laboratório e seguiu por outros caminhos. Mas o sonho de ser cientista se manteve vivo dentro dela.
A escolha pela matemática se deu no cursinho pré-vestibular. Adriana conta que lá percebeu que aquela matemática tão natural para ela era um tormento para a maioria das pessoas. “Então decidi que faria licenciatura em matemática para tentar ajudar a diminuir esta aversão que as pessoas têm pela área”, relatou.
E o sonho de ser cientista despertou novamente no início do curso, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), quando Adriana descobriu, através da professora Lioudmila Bourchtein, que a matemática é uma ciência que contribui muito para o desenvolvimento de todas as áreas do conhecimento humano. “Entendi ali que seria perfeito para mim poder ser cientista trabalhando com matemática”, conta Adriana Neumann.
Logo no primeiro semestre da faculdade, Adriana foi chamada para uma bolsa de iniciação científica. Ela ficou encantada com as maravilhas que estava descobrindo sobre a matemática, mas achava que não seria capaz de conseguir fazer pesquisa nesta área. “Foram os professores Lioudmila Bourchtein e Andrei Bourchtein, que me incentivaram a realizar meu sonho de ser cientista.”
No mestrado, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), seu orientador, o Acadêmico Artur Lopes ajudou a ampliar seus horizontes e encontrar uma direção para a sua carreira, numa área de pesquisa bastante importante e atual dentro da matemática.
Adriana foi então fazer o doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro. Lá foi orientada pelo Acadêmico Claudio Landim, que conduziu de forma muito adequada o seu doutorado, possibilitando que ela se tornasse independente e capaz de conduzir a sua carreira.
Com toda essa orientação de alto nível e destacando também a importância para ela da rede de amigos que fez ao longo de todo seu percurso universitário, Adriana Neumann destaca, sobretudo, o mais significativo: seu marido, Alexandre Feijó, que esteve junto com ela em cada momento desta trajetória.
Professora associada da UFRGS, Adriana Neumann trabalha com Sistemas de Partículas Interagentes, que possibilitam estudar matematicamente o comportamento de gases ou líquidos em movimento. “Sistemas de Partículas Interagentes são modelos probabilísticos usados para descrever o comportamento coletivo das partículas de determinados fluidos. Esses modelos levam em conta características físicas do sistema que está sendo estudado. Por exemplo, se estamos estudando um material poroso, isso significará que há regiões onde as partículas ficarão impossibilitadas de passarem e outras onde elas terão mais chance de moverem-se. E com essa descrição microscópica do sistema é possível obter o comportamento macroscópico do mesmo. Desta forma, podemos responder perguntas de hidrodinâmica”, explica a pesquisadora. “Por exemplo, podemos entender como será o comportamento de um gás ou de um líquido em movimento ao longo do tempo em um ambiente que possui uma barreira permeável. Podemos descrever como essa barreira afetará a densidade do fluido estudado. Outro tipo de pergunta que podemos responder é o que acontece se conectamos dois reservatórios com densidades diferentes de um mesmo gás. É possível descrever como a densidade desse gás varia com o passar do tempo”, relatou Neumann.
Ela destaca que seu encanto pela ciência se dá porque as descobertas, além de magníficas e belas por si só, têm a capacidade de melhorar a qualidade de vida de todos os seres vivos deste planeta. “A matemática, em particular, é uma ciência muito bonita, mas ela torna-se extraordinária quando conseguimos fazer com que as suas descobertas sejam úteis para resolvermos problemas concretos”, aponta Neumann.
Além da ciência, Adriana Neumann gosta de estar em contato com a natureza, viajar, andar de bicicleta, assistir filmes e ler bons livros. Mais ainda, ela gosta de brincar e estar com sua filha Anna Carolina, uma linda e criativa menina de seis anos. Ela esteve em licença maternidade em 2015 e em 2016 recebeu o Prêmio Para Mulheres na Ciência, L’Oréal-Unesco-ABC.
Como membra afiliada da ABC, Neumann diz que pretende intensificar as atividades de divulgação de pesquisa, de promoção da inclusão das mulheres e meninas na ciência e de acolhimento de pais e mães no mundo acadêmico. “Sou muito questionada sobre como é conciliar maternidade e carreira, eu sempre respondo que esse é um desafio diário, pois não é nada fácil atender às demandas dessas duas atividades tão intensas. Apesar das muitas dificuldades, eu acredito que é por causa da minha filha que continuo fazendo ciência. Quero um mundo melhor para ela, então, como eu acredito que é através da ciência que podemos melhorar o mundo em que vivemos, eu sigo tentando dar a minha parcela de contribuição no desenvolvimento do conhecimento humano.”