Leia o artigo enviado à ABC pelo Acadêmico Anderson S. L. Gomes, professor titular de física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ex- 2010, atuou como secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco (2010) e ex-secretário de Educação de Pernambuco (2011-2012):

Desde o início do atual governo, a gestão da pasta da Educação no Brasil – leia-se Ministério da Educação, MEC – não acerta. Falta um gestor qualificado! A escolha, desde o início, não tem sido por um gestor com perfil educacional. Como agora, 18 meses depois do início deste catastrófico governo, as discussões para indicação do quarto ministro a ser nomeado, são entre alas ideológicas e militares. Conforme destacado pelo Instituto Educatores, entidade formada por ex-secretários de Educação de todo o Brasil, em carta encaminhada à presidência da República, “o País precisa de um gestor à altura desse cargo, que tenha compromisso, experiência, conheça o setor educacional público e o privado, a Educação Básica obrigatória, a Educação Superior e a pós-graduação; que conheça os desafios, as deficiências, os potenciais e os caminhos para a educação de qualidade”.  E continua: “que consiga interagir com estados e municípios; que tenha capacidade de priorizar a essência da educação: o ensino-aprendizagem; e que possa indicar seus assessores com base na meritocracia”. O Consed, Conselho Nacional de Secretários de Educação, destacou em nota que “espera que o nome a ser escolhido para o MEC seja de bom diálogo e com capacidade de gestão, apto a conduzir a Educação Brasileira de forma sintonizada com os anseios da sociedade”. E conclui dizendo que “não há mais espaço para erros nem experimentos”. 

É inacreditável como este governo tem uma forma de olhar totalmente enviesada para a educação (e a ciência) no país. Desde a campanha presidencial, nenhum plano ou programa para a educação no país foi apresentado pelos que estão no Palácio do Planalto. O resultado desta experimentação totalmente inadequada de colocar pessoas despreparadas não será sentido de imediato, mas sim nos próximos anos. Apesar de que, mesmo no curto prazo, decisões importantes como realizar ou não (e como, quando) o Enem, está sem solução. O Fundeb uma das maiores ações de fomento à educação básica no Brasil não tem um interlocutor adequado para dialogar com a Câmara Federal, onde o assunto está sendo tratado para uma definição ainda este ano. Com a pandemia, que escancarou as desigualdades existentes no Brasil em várias áreas, e muito fortemente na educação, a falta de coordenação do governo central deixa estudantes de cursos de graduação das instituições públicas de ensino superior e do ensino básico público sem aulas adequadas. E para os que tem aulas remotas, os professores, em sua maioria, não foram e nem estão sendo devidamente preparados. Mas vale ressaltar o esforço que os professores fazem, país afora.

O Brasil tem pessoas altamente qualificadas, com o perfil adequado e com disposição para trabalhar pela educação do país. Mas a decisão de escolher este gestor é prerrogativa do Presidente da República, e o que se tentou até agora, infelizmente para os milhares de estudantes e profissionais da educação não deu certo, e lá se foram 18 meses! A pessoa que vier a ser o próximo Ministro da Educação não será o salvador da educação brasileira, mas é alguém que pode, com qualificação, condições de trabalho, equipe adequada, e o apoio da comunidade de educadores deste país, ajudar fortemente e reverter este retrocesso na educação brasileira. Do contrário, o país vai perder muito mais, pois é com base na educação que se forma e forja as pessoas que vão cuidar da saúde, economia, cultura, artes, ciência, inovação e do futuro do Brasil.