Leia o artigo da Coalizão Ciência e Sociedade, coletivo de professores e pesquisadores de diversas instituições brasileiras que conta com diversos membros da ABC como integrantes, publicado em Direto da Ciência, em 12/7:
“A indignação com o avanço do desmatamento e da degradação florestal na Amazônia alimentados pela política aniquiladora do ministro Ricardo Salles que, sob as bênçãos do Palácio do Planalto, tolera e até incentiva crimes ambientais e violações de direitos humanos de povos indígenas e populações tradicionais, chegou a grupos de investidores internacionais e a uma parte do empresariado brasileiro.
Na tentativa de sinalizar a representantes de fundos internacionais de investimento uma alegada preocupação com a pauta ambiental na Amazônia, foi organizada uma videoconferência coordenada pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Participaram da reunião virtual, além do vice-presidente, os ministros da Casa Civil, das Relações Exteriores, da Agricultura, das Comunicações e do Meio Ambiente. Também estiveram presentes os presidentes do Banco Central e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Com tantos representantes, chama atenção a ausência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Embora o MCTI faça parte do Conselho da Amazônia, o que menos se ouve nas posições do governo diante da crise ambiental é a voz da ciência.
Cabe lembrar que o MCTI tem, entre suas unidades de pesquisa, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que monitora a Amazônia com reconhecida competência. Talvez, se a ciência do monitoramento por satélite tivesse sido consultada, o vice-presidente Mourão teria evitado declaração incorreta e tão constrangedora:
“Só no ano que vem, quando vai passar o satélite de novo, vamos poder comprovar que nossos esforços para reduzir o desmatamento na Amazônia surtiram efeito. Até lá, é conversa de bêbado: eles dizendo umas coisas e nós argumentando outras.”
(“Mourão sobre negociações com europeus: ‘até ano que vem, é conversa de bêbado’”, coluna Lauro Jardim, O Globo).
O MCTI conta ainda com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centenário Museu Paraense Emílio Goeldi, duas das mais importantes instituições de pesquisa sediadas na Amazônia. Talvez, se a ciência gerada no Inpa e no Museu Goeldi sobre os ecossistemas amazônicos tivesse sido consultada, o ministro Fábio Faria, das Comunicações, teria evitado declaração imprecisa e ainda mais constrangedora:
“Hoje nós mostramos um mapa [na reunião com investidores estrangeiros], que ficou muito claro para eles, né? Onde estava preservado… o tamanho, a dimensão que é toda a Amazônia, o que representa pro Brasil… Nós temos hoje, se você for chegar em Manaus e pousar, e se você quiser pedir um avião. ‘Ah, eu quero aqui ver Mata Atlântica’, você fica ali três horas sem parar vendo Mata Atlântica atrás de Mata Atlântica. Mas também se você quiser fazer o que muitos jornalistas fazem no exterior, alguns artistas, “Ah, eu quero ver aqui queimadas”, também tem. Ele vai mostrar ali a região onde tem algumas queimadas que, no total da Amazônia 87%. Nós tínhamos 87% de Mata Atlântica e 13 de queimadas”.
Uma declaração que confunde dois biomas distintos e em regiões distintas do continente.