“Tenho certeza que meus alunos são muito melhores do que eu. Se eu não tivesse essa certeza, seria um fracassado.” Assim costumava falar o físico Sergio Mascarenhas, a quem os colegas, amigos e admiradores sempre chamaram de “Professor”, que faleceu nesta segunda-feira (31), em Ribeirão Preto (SP), aos 93 anos.

O criador da Embrapa Instrumentação transcendeu as fronteiras e formou uma rede de relacionamentos no meio científico internacional ajudando a formar estudantes e jovens cientistas, entre os quais, os também fundadores do Centro de Pesquisa em São Carlos, Silvio Crestana (presidente da Embrapa entre 2005 e 2009) e Paulo Cruvinel (chefe-geral da Embrapa Instrumentação entre 1997 e 2001).

Todos os chefes desde a fundação, em 1984, da Embrapa Instrumentação: João Naime, Álvaro Macedo, Paulo Cruvinel, Silvio Crestana, Sérgio Mascarenhas, Ladislau Martin Neto e Luiz Mattoso – Foto: Renan Alcântara

 

O caminho do desenvolvimento

A história desse legado para o futuro da cidade que hoje é reconhecida como “Capital da Tecnologia” começou na década de 50, quando Mascarenhas deixou o Rio de Janeiro, com a esposa Yvonne Primerano Mascarenhas. Depois de ser graduado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1951) e em Física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1952), mudou para o interior paulista para nuclear o campus da USP. [editado] Lá fundou e dirigiu o Instituto de Física e Química de São Carlos – USP; participou da fundação da Universidade Federal de São Carlos; recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior ao longo de sua carreira.

O amor pela ciência

“A vida é longa para você cometer muitos erros e curta para corrigí-los!”, disse, ao ser homenageado quando completou 90 anos, em 2018. Nessa ocasião, um dos fundadores e ex-presidente da Embrapa, Eliseu Alves declarou a respeito de seu amigo: “o Sergio é um exemplo de um homem dedicado à Física, à juventude, ao mostrar que inovar e construir coisas diferentes é algo da alma do cientista. Sua contribuição para uma geração de pesquisadores que aplicam a Física à agricultura produziu resultados que estão ajudando a Embrapa”.

O legado de Sergio Mascarenhas também foi destacado pelo chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João Naime: “seu espírito jovem, de gênio criativo e promotor do entusiasmo científico de inúmeras gerações, sempre estará intensamente presente em cada um dos membros da grande família que ele criou na Embrapa Instrumentação. Nossas homenagens e eterno agradecimento a esse grande brasileiro que contribuiu muito para várias áreas do conhecimento, em especial a física, a medicina e a agropecuária.”

Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, “Sergio Mascarenhas foi um visionário, ao propor, na década de 80, junto com Eliseu Alves, a criação de uma unidade voltada à aplicação dos conhecimentos da física e das engenharias ao setor agropecuário, algo que hoje pode parecer até óbvio, mas que fez muita diferença. Ele sempre foi um defensor da ciência, que o conhecimento deveria gerar valor e impactar a vida das pessoas. Sem dúvida, um grande brasileiro que deixa um exemplo e um legado para várias gerações!”