Leia a matéria de Alexandre Barros para a Agência de Notícias do IBGE, publicada em 30 de abril:
O novo presidente do IBGE, [o Acadêmico] Eduardo Rios Neto, tomou posse no cargo e disse nesta sexta-feira (30), em entrevista coletiva online para jornalistas, que o projeto do Censo Demográfico está pronto e o Instituto está preparado para realizá-lo este ano, mas que depende da liberação dos recursos orçamentários. Também destacou que a evolução da cobertura da vacinação contra a Covid-19 será um importante parâmetro para o início da operação em todo o país. Ele não descartou a possibilidade de o Censo ficar para 2022, dado que o cronograma original de preparação já sofreu adiamentos em etapas que não puderam ser concluídas sem a definição da verba esperada.
“Estamos preparados tecnicamente para a realização do Censo neste ano. Há um clamor social para que ele ocorra. Precisamos, contudo, aguardar se o orçamento de R$ 2 bilhões será recomposto, seja por via judicial ou pelo Congresso, para que todo o planejamento da operação censitária seja executado”, explicou Rios Neto.
Na última quarta-feira (28), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, determinou, em decisão liminar, a realização do Censo. Isso ocorreu depois que o Orçamento foi sancionado pelo governo com corte de mais de 90% dos recursos. O orçamento de R$ 2 bilhões foi reduzido para R$ 53 milhões, o que inviabiliza a operação. A decisão individual do ministro será avaliada pelo plenário do Supremo.
Rios Neto destacou, contudo, que, independente da recomposição do orçamento, já não será possível começar a coleta dos dados em 1º de agosto, como previa o cronograma inicial do Censo. “No atual momento, isso significa contemplar o adiamento do início da coleta para setembro ou outubro, em decisão a ser tomada oportunamente pela Comissão de Planejamento e Organização Geral dos Censos (CPO)”, afirmou.
Processos seletivos continuam suspensos até definição orçamentária
Os processos seletivos para contratação temporária de 204 mil recenseadores e agentes censitários continuam suspensos, aguardando uma definição sobre o orçamento. Como esses profissionais visitarão mais de 70 milhões de domicílios, em todos os municípios do país, as condições sanitárias são importantes para o início da coleta dos dados.
“Foi solicitado ao governo a inclusão dos recenseadores e agentes censitários em algum grupo especial para a vacinação. Mas, independente da vacinação, esses profissionais farão uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e serão treinados com um protocolo de abordagem que segue parâmetros internacionais”, disse o presidente.
Presidente não descarta realizar o Censo em 2022
Embora não haja consenso, e alguns defendam o adiamento do Censo para 2022 por razões sanitárias, Eduardo disse acreditar na viabilidade da operação em 2021. Ele ressaltou que todos os membros da Comissão Consultiva do Censo Demográfico se manifestaram favoráveis à realização do Censo neste ano, assim como um número expressivo de ex-presidentes do IBGE. O novo presidente não descarta, contudo, que ele seja feito em 2022.
“Nesse segundo cenário, seria necessário um aporte de recursos maior do que o que já está na Lei Orçamentária desse ano, a fim de garantir a economicidade e a tecnicidade das atividades de planejamento. O que me preocupa é a continuidade do processo censitário. Cabe, também, avaliar a conveniência de se alterar a data de início da coleta para o primeiro semestre de 2022. Em suma, estou pronto para liderar o processo, mesmo diante destas incertezas”, afirmou Rios Neto.
O presidente do IBGE acrescentou: “A mim, como presidente do IBGE, caberá lutar pela realização do Censo e manter a periodicidade e qualidade dos demais produtos gerados pela instituição. Envidarei todos os esforços cooperativos junto ao Poder Executivo, na Junta de Execução Orçamentária, e, também, junto ao Congresso Nacional, a fim de viabilizar essa operação”.
Aperfeiçoado nos últimos anos, projeto do Censo está baseado em três pilares
Eduardo mencionou, ainda, na entrevista, que o projeto do Censo Demográfico foi aperfeiçoado nos últimos anos e está calcado em três pilares. O primeiro é o modelo misto e concomitante de coleta em três modalidades: a tradicional entrevista face a face, a entrevista telefônica e o autopreenchimento via internet.
O segundo pilar é o foco na saúde e na segurança, tanto dos recenseadores e servidores do IBGE, quanto da população recenseada, com protocolos sanitários que levam em conta as melhores práticas nacionais e internacionais. Já o terceiro pilar, é um modelo de treinamento que combina as modalidades a distância e presencial.
Além disso, a operação censitária contará com mecanismos modernos de acompanhamento, com dois projetos que visam contribuir para a melhor cobertura e qualidade da operação censitária: um de indicadores demográficos, monitorados diariamente durante a fase de enumeração, e o projeto GradePop, destinado a estimar a densidade domiciliar nos setores censitários durante as fases de pré-coleta, coleta e pós-enumeração.
Novo presidente já atuava como diretor de Pesquisas desde 2019
Nomeado na última terça-feira (27), Eduardo Rios Neto já atuava no IBGE como diretor de Pesquisas desde maio de 2019. Ele assumiu o posto no lugar de Susana Cordeiro Guerra, que pediu exoneração do cargo no fim de março.
Formado em economia, o novo presidente do IBGE possui doutorado em demografia pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, e pós-doutorado pela Universidade do Texas-Austin, ambas nos Estados Unidos. É professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Rios Neto também é membro da Academia Brasileira de Ciências na área de ciências sociais.